Como especialista em investimento acionista que é, Vanessa Sinclair, da GAM, deixa claro que, na sua perspetiva, “quando estamos a falar de investimento, se não o fazemos de forma sustentável, estamos a ignorar muito do valor de uma empresa para lá do médio-prazo”. “Temos que investir de forma sustentável, ou não estaremos a fazê-lo bem”, exclama.
Para a profissional, o papel de supervisores e cuidadores do capital dos clientes faz com que a gestão tenha que ser feita com cuidado e diligência e isso “faz com que tenhamos que pensar onde vão estar as empresas daqui a 30 anos”.
Para a especialista, o foco no carbono, pelo caráter medível e pelo impacto óbvio que tem no mundo e na sociedade é um caminho que faz sentido. “É uma questão transversal a todos os mercados”. No entanto, alerta, o grande problema na gestão do carbono são os mercados emergentes. “Estes países têm um problema e não são parte da solução. Temos que ajudá-los a transitar. Ser um agente ativo e participativo nesse processo. E acredito que os fundos de investimento e a gestão de ativos estão na linha da frente nesse campo”.
Mas o caminho não se faz sem obstáculos. Primeiramente, a profissional destaca o foco da gestão e análise nas emissões diretas das empresas (nível 1 e 2). “As emissões de nível 3, as indiretamente ligadas ao negócio da empresa, seja a montante ou a jusante, podem ser múltiplas vezes maiores e mais relevantes do que as de nível 1 e 2”, alerta.
Por outro lado, mas relacionado com este primeiro desafio, Vanesa Sinclair aponta a divulgação de informação. “Há muito poucos países, especialmente no universo emergente, que regulam a divulgação de dados relacionados com emissões. E mesmo quando as empresas divulgam, não há a garantia de que nos estejam a dar a informação correta”, diz. Por fim, a profissional aponta o caráter retrospetivo dos ratings disponíveis. “Os ratings não nos dão qualquer indicação sobre o futuro. Não são um indicador de performance futura”, alerta.
A solução? Engagement. “Acreditamos, verdadeiramente, que a única forma de fazermos o nosso trabalho bem é pelo envolvimento com as empresas. Consome muito tempo, mas é a única forma de ultrapassar o obstáculo da falta de qualidade ou quantidade de informação”, explica.
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