Os gestores posicionam-se para o boom: adotam posições longas em ações, commodities e ativos cíclicos

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Créditos: Markus Spiske (Unsplash)

O otimismo continua a reinar. Tanto nos mercados como nas previsões macroeconómicas. Isto fica claro na pesquisa Fund Manager Survey de abril do Bank Of America. Os gestores inquiridos estão a posicionar as suas carteiras para o boom: adotaram posições longas em ações, commodities e ativos cíclicos em geral. De tal modo que, pela primeira vez desde maio de 2018, a banca é o setor onde os investidores estão mais sobreponderados. 

Assim, continua o consenso na aposta nos cíclicos.  Em relação aos níveis históricos, o inquérito mensal mostra uma tendência elevada para matérias-primas, bancos, materiais, ações, industriais e consumo discricionário. Por outro lado, o nível em liquidez, consumo básico, obrigações, utilities e tecnologias está bem abaixo da média histórica. 

Mas aqui há que fazer um aparte. Porque precisamente em abril houve uma pausa na rotação. Se analisarmos a evolução da carteira em relação ao mês passado, os investidores voltaram aos setores defensivos de tecnologia, saúde ou telecomunicações. Em sentido contrário, venderam posições em mercados emergentes, commodities e energia. 

Pausa na rotação a cíclicos?

Como tal, não é uma mudança de tendência. Em vez disso, vemos um posicionamento barbell. Ou seja, a combinação de setores como tecnologia com setores cíclicos. Na verdade, 53% ainda pensa que o value terá um melhor desempenho que o growth este ano. Enquanto que as saídas de matérias-primas e emergentes têm sido modestas. Notoriamente, o nível de cash também aumentou ligeiramente. De 4% para 4,1% este mês. Isto apaga o indicador de venda que marca o FMS Cash Rule do BofA. 

Talvez onde se poderia destacar uma mudança de sentimento fosse nas commodities. E nos ativos relacionados. Este mês, o S&P500 ultrapassou os mercados emergentes como o ativo com melhor desempenho este ano. O inquérito demonstra que a convicção do mercado de ações norte-americano subiu, enquanto a dos emergentes caiu ligeiramente. Algo muito relacionado com o apetite pelas commodities. A alocação sobreponderada para matérias-primas atingiu o pico no mês anterior e está agora a diminuir

Mas é uma mudança de testemunho. As perspetivas dos gestores continuam a ser boas. Pelo décimo mês consecutivo, aumentou o número de profissionais que preveem uma recuperação em V para a economia mundial. Um em cada dois entrevistados defende isso. Apenas 37% veem uma recuperação em U ou W. As esperanças também permanecem com o período de resultados. 85% espera que os lucros globais melhorem nos próximos 12 meses. Muito perto de máximos históricos. Na verdade, a percentagem de gestores com sobreponderação em ações continua a crescer. 

Isto apesar das recentes subidas. Na verdade, apenas 7% dos investidores acredita que estamos numa bolha no mercado americano. Concordam cada vez mais que vamos ver um mercado em máximos mais adiante. Acontece o contrário para a bitcoin. 74% concorda que há uma clara bolha nesta criptomoeda. 

Alguém falou em COVID-19? Os novos riscos de mercado

A mudar também estão os riscos para os gestores. Apenas um ano depois desde de a COVID-19 ter sido declarada como uma pandemia, já está a desaparecer dos pesadelos do mercado. Portanto, o grande risco que os gestores citam agora é um taper tantrum no mercado obrigacionista. E é seguido de perto pelo medo da inflação. Curiosamente, também destacaram os impostos mais altos como um risco. 

Os gestores acompanham de muito perto a inflação e o consequente impacto sobre as obrigações. Segue em máximos o número de gestores que veem uma inflação mais elevada nos próximos 12 meses. É quase unânime. O número de gestores que veem um período de maior crescimento aliado a uma inflação mais alta também está a crescer. Seria uma mudança de rumo face a um cenário de crescimento sem inflação como é o que estamos a viver. 

Há uma questão chave a observar: entre 1,5% e 2% no Tesouro dos EUA a 10 anos. Quase um em cada dois gestores acredita que chegar a esses 2% provocaria uma queda de 10% nas bolsas. Mas qualquer correção nas obrigações terá o seu limite. O consenso é que, se atingíssemos 2,3% a 10 anos, seria um sinal de compra.