Os motivos pelos quais sai afetada a alocação de ativos do investidor europeu

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caitlinninja_23, Flickr, Creative Commons

A alocação de ativos é um dos aspetos mais individuais do investimento. Dependendo de quem gere o património e dos seus objetivos, determinada classe de ativos pode merecer mais preponderância em carteira, em detrimento de outras. Contudo, não são apenas os fatores internos e afetos ao investidor que influenciam a composição da carteira: também a componente externa é de grande importância na hora de escolher o peso de cada classe de ativos no portefólio.

Nos últimos anos a Europa assistiu a uma crescente evolução do valor líquido administrado pela gestão coletiva de ativos. A CMVM relata no seu Relatório sobre os Mercados de Valores Mobiliários de 2019 que entre 2011 e 2017 este montante quase duplicou, passando de cerca de 8 biliões de euros para quase 16 biliões em apenas 6 anos. Com a entrada de mais património na gestão coletiva, intensificam-se também as decisões de alocação e as variações na procura de fundos das várias classes de ativos.

Os fundos de obrigações foram o segmento que registou o aumento mais significativo, especialmente em 2019. Segundo a CMVM, este fenómeno “estará associado a expetativas de manutenção das baixas taxas de juro por um período prolongado de tempo, em resultado da desaceleração da economia mundial e da continuação de uma política monetária acomodatícia”. Ou seja, este movimento enquadra-se na tendência de search for yield generalizado que levou investidores institucionais, “como companhias de seguros e fundos de pensões, a procurar alternativas mais atrativas de investimento”, onde se inclui dívida privada, de mercados emergentes ou obrigações do segmento especulativo (high yield).

Por outro lado, nos fundos de ações, apesar dos resgates terem sido superiores às subscrições de unidades de participação nos primeiros três trimestres do ano, no último trimestre de 2019 tal não aconteceu. No relatório concluem que esta evolução “não pode ser dissociada dos receios de as tensões comerciais USA-China e a influência do protecionismo nas perspetivas de crescimento económico global terem um impacto negativo nos mercados”.

Um sétimo da administração passiva é europeia

Temos assistido nos últimos anos à expansão das decisões de alocação para lá das tradicionais classes de ativos. Para além de ponderarem instrumentos de maior ou menor risco, os investidores ponderam agora também o trade-off entre gestão ativa e passiva – de tal forma que esta última começa a ganhar cada vez mais expressão.

Ao nível global, o valor sob gestão de ETF cresceu 34% em 2019, com os EUA a representar aproximadamente 70% deste segmento e a Europa (nomeadamente a Irlanda e o Luxemburgo) 16%”, pode ler-se no relatório do regulador. Ao longo de todo o ano passado, as subscrições destes fundos de investimento negociados em bolsa de valores foram superiores aos resgates, motivo esse que contribuiu para o aumento do valor sob gestão total. Apesar da preferência por produtos de gestão passiva americanos, o Velho Continente detém uma posição muito significativa na comercialização destes instrumentos, dado que “em ETF de ações são cerca de sete em cada dez euros sob administração na Europa”.

ESMA não esquece proteção do investidor

O facto de uma grande porção das transações de fundos ser executada além-fronteiras traz benefícios como o alargamento do mercado e da oferta, mas também levanta questões relacionadas com a proteção do investidor. Este trata-se de um dos pontos do plano de ação da ESMA, assim como o acompanhamento das negociações e impactos do Brexit e ainda o aprofundamento da convergência regulatória ao nível das diretivas UCITS e AIFMD e do regulamento (UE) relativo aos fundos do mercado monetário.

Nesse sentido, o Comité Permanente sobre Gestão de Ativos da ESMA, presidido pela própria CMVM desde fevereiro de 2019, publicou orientações finais sobre testes de esforço para os fundos do mercado monetário e relativos à liquidez em fundos de investimento e fundos de investimento alternativos, assim como os deveres de reporte de fundos do mercado monetário, entre outros.