Os quatro catalisadores que levam a Franklin Templeton a procurar o value fora dos Estados Unidos

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Stewf, Flickr, Creative Commons

O reaparecimento do segmento value nos mercados de ações teve origem no difícil arranque de 2016. Durante o ano passado, o valor não só recuperou dos seus mínimos de 2015, como também bateu o recorde do segmento growth pela maior margem verificada numa década. Faz agora doze meses que Normam Boersma (diretor de investimentos em ações), Cindy Sweeting (diretora de gestão de carteiras), Heather Arnold (diretora de análise e gestora) e Tucker Scott (gestor e analista), se reuniram na Franklin Templeton Investments para debater este assunto. Os especialistas voltaram a reunir-se para identificar as novas oportunidades de investimento, e chegaram à conclusão de que estas se encontram fora dos Estados Unidos.

Entre as razões dadas para justificar esta afirmação está a constatação de que as ações não norte-americanas com uma inclinação value estão subvalorizadas, apesar de terem batido em rentabilidades as ações norte-americanas. A isto junta-se “a forte relação histórica entre o value e as ações não norte-americanas”; nas últimas duas décadas, cada vez que as ações não norte-americanas bateram as norte-americanas, terá sido pela recuperação do value.

“Há várias explicações possíveis para esta relação. Estas incluem uma presença tipicamente mais alta de setores cíclicos em mercados fora dos Estados Unidos e um nível geralmente mais elevado de alavancagem operacional nestes mercados, atribuída a custos fixos mais altos e menos flexibilidade laboral. Adicionalmente, acreditamos que o recente desconto aplicado às ações não norte-americanas com uma maior perceção de risco, cria uma margem maior para a revalorização”, detalha a equipa liderada por Normam Boersma. 

Estado das avaliações

Apesar da mudança ocorrida no último ano, a rentabilidade superior que se verificou nas ações norte-americanas face a outras partes do mundo ao longo deste último ciclo económico tem sido histórica: “A nossa experiência sugere que as ações norte-americanas geralmente parecem caras e oferecem perspetivas de retorno limitadas a longo prazo, relativamente aos níveis atuais quando comparadas com a sua própria história a longo prazo”.

Os especialistas oferecem vários dados. Por exemplo, o PER ajustado ciclicamente nos Estados Unidos encontra-se atualmente em 25 vezes. Este nível implica um retorno total a dez anos, incluindo dividendos e inflação em torno dos 5% anualizados. Por outro lado, os mercados europeus e emergentes têm estado a cotar recentemente com um PER que implica retornos reais anualizados acima dos 10% para os próximos dez anos.

“Como sempre, quando os ciclos de mercado amadurecem, o valor de longo prazo aparece com frequência entre os títulos que menos agradam e que são mais subestimados. Por conseguinte, pretendemos procurar fora dos Estados Unidos as oportunidades com um potencial mais forte”, diz a equipa da Franklin Templeton Investments. A gestora identificou quatro grandes catalisadores que podem desencadear um rally superior do value fora do país.

# 1 Crescimento Convergente

Os especialistas constatam que “o ciclo económico norte-americano parece vulnerável, à medida que se dissolve a euforia pós-eleitoral pela reflação”. Relembram que a recuperação atual – classificada como a terceira mais longa desde que há registos – terá sido, mesmo assim, a mais fraca desde a II Guerra Mundial, ao registar uma taxa anual de crescimento de 2% durante oito anos, que os especialistas creem que poderá descarrilar, “à luz das altas expectativas” depositadas na atuação da nova administração.

Contrariamente, “o crescimento europeu acelerou, ainda que as expectativas continuem a ser pessimistas”; dito isto, o crescimento do PIB europeu coincidiu ou ultrapassou o PIB norte-americano em cinco dos últimos seis trimestres.

# 2 Melhoria nos fundamentais das empresas

“Pensamos que a melhoria da economia global poderá ajudar a melhorar os fundamentais das empresas fora dos Estados Unidos”, declara a gestora. Indicam que se espera que o crescimento de lucros das entidades presentes no Índice MSCI All Country World ex US supere o do Índice S&P 500 nos próximos doze meses.

Esta eventual recuperação parte de uma base baixa, dado que a proporção de lucros corporativos globais atribuídos a empresas não norte-americanas está em 43%, um mínimo de treze anos. “Estas condições normalmente não são eternas e já existem alguns sinais de que as condições de lucros relativos se estão a normalizar”, explicam os especialistas.

# 3 Divergência monetária

Nove anos depois da quebra da Lehman Brothers, pode constatar-se o êxito da rápida e agressiva reação dos Estados Unidos para reduzir o impacto da crise. Agora, a preocupação é por um excesso de inflação e pela dificuldade para romper com os anos de política monetária extremamente acomodatícia, comparativamente com o ciclo de subidas de taxas da Reserva Federal.

Neste contexto, “os estímulos fiscais pretendidos pelo presidente Trump poderão ajudar a compensar o endurecimento monetário norte-americano, mas ainda necessitam de ser delimitados, aprovados, financiados e implementados, e tudo isso leva tempo”, comentam os especialistas. Entretanto, a Europa “está a entrar num estranho período de flexibilização fiscal e monetária coordenada”. Na verdade, salvo a Fed, os outros grandes bancos centrais pretendem manter a sua postura acomodatícia.

A conclusão da Franklin Templeton é de que a normalização monetária “pode representar um obstáculo para o maduro bull market dos EUA, enquanto que as condições acomodatícias exteriores poderão ajudar a incipiente recuperação a ganhar ritmo noutras regiões”.

# Risco político

Muitos mercados tinham negociado, até atualmente, com um prémio de risco político não visto nos EUA. Da Franklin Templeton afirmam que “tais medos são agora excessivos no contexto atual”, inclusive para o caso do Brexit. “No caso da crise, as defesas institucionais na Europa são mais fortes do que no passado”, comenta a equipa; dão como exemplo os 500.000 milhões de dólares com os quais o Fundo de Estabilidade Financeira da Europa está dotado, que considera “suficiente para apoiar o sistema bancário se for necessário”.

O risco político também se reduziu aos olhos dos especialistas em China, onde acreditam que o presidente Xi Jinping aproveitará o Congresso do Partido Comunista para consolidar o seu poder político e impulsionar mais reformas. No Japão, observam que Shinzo Aber propôs dois novos governadores para o Banco do Japão: “Se forem eleitos consolidarão a sua influência sobre a política monetária e provavelmente assegurariam a fidelidade à sua agenda de políticas de estímulos”.