Os temáticos orientam o investimento para o longo-prazo

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Numa mesa redonda promovida pela Amundi e pela FundsPeople, cinco profissionais de vendas, seleção e distribuição de fundos de investimento nacionais discutiram o investimento temático e o impacto que a proximidade que os investidores sentem com as temáticas de investimento com as quais se identificam tem na capacidade para manter o foco num horizonte de investimento que permita ao valor se materializar. 

Para Cristina Carvalho, diretora de Vendas Corporativas & Institucionais da Amundi, a procura por estratégias deste género é intensa e diversificada e as estratégias mais procuradas “encaixam em alguma das quatro megatendências que estão a dar forma ao mundo do futuro e para as quais a Amundi tem procurado dar resposta”. As alterações demográficas e sociais, incluindo o “envelhecimento da população, a urbanização, alterações de estilo de vida como resultado da pandemia… as alterações económicas, como o tema da desglobalização, inflação, o maior desenvolvimento de determinadas regiões como as que fazem parte da rota da seda, por exemplo. A revolução tecnológica, por via da googlelization, o valor dos dados, as plataformas digitais… basicamente, os novos modelos de negócio que têm impacto no nosso dia a dia. E, por fim, os desafios ambientais, cada vez mais relevantes para os clientes investidores”. 

Alerta, no entanto, para o desafio que implica investir em empresas mais inovadoras cujo contributo para estas megatendências é ainda muito nebuloso. “Quando falamos de inovação e quando estamos a falar de temas muito recentes a visibilidade é sempre menor. Na nossa casa, o objetivo é identificar os temas que são verdadeiramente estruturais e não apenas uma moda”, explica. Por outro lado, realça o quanto, justificadamente, os temáticos podem acabar por providenciar rentabilidades superiores a longo prazo. “O foco nas megatendências e o investimento em empresas que na maioria das vezes não estão tão representadas nos principais índices permite que se ambicione rentabilidades superiores com maior diversificação”.

Proximidade com as temáticas

João Henriques, da distribuição de fundos do Bankinter em Portugal, relembra que num contexto de yields baixas, o investidor português, conservador por natureza, vê-se encaminhado a assumir mais risco, investindo em ações. “Sendo as ações a alternativa, exatamente por terem mais risco, e sendo os fundos temáticos aqueles em que os investidores têm mais consciência desse risco, acabamos por ver estas estratégias a ganhar espaço nas carteiras”. 

“A narrativa das estratégias temáticas ajuda a ter a ideia de que conhecemos as empresas. Um bom exemplo é que muitos portugueses acabam por ter uma exposição superior a ações nacionais que não é coerente com o peso que o mercado doméstico tem a nível internacional. Por afinidade, os investidores portugueses começam com uma exposição doméstica. Num segundo nível investem em ações europeias e vão assim expandindo a abrangência do investimento. A proximidade que sentem com os temas de alguns fundos parece funcionar muito bem”, exclama Rui Castro Pacheco, diretor central do Banco Best, sobre o que observa no que se refere a investimento temáticos, entre os clientes do banco. Refere, no entanto, que os temáticos acabam por refletir um papel mais satélite nas carteiras dos investidores e complementar um núcleo, mais genérico de ações globais, por exemplo.  

Os efeitos positivos da proximidade com os temas são algo que também Rui Broega, diretor coordenador de Gestão de Ativos do BiG vê como uma externalidade da narrativa que acompanha os temáticos. “O ciclo de investimento no que respeita a fundos temáticos é um pouco inverso, no sentido em que a familiarização das pessoas com o tema relega para segundo plano uma avaliação mais fundamental das empresas que compõem a carteira do fundo, ou o ciclo económico”, introduz. Para o profissional, um bom exemplo foi o comportamento dos investidores no durante e pós 2008. “Quando o mercado se desfez nesse ano, os investidores foram liquidando as posições todas à exceção dos poucos temáticos que tinham. Aí sim, o investidor vislumbra o longo prazo em termos de abordagem de investimento, independentemente do perfil do investidor. Uma boa estratégia de marketing montada em redor da familiarização do investidor com o tema faz com que perdure o período de investimento”, acrescenta. 

Foco no longo-prazo

Por outras palavras, João Henriques mostra-se de acordo realçando a “maior aderência dos investimentos, pela maior proximidade que os investidores acabam por ter com os temas. Estes ajudam os investidores a sentirem-se mais próximos deste mundo, que reconhecem melhor, porque são coisas que se veem no dia a dia, que ouvem nas notícias e que fazem com que seja algo de que querem fazer parte”. No universo de distribuição de fundos do Bankinter, embora, não seja algo que façam promoção muito ativa, é, no entanto, uma temática que se está a “tornar mais visível”. “Os investimentos tradicionais vão continuar a ser o núcleo das carteiras, mas os investidores vão procurar mais e mais o investimento temático, não só pelo nosso input, mas também por sua própria iniciativa”, observa.

Também no ABANCA Portugal, e como comenta João Pina Gomes, existe uma crescente apetência por investimentos temáticos, não só por iniciativa dos clientes, mas também por via das diretrizes do grupo. “No house view do ABANCA, o segmento em que estamos mais positivos é o segmento de ações, e nas ações são precisamente os investimentos temáticos”, diz. “Isso tem impacto a dois níveis. Por um lado, nas carteiras de gestão discricionária que gerimos em Portugal que refletem esse maior peso. Por outro, nas carteiras de pura execução. As pessoas leem sobre os temas nas revistas da especialidade, nas redes sociais, na internet e tomam a iniciativa de procurar investir nos temas de que se sentem mais próximos”, explica. Por outro lado,  “uma característica muito marcada destes produtos é que são sticky money. As pessoas percebem o tema, sabem que é algo com enfoque no futuro e no longo prazo e isso faz com que quando os mercados caem, sejam os últimos fundos a serem resgatados”, conclui.