O IPEM Cannes serviu de ponto de encontro para a indústria do private equity na Europa no arranque de um ano com maior visibilidade para a atividade corporativa, mas que continuará a ser difícil para o fundraising.
Existe um otimismo cauteloso na comunidade de gestores de private equity face a 2024, que esperam reativar a atividade relativamente ao ano passado, à medida que os spreads de valorização entre compradores e vendedores estreitam.
Depois de um ano bastante difícil de quase todos os pontos de vista (fundraising, investimento, saídas e retornos), há indícios de que os fundos de capital de risco europeus estão a aproveitar a oportunidade para voltar aos fundamentais da rentabilidade do investidor e, ao mesmo tempo, repensar como funciona o modelo de negócio dos fundos de capital de risco para terminar operações. Assim o explica o IPEM, que acaba de publicar o sexto inquérito anual sobre capital privado, em colaboração com a consultora de gestão global AlixPartners e as 14 associações nacionais europeias de gestoras de private equity.
Os resultados do inquérito foram apresentados na celebração da 10.ª edição do IPEM em Cannes. No evento, que reuniu mais de 2.500 profissionais da indústria do private equity na Europa, a ideia mais sublinhada foi a do otimismo moderado de uma indústria sobre a qual ainda existem incertezas derivadas, principalmente, do abrandamento do crescimento económico e da agitação geopolítica.
O crescente otimismo apoia-se na maior visibilidade para realizar operações de saída em 2024, uma área de atenção prioritária para todo o setor de capital de risco. Em geral, 56% dos gestores de capital veem mais oportunidades de saída nos próximos 12 meses, aplicando vias alternativas de liquidez ou veículos de continuação.
Espera-se que 2024 seja um bom ano para as novas operações e para a aplicação de capital à medida que os spreads de valorização forem melhorando. A indústria foca-se em 2021, ano em que foram alcançados níveis recorde nas operações de capital de risco.
Quanto às empresas em carteira, existe agora uma maior vigilância da dívida corporativa, o que poderá estar relacionado com o muro de vencimentos de dívida previsto pelo setor. Estes níveis de alavancagem podem dar lugar a uma maior atividade de reestruturação.
2024: outro ano difícil para o fundraising
Olhando para os investidores, 73% dos inquiridos assinala que 2024 vai continuar a ser um ano difícil para captar fundos.
Apesar disso, quase três quartos dos gestores europeus espera captar novos fundos em 2024. Os esforços centraram-se num novo segmento de investidores: os family offices e o high net worth (HNW), área que irá aumentar significativamente para 59% das entidades. Para 39%, os investidores de retalho vão ter o maior protagonismo. Uma das discussões realizadas abordou especificamente este tema, sob o título O Que Falta Para Aproveitar o El Dorado do Segmento de Retalho nos Mercados Privados?, em que Gorka Gonzalez (BPI France), Hannah Wallis (BlackRock) e Maurice Tchenio (Altamir) debateram as oportunidades oferecidas por este novo segmento de investidor e pelos serviços e estruturas mais adequados para lá chegar, como os ELTIF 2.0 ou os fundos evergreen, bem como a necessidade de fortalecer a educação financeira e a digitalização.
O segmento de private equity é a maior classe de ativos dentro dos mercados alternativos, com mais de sete biliões de dólares sob gestão e com uma rentabilidade (IRR) de 15,8% nos últimos anos, segundo a Preqin.