Pascal Blanqué (Amundi): “O que me mantém acordado à noite é a situação da liquidez”

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Lif..., Flickr, Creative Commons

Para Pascal Blanqué, diretor de investimentos da Amundi, uma certa sensação de complacência reina nos mercados, pelo que aconselha que se faça um exercício de reflexão antes de investir. “Estamos perante um momento desafiante, com valorizações muito ajustadas que coincidem no tempo com o processo de normalização em que já se encontra a Reserva Federal”, assinala. Na sua opinião, poderá haver uma correção a curto prazo, pelo que há que estar atento para aproveitar as oportunidades.

No cenário atual, dada a distribuição assimétrica de riscos e retorno, há que concentrar a gestão do risco em três ângulos: a rotação de risco, a recalibração do risco e a redução do risco. Nessa dinâmica de mudança, é importante fixar-se nos mercados nos quais ainda pode haver valor. Blanqué destaca a Europa e os mercados emergentes.

Na altura de recalibrar o risco, o diretor de investimentos diz: “o que me mantém desperto à noite é a situação da liquidez porque depois da crise, a liquidez nos mercados, sobretudo no obrigacionista, piorou muito”. Blanqué considera que as taxas de juro vão permanecer baixas porque não vai haver uma normalização completa, apontando que “muita gente pode esperar uma correção no mercado de obrigações por motivos clássicos, mas ela poderá vir por outras razões se ocorrer uma crise temporária de liquidez”. Se as taxas permanecerem mais baixas em relação à sua média histórica, poderão ter uma maior exposição ao risco, ainda que com limitações. Em concreto, assinala três classes de ativos que o preocupam: as obrigações de alto rendimento americanas, os fundos de private equity e as ações norte-americanas.

No que respeita aos riscos, é sempre importante mencionar aqueles fatores que, mesmo que não sejam desconhecidos, não deixam de criar incerteza. Blaqué menciona alguns, começando pelo nível que alcançarão as subidas da Fed, já que para muitas classes de ativos vai ser complicado acomodar até mesmo os aumentos mínimos. E aí estão logo os riscos relacionados com a política. Entre eles, destaca-se as negociações do Brexit na Europa, que na sua opinião serão longas e potencialmente problemáticas, mas acredita que nem a crise catalã nem as eleições italianas serão motivo de preocupação excessiva para os mercados.

A procura por rendimentos

Nesta era de retornos inferiores às médias históricas, há que procurar rentabilidade de formas distintas. Em certa parte, os ativos seguros são mais arriscados do que parecem, pelo que os investidores em obrigações devem considerar o investimento nesta classe de ativos numa perspetiva ampla. Em ações será importante a técnica de gestão e Blanqué considera que é um bom momento para o investimento fatorial.

Assim, tudo o que está relacionado com a consideração de critérios ESG nos processos de investimento está a ganhar relevância, sobretudo a partir do ponto de vista da avaliação dos riscos. No que respeita aos setores mais atrativos, para Blanqué “é importante ter em conta que a estrutura do crescimento global mudou, porque baixou a contribuição do comércio externo e aumentou o consumo e os serviços, pelo que reequilibrámos a distribuição das carteiras para que reflitam mais histórias locais centradas nos drivers domésticos de crescimento”, conclui.