Paulo Monteiro (Invest Gestão de Activos): “Queremos ter o foco de manter bons produtos e um bom serviço aos clientes”

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Paulo Monteiro. Créditos: Vítor Duarte

Embora seja uma entidade pequena, a Invest Gestão de Activos tem crescido em termos de montante gerido. Para além disso, o produto pelo qual é mais conhecida - o Invest AR PPR - tem-se mantido no top of mind dos investidores nacionais, bem como resiliente em termos de resultados.

Em entrevista à FundsPeople, Paulo Monteiro, administrador executivo da Gestão de Ativos, falou da gama de fundos Smart Invest lançada há um ano, mas comprovou também a boa forma que a entidade vive. “A Invest GA cresceu 60% nos fundos mobiliários no último ano, e registámos 60 milhões de subscrições líquidas, tendo o grosso sido dirigido para o Invest AR PPR. Crescemos mais do que a indústria, ganhando quota de mercado”, adiantou.

Para a indústria como um todo, olha positivamente, refletindo os próprios dados das estatísticas oficiais. “Não há dúvida de que os últimos anos têm sido bastante bons”, diz, acrescentando fatores que indiciam que a gestão de ativos pode crescer ainda mais. “As perspetivas continuam positivas porque temos as taxas de juro extremamente baixas e há uma grande quantidade de dinheiro ainda em depósitos”, colocou. 

Cenário positivo para a gestão de ativos

Efetivamente, o montante que ainda existe investido em depósitos em Portugal é muito promissor. “Dados da Associação Portuguesa de Bancos mostram que os depósitos cresceram 31 mil milhões de euros desde o final de 2019 até ao terceiro trimestre do ano passado. No total, existem cerca de 300 mil milhões de euros em depósitos. Depósitos esses que oferecem 0 ao investidor. A inflação está a subir e poderá até persistir durante algum tempo. Por muito que esta subida seja transitória, não irá voltar tão cedo para os 1% que existiam ainda há pouco tempo”, reflete sobre o tema.

Na perspetiva do responsável, a pressão para que este dinheiro se encaminhe para a gestão de ativos existe, e não se vai modificar tão cedo.  “Mesmo que as taxas de juro subam um pouco, não vão subir assim tanto… continuarão baixas em termos reais, provavelmente durante algum tempo. Isto é um cenário que diria ser positivo para a gestão de ativos”, remata.

O que há então a ser feito para que o dinheiro que está em depósitos se mobilize verdadeiramente para outros produtos, como fundos de investimento? Literacia financeira. Muita literacia financeira, é a solução que Paulo Monteiro começa por referir. “Há muitas pessoas que não sabem ainda o que são fundos ou outros instrumentos financeiros. Tem de se explicar que os fundos de investimento são veículos de investimento de médio longo-prazo, e que, regra geral, não são um instrumento de especulação”, defendeu.

Adicionalmente, urge, na sua perspetiva, a compreensão da população sobre a importância dos complementos de reforma. “A segurança social vai estar mais sob pressão no futuro. A população portuguesa é das que têm menor taxa de fertilidade, e das que estão a envelhecer mais rapidamente. O rácio de pessoas reformadas vs. ativas vai aumentar até 2050 de forma brutal, pressionando muito o valor das reformas no futuro”, justificou.

Incentivos fiscais

Do lado do sistema, fala do impulso que a fiscalidade deveria e poderia ter na poupança. “As pessoas têm de ter algum incentivo para investir e poupar. Existem países, como Espanha, em que as vantagens são ainda maiores do que em Portugal”, apontou. No caso dos fundos nacionais em comparação com os fundos estrangeiros - e apesar da reforma que foi feita em 2015 para que existisse uma tributação dos rendimentos à saída do fundo - o responsável continua a ver disparidades face aos estrangeiros, que podem ser prejudiciais. “Quando se resgata um fundo português, existe logo retenção na fonte a 28%; no caso dos fundos estrangeiros, as mais e menos valias são tratadas como acontece nas  ações ou obrigações”, rematou.

Integração ESG

Inevitável na conversa foi também perceber como olham para a temática do investimento sustentável. Paulo Monteiro afiança que no processo de investimento passaram a integrar as questões ESG. “Quando integramos uma empresa num portefólio, olhamos para as métricas financeiras, mas passámos a olhar também para os scores ESG. Para isso estamos a usar informação de entidades terceiras”, explicou.

Embora formalmente nenhum dos fundos que gerem esteja classificado como artigo 8º da SFDR, já fizeram o exercício de perceber como é que o Invest AR PPR se qualifica nesse âmbito. “Percebemos que apresenta um score de sustentabilidade bastante elevado, superior de 70 em 100”, revelou. Para já, a intenção da entidade é “manter o fundo como artigo 6º, estudando a hipótese de poder vir a ser artigo 8º”. Na opinião de Paulo Monteiro, a regulação a este nível não é ainda clara o suficiente, e pouco estabilizada.

Por isso, continuam a ter a sua política interna de sustentabilidade, olhando para uma empresa “considerando o seu risco de sustentabilidade, os seus scores e os researchs externos”. No final do dia, a grande preocupação da casa é a gestão do risco. Desse modo, não lhes interessa “ter empresas pouco sustentáveis”, mas sim “empresas com bons scores, não apenas financeiros”.

É com esta perspetiva ponderada sobre o negócio, que Paulo Monteiro sabe que o futuro da entidade não passa por lançar fundos com muita frequência, pois a equipa de que dispõem é pequena. Preveem em 2022 lançar mais um fundo para complementar a oferta atual, mas o caminho que se segue é o da consolidação. “Queremos manter o foco de manter bons productos, com rendibilidades superiores, e um bom serviço aos clientes”, concluiu.