Perante o fim da grande moderação, há que fazer escolhas

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Créditos: Cedida (BlackRock)

Depois de anos de interregno, por via da pandemia, na passada terça-feira a BlackRock voltou a organizar o seu Lisbon Annual Event. Mais uma vez se juntaram na mesma sala - na Estufa Fria, desta vez - os profissionais do mundo da gestão de ativos em Portugal, representantes de elevado nível da BlackRock e convidados em diferentes especialidades de economia, sustentabilidade e investimentos. Entre eles, Wei Li, responsável Global de Estratégia de Investimento na BlackRock. A profissional partilhou a sua visão de uma mudança de regime nos mercados financeiros que trará consigo mais incerteza, mas também mais oportunidade.

“Nos últimos 14 anos o mundo tem sido abençoado com baixa inflação, crescimento progressivo e sustentado e mercados em subida. Um cenário Goldilocks em que vimos um bull market sustentado tanto nas ações como nas obrigações. Algo a que chamamos de a grande moderação”, introduz .

Para Wei Li, os fatores que nos proporcionaram um período tão amigável nos mercados financeiros foram vários, mas que se resumiram em crescimento estável e constante da capacidade de produção. “Durante todo este período usufruímos dos efeitos de fatores como a globalização, do facto da China se ter juntado à Organização do Comércio Mundial, de paz, de ventos demográficos favoráveis… o que fez com que os ciclos fossem principalmente comandados pela procura. Gastos excessivos levavam a um sobreaquecimento da economia e um colapso nos gastos levava a uma recessão”, ilustra a especialista.

Uma conjuntura em que há que escolher

E perante tal conjuntura, como indica Wei Lin, o trabalho dos banqueiros centrais foi fácil, com uma resposta monetária bastante interligada com a evolução da procura. Contudo, “entramos agora num período moldado pela oferta”, diz. “Evidentemente a inflação é sempre resultado de um desencontro entre oferta e procura, mas neste contexto de mercado, as restrições de oferta são um fator mais preponderante na formação dos ciclos de mercado”, explica.

No entanto, Wei Li deixa evidente que o cenário atual não teve a sua origem na pandemia, mas antes. A renacionalização da produção, as guerras comerciais e a concentração nas cadeias de abastecimento eram já fatores que se materializavam nos anos antes de 2020, mas que “viram os seus efeitos acelerados com a pandemia e ainda mais, com a guerra na Europa”, segundo a responsável de Estratégia de Investimento da BlackRock.  É por todos os anteriores fatores que Wei Li afirma com convicção: “É a nossa opinião que a grande moderação dos últimos 14 anos chegou ao fim e isso tem implicações profundas nos portefólios”.

A profissional vê, assim e no futuro, um maior trade-off entre crescimento e inflação e um trabalho muito mais difícil para quem estabelece a política monetária. “As partes da economia que são mais responsivas a políticas monetárias mais restritivas não são as responsáveis pela inflação que estamos a ver. Mas é evidente que os banqueiros centrais vão avançar com as subidas de taxas de juro e com o quantative tightening.”, afirma. “Isto significa que o custo e as consequências do aperto monetário vão ser maiores e mais graves, em comparação com o período de grande moderação”, alerta. "Para fazer baixar a inflação aos níveis-alvo, os bancos centrais teriam de esmagar a procura em todas as economias. A escolha será viver com mais inflação do que no passado ou induzir recessões dolorosas".

Em suma, “o período prolongado de bull markets sustentados, que ajudou a dar forma a muitas carreiras de investimento, chegou ao fim. Agora temos que escolher. Os bancos centrais têm que escolher. E este tipo de conjuntura em que nos encontramos vai ser caraterizado por uma maior volatilidade macroeconómica e de mercado. Mas também por muito maior oportunidade”, conclui.