Perguntas e respostas sobre o impacto das eleições americanas nos mercados

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O primeiro cara a cara entre Donald Trump e Joe Biden representa o pontapé de saída de uma corrida eleitoral cujos resultados se esperam que sejam renhidos. Ainda que, por agora, os discursos eleitorais se concentraram no carácter dos candidatos e não nas políticas que vão pôr em marcha na Sala Oval, as gestoras internacionais já começaram a oferecer pontos-chave sobre o impacto das eleições americanas nos mercados financeiros.

Como se comportaram os mercados quando houve eleições presidenciais nos Estados Unidos?

Tal como explica Sean Markowicz, responsável de Estratégia, Estudos e Análise da Schroders, independentemente de se o presidente era republicano ou democrata, os preços das ações baixaram em média durante os três meses prévios às eleições quando o partido político no poder perdeu, mas recuperaram quando o partido no poder ganhou. “Portanto, se os investidores acreditam que Trump perderá em novembro, a história sugere que os mercados correm mais risco de sofrer uma correção do que subir nos próximos meses”.

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Do ponto de vista do investidor, é melhor um presidente democrata ou republicano?

Uma análise a longo prazo sugere que as coisas não são assim tão claras. Nos últimos 85 anos, os EUA tiveram sete presidentes republicanos e sete democratas, e a tendência do mercado foi, de um modo geral, bullish. Ainda que se possa pensar que os presidentes democratas são piores para as ações, os factos sugerem o contrário. “Em média, desde 1933, os mercados de valores registaram maiores rentabilidades durante os mandatos democratas do que com presidentes republicanos. Por exemplo, a média real (ajustada pela inflação) da rentabilidade total do índice S&P 500 sob os mandatos democratas foi de 10,2%, face aos 6,9% com os republicanos”, revela Markowicz.

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O problema é que quase toda esta vantagem em termos de rentabilidade média pode ser explicada pelos anos de auge do presidente Clinton e a posterior queda das dot.com e a crise financeira mundial sob o mandato de George W. Bush. Excluindo estas duas administrações, a diferença nas rentabilidades é praticamente zero. “Nenhum dos dois partidos políticos é exclusivamente bom ou mau para os mercados. Pelo contrário, o que importa mais são as políticas do que os presidentes eleitos e o seu impacto real”.

As sondagens prognosticam por agora uma vitória de Biden: que impacto terão as suas políticas nos mercados?

Este gráfico da BlackRock é um dos mais interessantes sobre como está a decorrer o caminho eleitoral. Mostra a vantagem de Biden a nível nacional (linha vermelha) e nos estados-chave (linha amarela).

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A confirmar-se a vitória do candidato democrata, o primeiro impacto será nos impostos. “O maior risco que enfrentam os mercados é a possibilidade de que se eleve o imposto sobre as sociedades. Em 2017, Trump reduziu a taxa de 35% para 21%, o que deu um grande impulso aos lucros por ação e aos preços das ações. Não obstante, Biden disse que quer reverter parcialmente esta política no início de 2021, o que poderá ter consequências importantes para os investidores em ações”, indica o responsável de Estratégia, Estudos e Análise da Schroders.

Assim, por exemplo, a UBS estima num estudo que aumentar os impostos para 28%, em conjunto com outras mudanças fiscais propostas, vai reduzir os lucros do S&P 500 em 8%. Além disso, Biden propôs elevar o salário mínimo, o que também pesará sobre os lucros das empresas. Tudo isto poderá fazer aumentar os atrativos das ações não americanas, após anos de liderança do mercado americano. “A nível setorial, as telecomunicações, os cuidados de saúde e os bens de consumo básicos serão os setores cujos lucros se vão ver mais impactados, enquanto a energia, o setor imobiliário e as utilities não se vão ver materialmente afetadas”.

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Também é importante recordar que Biden declarou que as empresas do país deverão deixar de recomprar ações próprias. “Apesar de ser provável que tal afirmação não seja mais do que retórica populista, se se tornar numa medida poderá prejudicar as ações americanas, cujas empresas realizaram operações consideráveis”, aponta Randeep Somel, gestor da equipa de ações da M&G Investments.

Ano eleitoral e anos pós-eleitoral: o que acontece?

De acordo com os dados da Capital Group, os investidores americanos incorporaram um volume muito maior de ativos de fixed income, sobretudo em fundos do mercado monetário, durante os anos eleitorais. Pelo contrário, os fundos de ações experimentaram as maiores entradas de capital líquido no ano imediatamente posterior aos das eleições.

Estes fenómenos sugerem que os investidores pretendem minimizar o risco durante os anos eleitorais e esperam que remeta a incerteza por completo antes de reconsiderar ativos de maior risco, como as ações. Não obstante, a sincronização com o mercado não costuma ser a estratégia que maiores lucros aporta. Além disso, pode prejudicar enormemente as rentabilidades das carteiras”, alertam.

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Voltaremos à globalização com Biden ou vamos manter-nos no protecionismo de Trump?

É outra das questões mais relevantes. É possível que ganhe quem ganhar não aconteçam grandes mudanças. Tanto republicamos como democratas elogiaram os sindicatos e apoiaram propostas para repatriar atividade industrial para os Estados Unidos. A lei American Foundries Act de 2020, por exemplo, conta com o apoio de ambos os partidos e trata de fomentar a produção doméstica de semicondutores. Trump corroborou sempre que os Estados Unidos participaram em acordos comerciais desfavoráveis que vai renegociar, ameaçando com aplicação de taxas e de medidas de represália de for necessário. Mas agora as posições de ambos os partidos estão mais alinhadas.

“Com o objetivo de recuperar votos de operários em estados-chave como a Pensilvânia, Ohio, Michigan e Wisconsin, os democratas abandonaram o seu prévio apoio quase completo à assinatura de acordos comerciais internacionais e adotaram uma atitude dura neste âmbito. Ainda que uma presidência de Biden seja provavelmente positiva para as empresas asiáticas que comercializam com os Estados Unidos comparado com a alternativa, a etapa idílica de comércio internacional sem restrições sob os presidentes Clinton, Bush Jr. E Obama parece ser coisa do passado”, conclui o gestor da M&G Investments. Não devemos esperar, portanto, um regresso ao passado.