A discussão sobre o investimento em mercados emergentes pode ser controversa, mas a sua relevância no contexto global é indiscutível. Num pequeno-almoço em parceria com a Amundi, falou-se das previsões de crescimento significativo da região.
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Num pequeno-almoço organizado pela FundsPeople em parceria com a Amundi, Cristina Carvalho, responsável pelo Mercado Português e Clientes institucionais da entidade, Rita Gonzalez, partner da Baluarte, Filipa Almeida, coordenadora da Equipa de Seleção de Fundos da DWM do Millennium bcp, e Madalena Antolin Teixeira, gestora sénior da BPI Vida e Pensões, partilharam as suas perspetivas para as economias emergentes em várias dimensões, nomeadamente em comparação com as economias desenvolvidas.
“As perspetivas de crescimento para os mercados emergentes são substancialmente superiores àquelas que podemos ter relativamente às economias avançadas”, começa por afirmar Rita Gonzalez. Mesmo com todos os riscos associados a estes países, estas economias têm “uma sensibilidade diferente em relação aos riscos” e “é exatamente essa sensibilidade que faz com que o seu potencial seja bastante superior”, explica.
Segundo a profissional, as perspetivas de crescimento do Fundo Monetário Internacional para as economias emergentes para os próximos dois anos são de quase 5%, enquanto para as economias desenvolvidas é de cerca de 1,7%. “É um diferencial muito significativo”, afirma Rita Gonzalez. Filipa Almeida é da mesma opinião. “Este diferencial entre o bloco emergente e o bloco desenvolvido é um consenso que se mantém”, explica a profissional, acrescentando que “faz sentido do ponto de vista estrutural que exista este tipo de divergências em termos de crescimento”.
Estes mercados têm, desta forma, contribuído significativamente para a economia mundial, sendo, nas palavras da partner da Baluarte, “responsáveis por 70% do crescimento global”. Para tudo isto pode ter contribuído o facto de estes países, na opinião de Cristina Carvalho, terem beneficiado das políticas dos bancos centrais, sobretudo da Fed e do BCE. “Os cortes nas taxas de juros por parte da Fed beneficiam os mercados emergentes em geral, uma vez que taxas mais baixas nos EUA levam a um enfraquecimento do dólar. Isso torna os ativos de alguns países destes mercados mais atrativos para investidores globais, aumentando os fluxos de capital para essas economias”, explica. Muitos países emergentes conseguiram de igual forma, através de políticas internas, reduzir a dívida e, por isso, na opinião de Cristina Carvalho, “os seus próprios fundamentais estão mais saudáveis e isto agrada muito a quem investe e constrói carteiras”.
Um universo de contrastes
No entanto, quando olhamos especificamente para o bloco emergente, existem muitos contrastes em termos regionais e, neste momento, as atenções estão na China. As profissionais consideram que o país está a enfrentar um momento particularmente complexo. “Tem uma procura interna muito enfraquecida e tem muitos problemas em setores com um peso substancial do ponto de vista do produto chinês, nomeadamente o mercado imobiliário”, relata Rita Gonzalez. Além disso, está neste momento com um sério risco de deflação, aponta.
“Existe aqui claramente uma pressão e uma expetativa de mercado”, explica Filipa Almeida. “O governo chinês tem que entregar um conjunto de medidas, particularmente de caráter fiscal, para colmatar essa fraqueza da procura interna, que tem sido o principal problema da economia chinesa”, explica a profissional. No entanto, apesar destes esforços por parte das autoridades, “a verdade é que o objetivo dos 5%, fixado para este ano pelo governo chinês, não é evidente que seja passível de ser concretizado”, afirma Rita Gonzalez.
A Índia, a África e os países satélites da China
Mas, como Filipa Almeida já tinha sublinhado, nos mercados emergentes existem histórias muito diferentes. “De um lado temos uma China com mais riscos geopolíticos, mas, do outro, encontramos uma Índia que, em termos económicos, continua a apresentar números positivos”, afirma a profissional do Millennium bcp. Esta tendência, diz, para um ambiente macroeconómico muto mais benigno, “quer do ponto de vista demográfico, procura interna e político, irá manter-se”. “Mesmo a perda da maioria absoluta de Modi não veio causar instabilidade. O ambiente político também dá algum suporte com várias medidas estruturais que têm sustentado o crescimento”. E ainda há, por exemplo, as economias da América Latina que, em termos do ponto de vista orçamental e fiscal, apresentam uma maior fraqueza.
Já na BPI Vida e Pensões, partilha Madalena Antolin Teixeira, gostam sempre de analisar um pouco os emergentes sem a China, uma vez que este país apresenta “um padrão totalmente diferente”. Verificam, desta forma, tendências muito interessantes: “Como estes países estão numa fase inicial de crescimento, toda esta parte quer da transição digital, quer da transição energética, está a ser muito vaga nestas economias”.
A profissional dá o exemplo de África. “Em termos de transição energética, estão totalmente na crista da onda com projetos – de energia solar, de recursos hídricos, da transformação para a não dependência e para poderem também dar às suas populações condições melhores”. É, desta forma, um continente que considera ter “muito potencial”, mas, como qualquer economia emergente, “não tem uma organização de mercado idêntica a uma economia desenvolvida”.
Considera, por isso, que há “sempre padrões interessantes”, como a questão de não serem idênticos aos mercados desenvolvidos, não só em termos de transações, como de transparência e liquidez. “E a própria política interna”, acrescenta Madalena Antolin Teixeira, “a política interna é sempre uma questão. Temos, por exemplo, algumas situações mais complicadas em países da América Latina neste momento”. Mas, para a gestora, são esses padrões que ajudam a “identificar diferentes dinâmicas de crescimento”, possibilitando trazer também “alguma diversificação”.
Olhando para a zona da Ásia, dos países satélites da zona da China, verifica-se também esta tendência da transição digital, com a produção de chips. “Estes países começaram a desenvolver-se muito à conta de a China deixar de querer produzir determinados bens”, explica a profissional, acrescentando que países como a Indonésia e as Filipinas “também se começaram a desenvolver à conta do reshoring”.