Perspetivas de mudanças na gestão da poupança?

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Créditos: Bram Naus (Unsplash)

A atual conjuntura económica exige adaptação na procura das melhores oportunidades. No último ano assistimos a uma intervenção musculada, quer dos governos, quer dos bancos centrais com o propósito de conter os impactos económicos e sociais da pandemia.

A verdade é que já há algum tempo que este tema da gestão da poupança tem sido alvo de escrutínio entre os profissionais de gestão de ativos. De facto, os gestores têm hoje muitos obstáculos e desafios no modo como gerem a poupança. Mas serão mesmo obstáculos, ou novas oportunidades de alocar melhor a poupança para otimizar os retornos a longo prazo? Vejamos o que os responsáveis pelos cinco fundos de pensões nacionais mais rentáveis a cinco anos – segundo a APFIPP e com referência ao final de março – têm a dizer sobre este assunto.

Fundos de pensões com maior rentabilidade a 5 anos

FundoEntidade gestora de fundos de pensõesRentabilidade anualizada nos últimos 5 anos
Real Reforma JovemReal Vida Seguros7,16%
SGF Reforma StoikSGF5,61%
Horizonte AçõesAgeas Pensões4,89%
Multireforma AçõesGNB - SGFP4,30%
Optimize Capital Pensões AçõesReal Vida Seguros3,62%
Fonte: APFIPP, dados de final de março

O mercado acionista é líder nas preferências

Quando questionados sobre se perspetivam alguma mudança na alocação de poupança para otimizar os retornos a longo prazo, a resposta dos gestores parece ser consensual. Se os seus fundos de pensões já estão com uma boa exposição ao mercado acionista, então os gestores parecem não perspetivar alguma mudança de alocação.

“Não perspetivamos grandes mudanças, continuamos expostos às ações, próximos do limite regulamentar de cada fundo, visto que no longo prazo são os ativos que melhor defendem e remuneram o investidor”, assinala Carlos Pinto, senior investment manager da Optimize Investment Partners. Também Pedro Barata, gestor na GNB Gestão de Ativos, apresenta que “no caso específico do fundo de pensões Multireforma Acções, e com a informação que dispomos atualmente, não é nossa intenção alterar em muito a alocação de ativos do fundo”.

Ambos os gestores partilham a visão de que com a pandemia ainda não estabilizada, há que ter em atenção as dinâmicas no mercado e há que ter a flexibilidade necessária para alterar a alocação se assim for necessário. Assim, Carlos Pinto diz que “este horizonte temporal exige uma maior estabilidade na alocação de ativos, embora com agilidade necessária para intervir sempre que se identifiquem mudanças no contexto macroeconómico, através de alterações nas composições geográficas, setoriais, qualidade creditícia, por moeda entre outros”. Já Pedro Barata colocava que “poderemos alterar pontualmente a alocação a alguns setores mais ou menos cíclicos se percebermos que a evolução da pandemia e o processo de vacinação estão aquém do esperado, mas é nossa intenção continuar investido no mercado de ações”.

Também Ricardo Almeida, responsável pela gestão das carteiras de ativos dos fundos de pensões na Real Vida Seguros, refere que o peso de ativos não correlacionados com as classes de ativos dominantes parece ter margem para aumentar mais. Por outro lado, o profissional apresenta também um ponto ainda não abordado pelos gestores: a componente da liquidez e como esta tem margem para aumentar, “funcionando como mitigador de volatilidade”, justifica.

Todavia, a intervenção do profissional da Real Vida Seguros não fica por aqui. Dado o atual contexto de baixas taxas de retorno esperadas para o futuro, Ricardo Almeida acredita que a componente dos mercados emergentes poderá vir a assumir um papel mais relevante. Refere que “como forma não só de procurar exposição a áreas de maior crescimento, como também no que se refere ao seu eventual efeito diversificador das fontes de risco presentes nas carteiras de investimento”. 

Luís Lobo Jordão, CFA, gestor das estratégias Stoik na SGF, começava por introduzir que “no momento atual temos uma grande penalização dos aforradores dos ativos garantidos, que tendem a colocar o seu capital no chamado - com graça - return-free risk”. Neste sentido, o gestor constata que: “Os aforradores têm-se transformado em verdadeiros investidores e para tal têm de aprender um pouco mais sobre mercados e investimentos, para estarem preparados para as flutuações que irão sofrer nos seus portefólios”. Uma vez mais e sem surpresas, "em termos de alocação não iremos fazer grandes alterações, mantendo um portefólio diversificado com uma forte exposição ao mercado acionista", concluía o profissional.

Manter a vigilância

No entanto, há que manter a vigilância. Para Valdemar Duarte estão criadas as condições que potenciam valorizações extremas em várias classes de ativos, mas, dependendo da conjuntura económica, “poderão sofrer re-pricing significativo no futuro próximo, como seja a subida das yields, rotação sectorial, etc”, coloca. Nesse sentido, “o posicionamento ao nível da gestão de carteiras deverá ser ainda mais vigilante sobre indicadores que alertem para alterações nas condições das principais variáveis que tem liderado a formação de preço das classes de ativos no passado recente”, acrescenta.

Essencialmente, o diretor geral da Ageas Pensões crê que há que existir um balanceamento saudável entre os ativos de menor liquidez que incorporam tendências de longo prazo, mas também entre os ativos mais líquidos, que permitam uma adaptação ao mercado – como a dívida de empresas, ações ou dívida pública.

Assim, o profissional defende uma abordagem mais pragmática no contexto da alocação a taxa de juro. Mas como? “Através do ajustamento da duração da carteira, posicionamento na componente acionista consistente com um cenário mais disruptivo em certos setores e privilegiando uma alocação geográfica que maximize a expectativa da normalização da atividade económica e social”, defende. Adicionalmente, para acelerar a construção das carteiras, Valdemar Duarte defende a incorporação da componente de sustentabilidade nas várias vertentes do termo, que “terá seguramente impacto positivo no médio e longo prazo”, conclui.