Peter Oppenheimer (Goldman Sachs AM): “Há dois tipos de disrupções no mundo, a tecnológica e a política”

00estrategia
-Tico-, Flickr, Creative Commons

A palavra disrupção tornou-se numa das mais repetidas em qualquer conferência, incluindo nas que as gestoras de fundos organizam. Normalmente esta palavra é acompanhada de outra como a tecnologia e, de facto, são muitas as empresas de investimento que incluíram o nome de disruptive nos fundos que investem nos novos negócios que derivam das milhares de inovações tecnológicas que o dia a dia da sociedade enfrenta.

Contudo, a tecnologia não é a única área que apresenta este carácter disruptivo. Peter Oppenheimer, estratega chefe de ações da Goldman Sachs, identifica pelo menos duas áreas imersas neste processo disruptivo que implica uma rotura com os modelos anteriores: “Há dois tipos de disrupções: a tecnológica, e nos mercados as incertezas transformam-se sempre num aumento dos riscos”.

Sobre o risco político falou-se muito na conferência para investidores profissionais que a Goldman Sachs realizou há uns dias em Madrid. Tanto do risco político que deriva da guerra comercial que os EUA e a China mantêm, mas que também afeta o resto do mundo, como do que “anda à solta” numa Europa em plena etapa eleitoral. “Há uma fragmentação política difícil de gerir na Europa e que se refletiu no auge de duas tendências de extrema esquerda e extrema direita como reação, por um lado, às políticas de austeridade postas em marcha na Europa para enfrentar a crise financeira e, por outro, a imigração. Esta fragmentação, com o aumento das forças antissistema, pode levar a que os grande partidos europeus hegemónicos, os populares e os socialistas, vejam reduzida a tradicional maioria com que contaram no passado”, afirma José Manuel Durão Barroso, presidente Goldman Sachs Internacional e ex presidente da Comissão Europeia.

Não obstante, Durão Barroso acredita que a Europa saberá lidar com essa disrupção política já que “a resiliência da Europa é muito maior do que as pessoas acreditam, é uma região que sabe adaptar-se às mudanças ainda que às vezes sejamos muito autocríticos”.

Guerra comercial, até sem Trump

A respeito da guerra comercial, a mensagem é clara: os investidores devem estar preparados para um período movimentado que sobreviva além do mandato de Trump e que terá um impacto negativo na economia em maior ou menor medida. A pergunta é se a guerra comercial provocará essa mudança de ciclo que leve a uma recessão, o grande medo que cotou o mercado no fim de 2018, algo que na Goldman descartam de momento. “Há muitas razões para pensar que este ciclo tão pouco usual de taxas e inflação baixas pode ampliar-se no tempo já que para pensar em recessão devemos ver certas variáveis que não estão a acontecer”, afirma Oppenheimer e cita algumas, como a subida abrupta da inflação, o colapso dos ativos financeiros ou um abrandamento excessivo. “Temos de nos fixar nas condições financeiras do sistema como se está a fixar a Fed e como atuar face a elas. É um tema de confiança e o que está a cotar o mercado é esse nervosismos das pessoas”, afirma o especialista.