Philipp Vorndran (Flossbach von Storch): “O maior desafio para os investidores no longo prazo será não vender boas ações demasiado cedo”

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Pode dizer-se que os mercados entraram em 2019 com o pé direito, já que o começo do ano se revelou ser bastante positivo, no entanto, paira no ar o medo de que uma recessão se esteja a aproximar a passos largos.

Quando questionado sobre as suas previsões para os próximos seis meses, Philipp Vorndran, que ocupa desde 2009 o cargo de estratega de mercados de capitais na Flossbach von Storch, revela que pensa “a longo prazo e não em períodos tão curtos”. Na visão do especialista, uma previsão de seis meses é simplesmente duvidosa, especialmente para os mercados de ações porque “ninguém pode prever algo assim com confiança”.

Quanto às recentes ações do banco central americano, Philipp Vorndran, revela que não haverá uma inversão da curva das taxas de juro, algo de que se falou muito no ano passado. “Isto simplesmente não é possível devido à dívida. Um corte nas taxas de juro pela Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) parece muito provável tendo em conta os desenvolvimentos económicos”, destaca o profissional. Na opinião de Vorndran, o homem forte da Fed, Jerome Powell, ainda não fez nenhuma tentativa para corrigir as expectativas do mercado a este respeito. Já do lado de cá do Atlântico, no Velho Continente, o profissional acredita que é muito provável que o Banco Central Europeu continue a moderar a sua política monetária.

O medo da recessão

Apesar do início do ano ter sido excelente para os mercados, o medo de uma recessão está a crescer cada vez mais. Philipp Vorndran confessa que tem notado um aumento do enfraquecimento da economia dos principais mercados. “Apesar de não esperarmos uma recessão severa temos observado de perto o conflito comercial entre os Estados Unidos e a China. No fim de contas, é muito mais que um conflito comercial”. Na opinião de Vorndran, para os Estados Unidos é uma questão de manter um concorrente pequeno ou distante, especialmente quando se trata de know-how tecnológico, visto que esta é uma questão política e altamente relevante do ponto de vista económico, pelo menos até o final do mandato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O profissional destaca ainda a questão do Irão que considera que não vai simplesmente desaparecer da agenda. “Os investidores não devem, portanto, alegar que os eventos políticos normalmente têm efeitos a curto prazo nos mercados de ações. Os efeitos desses eventos serão duradouros. Especialmente porque tudo o que acontece nas duas maiores economias do mundo tem impacto sobre todos os outros”. Para o especialista da Flossbach von Storch, o protecionismo global teria sérias consequências e abalaria a nossa visão do mundo, que atualmente se baseia numa economia mundial moderadamente crescente no longo prazo.

Ações mantêm o lugar cativo

No que concerne às classes de ativos, para o profissional da Flossbach von Storch, a escolha mantém-se nas ações visto serem a categoria que considera apresentar uma melhor relação rentabilidade-risco. No caso dos sectores admite não ter uma preferência já que em primeiro lugar olha para empresas melhor cotadas. “Por agora é irrelevante saber de que país vêm e a que sector pertencem. O que importa mais é a qualidade”, diz o especialista.

Os desafios para os investidores

Segundo Vorndran, “o permanente ambiente de baixas taxas de juro e as consequências disso são um desafio”. Na perspetiva do profissional, o maior desafio para os investidores no longo prazo será não vender boas ações demasiado cedo, apesar da ameaça da crise no mercado de ações ter vindo a crescer significativamente nos últimos tempos.