“Podemos ganhar mais se tivermos visão conquistadora em relação ao mercado europeu de fundos”

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cedida

A estratégia da gestora para este ano passa por ganhar visibilidade junto do público, capitalizando sobre o desempenho que os fundos têm registado, sendo esperado um crescimento superior a 20% nos activos sob gestão.

Quais as perspectivas para a indústria em 2013?

Vivemos, nos últimos anos, momentos difíceis para a indústria dos fundos de investimento em Portugal. A ausência de actores independentes relevantes, num contexto onde a principal preocupação dos bancos residia na consolidação dos seus balanços pela captação de depósitos, levou a uma tal diminuição dos activos sob gestão que a própria existência de uma indústria em Portugal pode estar em causa. Contudo, vejo motivos para algum optimismo para 2013 e anos seguintes: a menor atractividade dos depósitos a prazo, e o regresso a algum optimismo nos mercados, vão permitir que os investidores reconsiderem os fundos de investimento como os instrumentos mais adequados para a rentabilização das suas poupanças. O aumento significativo da fiscalidade aplicável aos rendimentos e mais-valias de activos financeiros também vai ajudar os produtos fiscalmente beneficiados como os fundos PPR, criando uma vantagem para as gestoras nacionais.

Quais os focos da gestora para este ano, nomeadamente políticas de investimentos, e objectivos, em termos de expansão e evolução do valor dos activos sob gestão?

Desde a nossa criação, em Setembro de 2008, a nossa principal preocupação foi de “atravessar a tempestade”, limitando ao máximo o nível de despesas, ajustando o consumo de capital ao crescimento de negócio mais lento do que previsto por motivos óbvios. Deixamos para mais tarde a angariação de clientes directos, investindo na constituição de uma rede de agentes vinculados. Com um ano de 2012 finalmente equilibrado vamos poder passar a uma segunda fase. A nossa estratégia de angariação vai tornar-se um pouco mais visível junto do público, de forma a capitalizarmos sobre a excelente performance dos nossos fundos. Em termos de evolução para 2013, estamos a prever um crescimento comparável com 2012, onde passámos de 41 para 56 milhões de euros de activos sob gestão, ou seja um crescimento de 25%. É provável que este ano os mercados não ajudem tanto na realização deste objectivo, por isso vamos ter muito trabalho para lá chegar.

Indique uma ou duas ideias que contribuiriam para dinamizar o mercado de fundos em Portugal...

Lanço mais uma vez um apelo ao governo e à CMVM para promover uma alteração à fiscalidade dos fundos nacionais, indispensável à manutenção a médio prazo de uma indústria de fundos em Portugal. A fiscalidade “interna” dos nossos fundos impede qualquer tentativa de venda fora do território nacional e promove os fundos estrangeiros pelo enviesamento das performances trazido por esta divergência fiscal. Estes tratamentos fiscais diferentes também têm outros impactos positivos para os fundos nacionais, contudo creio que temos maiores benefícios em uniformizar a fiscalidade do que a deixar estas pseudo barreiras fiscais. Podemos ganhar muito mais se tivermos uma visão conquistadora em relação ao mercado europeu dos fundos de investimento. A entrada em vigor das regras UCITS IV, e futuramente UCITS V, pode ser uma oportunidade para que Portugal se torne um dos centros de tratamento da indústria europeia da gestão de fundos. O desaparecimento das fronteiras em matéria de gestão de activos representa uma oportunidade para captarmos uma parte deste gigante bolo europeu, mesmo que o façamos essencialmente na vertente de “servicing”. Se somos capazes de produzir para a Volkswagen ou a Peugeot, devemos também conseguir ser competitivos no tratamento de operações de ‘backoffice’ para algumas gestoras internacionais! Um dos meus “sonhos” seria de ser uma das primeiras gestoras portuguesas a registar um fundo no Luxemburgo ou na Irlanda.