Porque é bom para os mercados europeus que os democratas ganhem as eleições de novembro nos EUA

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A direção que os mercados financeiros seguem a partir de agora irá depender do resultado das eleições que se irão celebrar dentro de apenas três semanas nos Estados Unidos. Assim o crê Mondher Bettaieb, gestor da Vontobel Asset Management, que numa entrevista à Funds People explicou o porquê dos resultados saídos das urnas irem condicionar a evolução tanto dos mercados de ações como de obrigações. “Muitos investidores pensam que as quedas que as bolsas registaram recentemente representam algum tipo de relação com a advertência da Fed acerca das taxas de juro estarem longe daquilo que o banco central considera neutro, mas na realidade tudo se deve à incerteza que os resultados dos próximos comícios estão a gerar nos Estados Unidos, os quais serão essenciais para determinar a evolução dos mercados”, explica.

“Se os democratas conseguirem a maioria na Câmara de Representantes, isso significará que para Donald Trump será muito mais difícil colocar em prática as suas anunciadas reformas fiscais e programas de infraestruturas. Isso provocará um impacto negativo sobre o dólar, que se desvalorizará. Também irá significar uma desaceleração do crescimento económico dos Estados Unidos, uma menor pressão inflacionista e um mercado de ações americano que se encontrará com mais dificuldades para continuar a subir com a mesma intensidade de até agora. A Reserva Federal será menos agressiva na sua política monetária e abrandará as subidas de taxas. Eu esperava uma para o final do ano e, no máximo, outras duas para o próximo”, antecipa.

Neste cenário de vitória democrata, Bettaieb considera que muito do dinheiro que foi para os EUA volte para os emergentes e para a Europa, mercado no qual investe. O Vontobel Euro Corporate Bond Mid Yield implementa a sua perspetiva. É um fundo de obrigações europeias que ostenta o selo Blockbuster pela Funds People, que gere há mais de oito anos. “A nível macroeconómico, não existe risco de recessão, nem de crise financeira. O pior já passou e, contudo, os spreads de crédito na Europa ficaram mais baratos e estão agora em torno dos 125 pontos base. É um contexto propício para aproveitar o carry, sobretudo tendo em conta que níveis de 150 pontos base indicam recessão. No crédito europeu, as maiores oportunidades estão na dívida subordinada e obrigações corporativas periféricas, a meu ver”.

Um dos mercados nos quais encontra muito boas oportunidades, neste momento, é o da Itália. “Apesar do maior aumento de déficit que os orçamentos do governo italiano contemplam (2,4% em 2019), Fitch manteve a classificação da sua dívida em BBB e a do Moody’s baixou de Baa2 para Baa3. Nesta altura, as obrigações italianas estão a cotar como se estivessem duas categorias abaixo do nível que as agências de classificação de risco marcam. As questões orçamentais resolver-se-ão. Estou convencido de que Roma e a Comissão Europeia chegarão a uma solução amistosa sobre o orçamento. Bruxelas tem interesse nisso se não quiser ver como o populismo aumenta”, afirma o gestor.

Na sua opinião, a grande oportunidade em Itália está no seu mercado de crédito. “Agora mesmo, as emissões de dívida com grau de investimento transalpinas cotam entre os 50 e os 150 pontos base acima da categoria investment grade europeia. Também gosto da dívida subordinada, uma vez que não proporciona risco de recessão. A Itália irá crescer este ano a um ritmo de 1,2% e no próximo a 0,9%. Simultaneamente, o país irá reduzir a sua dívida sobre o PIB até à volta dos 128%. Os programas de austeridade alemães estão a comportar-se muito bem, mas não se pode impor aos parceiros comerciais políticas económicas impossíveis e pouco realistas. Haverá um acordo com a Europa e volatilidade também. A chave está em saber ser paciente”, sublinha.

O outro cenário é que os republicanos consigam a maioria na Câmara de Representantes. “Não é o meu cenário base, mas pode acontecer. Neste caso, a única classe de ativo que se verá beneficiada será a das ações americanas. Esqueça tudo. Num contexto em que o Partido Republicano tem a maioria absoluta tanto no Senado como na Câmara de Representantes, Trump terá as mãos livres para continuar a injetar-lhe incentivos para uma economia já de si sobreaquecida. Neste cenário, o crescimento do PIB americana será ainda mais forte, o dólar valorizará e isso será particularmente negativo para os mercados emergentes. Se isto acontecer, o que farei será aumentar a liquidez na carteira e incorporar CDS como proteção, tanto senior como subordinados”, conclui.