Porque é que continuaremos a ver mais operações corporativas entre as gestoras de fundos

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Há apenas uma semana davam a conhecer-se duas grandes operações corporativas na indústria de fundos: a oferta de compra da Franklin resources, empresa mãe da Franklin Templeton, à Legg Mason e a aquisição da Merian GI por parte da Jupiter por 469 milhões de euros, pendente da aprovação do regulador. Embora cada uma dessas operações se tenha produzido em mercados distintos (EUA e Reino Unido), o certo é que nos comunicados que tanto a Franklin como a Jupiter publicaram para dar a conhecer as operações havia uma palavra-chave presente em ambos:  a diversificação, tanto de produto como de tipo de cliente e mercados.

Em concreto, a Jupiter destacou no seu comunicado que a fusão permitiria que os cinco maiores fundos representassem apenas um  terço dos seus ativos sob gestão, para além de acrescentar diferentes estilos ao modo de investir. Por seu lado, Jenny Jonhson, CEO da Franklin, afirmava que com a compra “ampliaremos as nossas soluções de multiativos, uma área de crescimento chave para a empresa em resultado da crescente procura dos clientes por soluções de investimento integrais e orientadas para os resultados”.

Essa diversificação é um dos pontos chave que enfrentam as gestoras nos próximos anos de baixa rentabilidade e baixa inflação. “Quanto menos tamanho se tem e menos diversificado está o negócio mais vulnerável se é ao que se passar no mercado e menos margem se tem para reagir. Se se é grande pode-se resistir melhor ao que se passa no mercado”, afirma Paloma Cabello, professora de M&A do Master in International Finance do IBE.

Não é em vão que a KPMG estima num recente relatório sobre perspetivas da indústria nos EUA que a consolidação do sector se manterá durante os próximos anos. “Esta consolidação já contraiu o número de gestoras em cerca de 20% nos últimos cinco anos. Esperamos que em 2025 pelo menos 20% das gestoras sejam compradas ou desapareçam”, afirma Greg Peterson, responsável de operações em serviços financeiros da consultora.

Mais variedade de produto

Essa diversificação também está por detrás do interesse que têm mostrado algumas gestoras por incluir uma gama de ativos privados na sua oferta de soluções a investidores. “Há muita gente que chegou tarde a este mercado e que agora quer entrar nele, já que não vão existir tantas opções onde colocar o dinheiro e conseguir rentabilidade”, assinala Cabello. Apenas nos últimos 12 meses vimos como a Schroders completava a compra da Secquaero, da  gestora de real estate Blue AM ou da entidade de impacto Blue Orchard. Também como o Edmond de Rothschild adquiria 34% da ERAAM para reforçar o seu negócio de gestão quantitativa ou, mais recentemente, como a Neuberger Berman adquiria a boutique de real estate Almanac Realty Investors.

É que a área de ativos privados e alternativos é, segundo explicavam a Morgan Stanley e a Oliver Wyman no seu relatório com o título Searching for Growth in a Age of Disruption, uma das três áreas de crescimento nas quais se pode apoiar a indústria nos próximos anos, já que, para além disso, a procura está a crescer por parte dos investidores institucionais. Tanto que, segundo um recente estudo da Willis Towers Watson sobre os grandes planos de pensões, a alocação destes ativos alternativos cresceu em 17 pontos nos últimos 10 anos, ao passar de 6 para 24% do total das suas carteiras.

Mais mercados

Mas além de se  procurar uma diversificação por produtos ou estratégias, também se persegue uma diversificação por mercados. “A maioria das empresas europeias tem estado a tentar expandir-se na Ásia, enquanto que muitos gestores de investimentos com sede nos EUA se têm centrado em aumentar a sua presença tanto na Europa como na Ásia. Esta tendência coloca em relevo a importância de crescimento inorgânico nestes mercados maduros para impulsionar a escala e ampliar as linhas de produtos em novas classes de ativos”, apontam Sean Collins e Doug Danemiller, consultores da Deloitte num artigo em que analisam as tendências da indústria.

Melhores preços

E por último está o tema da poupança de custos que implica qualquer fusão. “Tem todo o sentido que haja uma consolidação no sector já que no mundo do investimento o dinheiro tende a ordenar-se de forma natural. É um movimento que continuará a produzir-se num contexto de taxas baixas, aumento da regulação e aumento de custos, já que o tamanho é importante. É muito difícil manter custos se não se contar com uma boa dimensão”, afirma Cabello.

As consultoras Casey Quirk e McLagen têm tentado colocar números nesses custos e concluíram, num relatório intitulado 2019 Performance Intelligence, no qual participaram 70 grandes gestoras de todo o mundo, que nos últimos anos os custos não compensatórios (incluindo os regulatórios, os serviços de back office, a tecnologia e o espaço de escritório) passaram de representar 26% para 30% dos custos de uma gestora em apenas quatro anos.

As vias de crescimento para o sector nos próximos anos

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