A crise da dívida pública portuguesa que levou ao resgate do país em 2011 e ao PAEF (Programa de Assistência Económica e Financeira), provocou uma grave recessão medida pela evolução de diversos indicadores (queda forte do PIB, aumento brutal da taxa de desemprego, quebra significativa do investimento e do consumo e até deflação).
Contudo, a poupança das famílias aumentou até meio de 2013, estando novamente a cair há 10 meses, aproximando-se dos mínimos de 2011. É curioso constatar que é quando a corda aperta que os portugueses poupam mais (numa altura em que o rendimento disponível até caiu). A poupança deve ser um acto contínuo, até porque é mais fácil poupar nos ciclos económicos positivos. Mas, estranhamente, a poupança tem caído sempre em Portugal quando a economia está melhor ou começa a dar sinais positivos, como nos últimos meses.
Basta a economia dar uns tímidos sinais de recuperação e começam logo as matrículas novas de carros a aumentar significativamente, o trânsito a aumentar, as viagens de férias ao estrangeiro... Voltamos sempre ao mesmo! Se há país que necessita de poupar é Portugal. Portanto, vejo com natural preocupação a evolução do indicador de poupança.
Uma herança do ciclo económico positivo anterior foi o excessivo endividamento. E dada a crise económica, a consequência tem sido o aumento do crédito mal parado das famílias portuguesas, que em Março voltou a subir para 5,2 mil milhões de euros. Cerca de 47% do crédito mal parado das famílias diz respeito a crédito à habitação e 27% a crédito ao consumo. Cerca de 133.500 famílias não conseguem pagar créditos inferiores a 1.000 euros e cerca de 127.000 famílias não o conseguem fazer para valores entre os 1.000 e os 5.000 euros.
Relembrando alguém com responsabilidades: o país está a melhorar, as pessoas é que não! É evidente que as famílias estão pior e o país não está tão bem como se diz ou se quer fazer crer. Basta olhar para os números do PIB do 1º trimestre de 2014!...
Com a poupança a cair e o crédito mal parado a aumentar, o cenário é negativo. Esta situação tem reflexos na economia e na performance dos bancos (económica e bolsista), obrigando-os a reforçar os capitais próprios.
Sendo a evolução positiva dos bancos uma das alavancas da dinâmica económica e dado o peso dos mesmos na bolsa portuguesa, é urgente que a poupança deixe de cair, que o crédito mal parado comece a recuar, que a situação financeira das famílias de facto melhore e que sejam tomadas decisões a nível europeu para dinamizar a economia e fomentar o emprego.
Eu só tenho esperança no BCE (nos políticos, nem tanto!...). Aliás foi o BCE que resolveu o problema da dívida pública dos países periféricos e com isso, pudemos assitir à queda das yields das obrigações de Portugal, Espanha, Itália, Irlanda e Grécia desde Julho de 2012. Como no próximo dia 5 de Junho vai haver reunião do BCE, haja esperança!...