Primeira análise que quantifica o impacto do coronavírus na economia mundial

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As gestoras começam a calibrar qual será o impacto do coronavírus na economia mundial. A dinâmica económica tornou-se indubitavelmente desfavorável no primeiro trimestre de 2020, apesar de se desconhecer a duração e a magnitude dos efeitos do vírus. “As restrições de viagens, a incerteza comercial e as perturbações nas cadeias de fornecimento representam claros obstáculos a curto prazo; a confiança, o investimento e o consumo são âmbitos conexos que provavelmente se verão submetidos à pressão”, reconhecem na MFS Investment Management. Agora, a questão é conhecer quais serão os efeitos concretos do Covid-19 no PIB global em 2020.

De acordo com Anna Stupnytska, diretora de macro global na Fidelity Internacional, à medida que a propagação do coronavírus continua e as possibilidades de contenção reduzem-se, é provável que o impacto na economia global seja considerável. “Apesar da flexibilização da política monetária ajudar ao sentimento, os bancos centrais não deverão atuar de forma isolada: os governos deverão intervir com medidas fiscais oportunas e bem desenhadas, apoiando as economias que têm problemas não só pelo vírus em si, mas também pela tomada de medidas preventivas que, em alguns casos, detiveram a sua atividade produtiva”, afirma.

As estimativas sobre o impacto no crescimento do PIB mundial variam. Um relatório publicado em 2013 pelo Banco Mundial calculou que uma pandemia de gripe moderada reduzirá o crescimento em 0,7 pontos percentuais e uma grave fará descer 4,8 pontos percentuais. A OCDE acredita que uma escalada do surto poderá reduzir quase para metade o crescimento previsto em 2020, de 3% para 1,5%. Até ao momento, as estimativas do consenso sobre o crescimento do PIB mundial parecem complacentes, mesmo agora que o vírus se está a espalhar, e baixou só 0,1% desde fim de 2019.

Ainda que se torne impossível prescindir com maior grau de convicção, o cenário base atual da Fidelity (com uma probabilidade em torno do 60%) é uma redução entre 30 e 50 pontos base até um crescimento mundial de 3% em 2020. “A nossa hipótese mais otimista é uma redução entre 10 e 20 pontos base (com uma probabilidade de 20%) e a nossa hipótese mais catastrófica é uma redução próxima de 1% (com uma probabilidade de 15%, e uma probabilidade de 5% de que tal redução ser ainda pior)”.

As estimativas de lucros da gestora também mudaram desde janeiro, ainda que os seus analistas advirtam que muitas equipas de administração ainda desconhecem a gravidade do impacto. “Tudo depende em última instância de quando tempo durar o vírus, da contundência da resposta das autoridades e da magnitude do efeito dominó, desde o aumento do teletrabalho e das compras online até ao cancelamento dos Jogos Olímpicos”, enfatizam.

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Para Jim Leaviss, diretor de Investimentos de obrigações da M&G, torna-se indubitável que o crescimento do PIB de quase todos os países será consideravelmente inferior ao previsto, e que alguns entram em terreno recessivo e vão registar uma descida do emprego como consequência disso. “Mesmo se o coronavírus acabar por ter um efeito menos prejudicial para a saúde do que se teme, a economia mundial vai ficar danificada. O turismo e as viagens corporativas viram-se gravemente afetadas, e a incerteza nunca se torna positiva para o consumo ou a procura empresarial.  Do lado da oferta, as fábricas na China interromperam a sua atividade e o movimento de bens pelo mundo foi afetado”, destaca.

Mas... de quanto crescimento estamos a falar? Na Schroders já o calcularam. A equipa de economistas da gestora baixou as suas previsões de crescimento global de 2,6% para 2,3%. Tal resultado implicava que este ano fosse o mais débil desde 2009, quando se registou o pico da crise financeira mundial. Segundo Keith Wade, economista chefe da Schroders, “o coronavírus projeta uma escura sombra sobre a economia mundial ameaçando fazer fracassar a reativação do crescimento que começou no fim de 2019. “No mínimo, os esforços para conter o vírus suspenderão a incipiente recuperação que os dados mostravam”, acrescenta Johanna Kyrklund, diretora de Investimentos da empresa.

Neste sentido, na gestora vêem como provável que Itália e o Japão entrem em recessão, e que a produção nos Estados Unidos estanque no primeiro trimestre. E o que acontecerá depois? Na entidade esperam que, posteriormente, supondo que o vírus seja controlado, a atividade vai melhorar gradualmente no segundo trimestre e recuperar com mais vigor à medida que as empresas comecem a dar vazão às encomendas acumuladas. “O aumento será apoiado por uma política mais flexível com os bancos centrais dos Estados Unidos, China e a zona euro a baixar as taxas de juro e com um maior aproveitamento da política fiscal na China”, auguram.