Primeiras conclusões sobre o discurso de Janet Yellen em Jackson Hole

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United States Government Work, Flickr, Creative Commons

Se a publicação das últimos atas semeou alguma confusão no mercado sobre o curso futuro da política monetária pela Reserva Federal, o discurso de Janet Yellen na última sexta-feira no Simpósio Económico realizada pelo Fed de Kansas em Jackson Hole foi invulgarmente claro, e cumpriu a sua função: limpar as dúvidas dos agentes do mercado. Especificamente, estes rapidamente fizeram eco  desta frase: "Eu acho que as condições para um aumento das taxas de juro se têm fortalecido nos últimos meses”. Yellen referia-se à previsão do Fed de um "crescimento real do PIB moderado, fortalecimento do mercado de trabalho e o aumento da inflação para mais de 2% nos próximos anos."

As palavras da presidente da Fed reforçam assim a tese de uma subida em setembro, que se começou a esboçar no início de agosto, depois da publicação do extraordinário crescimento do mercado laboral em julho. Na semana anterior à reunião anual de banqueiros centrais em Jackson Hole, o mercado somente estava a refletir no preço uma probabilidade de 20% de uma subida de taxas em setembro. Isso apesar das declarações de William Dudley, predidente da Fed de Nova Yorl e membro com direito permanente de voto do Federal open Market Comittee (FOMC), nas quais afirmava que não se deverá descartar a possibilidade de uma subida em setembro.

Os analistas da NN Investment partners afiram que “os responsáveis da Fed sentiram, inclusivamente, que os investidores estavam demasiado complacentes no que respeita as expectativas da Fed”, devido a que “ainda que os dados dos EUA tenham melhorado e os números do mercado laboral se tenham fortalecido nos últimos meses, os mercados somente incorporaram no preço 50% de probabilidades de que se produza uma subida de taxas em dezembro”, que é o cenário central com o qual trabalha a gestora holandesa.

Para os analistas da Allianz Global Investors, a falta de decisão na política de comunicação do banco central provocou uma quebra da atividade de investimento: “Inclusivamente, mesmo que os investidores mais otimistas tenham desfrutado recentemente de um ligeiro aumento de popularidade, de acordo com o questionário realizado semanalmente pela Associação Americana de Investidores Individuais, a proporção relativamente elevada de investidores indecisos parece refletir o baixo volume do mercado”. E mais, da entidade observam que a volatilidade se encontra quase 40% abaixo da sua média de 30, o que consideram “uma prova de que os investidores estavam sentados à espera, especialmente nos dias prévios ao ansiosamente antecipado discurso de Janet Yellen”.

O euro/dólar foi a parte do mercado que reagiu de forma mais abrupta à mensagem de Yellen. O dólar experimentou uma forte apreciação, de quase 0,5%. “Os mercados de divisas estão a ficar cada vez mais sensíveis aos comentários dos banqueiros centrais”, realçam da Allianz Global Investors, mesmo que a recente robustez do dólar também possa ser explicada, entre outras coisas, pela queda do preço do petróleo e pela pressão em baixa sobre as divisas emergentes, explicam.

Na gestora alemã não mostram nenhuma opinião explícita a favor ou contra o possível calendário de subidas de taxas, mas deixam clara a sua postura: “Depois de anos de políticas monetárias fortemente expansivas e pouco convencionais, parece que a eficácia de aplicar mais estímulos monetários sobre a atividade económica e a inflação está a ser empurrada cada vez mais para os seus limites”.

Diferenças entre o curto e o médio prazo

“As recentes contracorrentes nas comunicações da Fed podem ser agrupadas em expressões de otimismo sobre o cenário de curto prazo e expressões de preocupação pelos riscos no longo prazo para o cenário económico e os riscos da política monetária”, detalha John Bellows, gestor e analista da Western Asset (filial da Legg Mason Global AM). Para ele, a declaração de William Dudley “é fundamentalmente um manifesto da sua previsão otimista de uma aceleração do crescimento nos próximos trimestres”, enquanto que as atas refletem “a petição para reexaminar a política monetária num mundo de taxas de juro baixas, que está baseada na preocupação com o contexto económico e os riscos nos próximos anos”.

O último discurso de Yellen, pode interpretar-se como uma mescla de ambos os pontos de vista. Por um lado, aclarou que se reforçou a tese para uma subida de taxas. Por outro, declarou: “A nossa caixa de ferramentas pre crise era inadequada para avaliar o intervalo de circunstâncias económicas que enfrentávamos, pelo que, daqui em diante, “precisaremos provavelmente de manter muitas das ferramentas de política monetária que desenvolvemos para promover a recuperação da crise”. Yellen acrescentou que “os oficiais dentro e fora da Fed talvez desejem em algum momento considerar opções adicionais para assegurar uma economia forte e resistente”. Noutro momento do seu discurso, a presidente reafirmou: “Como sempre, o contexto económico é incerto, e portanto, a política monetária não tem um rumo predeterminado. A nossa capacidade para prever como irá evoluir as taxas de juro ao longo do tempo é bastante limitada, porque a política monetária precisa de responder a qualquer evento que sacuda a economia”.