Primeiras estimativas de quando e onde o BCE terminará a sua política de aumento das taxas

Christine Lagarde
Christine Lagarde. Créditos: Martin Lamberts/ECB

O BCE reafirmou a sua determinação em combater a inflação aumentando as taxas de juro de referência em 75 pontos base. Espera-se que esta aceleração continue. Mas… até quando? E… até onde? As análises das gestoras internacionais começam a fixar uma data: fevereiro de 2023 como o último mês em que a autoridade monetária europeia irá aumentar o preço do dinheiro. E um número: 2%. “Apesar das más perspetivas económicas para o próximo ano, as taxas a curto prazo estarão em cerca de 2% durante o inverno”, afirma a equipa de Análise da Edmond de Rothschild AM. É aí que o BCE pode encontrar a neutralidade.

Esta é uma data e um nível semelhante aos de Gilles Moëc, responsável de Economia da AXA IM. “Esperamos um ritmo de ajuste mais lento após outubro, com 25 pontos base em dezembro”, assinala o especialista. “Concordamos que a tendência natural do BCE nesta etapa irá provavelmente levá-lo ao extremo da neutralidade num último aumento em fevereiro de 2023, mas continuamos prudentes”. Tudo pode depender da evolução dos dados de crescimento e, sobretudo, dos dados da inflação. “Os seguintes movimentos irão depender do estado da economia. O último quadro de previsões do BCE é otimista do lado do PIB, com um crescimento de 0,9% em 2023”.

O que pode acontecer na reunião de 27 de outubro

Na entidade suspeitam que os falcões são mais ambiciosos e prefeririam imitar a Reserva Federal e levar incessantemente as taxas para um território mais ajustado, sem necessariamente fazer uma pausa na neutralidade para examinar se é necessário mais.

“Dado que o BCE é muito sensível ao fluxo de dados, pode reagir mal face ao que esperamos que seja outra leitura de inflação elevada para setembro, que será a última informação que vão ter antes da sua próxima reunião de política monetária. Isto leva-nos a acreditar que irão procurar outro movimento de 75 pontos base, em vez de 50 pontos base, no dia 27 de outubro”, prevê Moëc.

A urgência é real

Para Clémont Inbona, gestor na La Financière de l’Echiquier, depois da decisão do BCE de aumentar as taxas, é urgente travar a atividade económica para evitar que um sobreaquecimento duradouro dos preços acabe por se alimentar a si próprio. O especialista destaca dois factos: por um lado, depois de 10 anos de taxas em mínimos e até negativas, as taxas de juro de referência estão a atingir níveis nunca vistos em mais de uma década. Por outro lado, a magnitude dos aumentos anunciados nestes últimos meses é inédita num prazo tão curto: +1,25% em apenas dois meses, um número muito superior ao das diretrizes anunciadas em junho passado.

“É preciso assinalar que a urgência é real. Em agosto, a inflação do conjunto da zona euro atingiu 9,1% em termos homólogos. Esta grande crise de preços exige uma solução à sua medida, mesmo arriscando descarrilar conscientemente a atividade económica, uma vez que é uma das fontes da febre inflacionista. É preciso ter em conta que o BCE prevê uma inflação de 5,5% em 2023, muito acima do seu objetivo a médio prazo de 2% e um crescimento de apenas 0,9%, uma descida consideravelmente inferior aos 2,1% previstos no início do verão”, conclui.