Qual é o amortecedor que o mercado de crédito oferece atualmente face às perdas?

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Créditos: Scott Graham (Unsplash)

Ao longo do ano, os mercados de crédito tiveram de digerir uma quantidade significativa de volatilidade e incerteza. Isto foi provocado por vários acontecimentos, como a guerra na Ucrânia e o consequente aumento dos preços da energia e dos alimentos, as interrupções da cadeia de abastecimento impulsionadas pela política de zero COVID da China, o aumento da inflação e uma alteração na política dos bancos centrais.

Foram também afetados por um contexto de menor crescimento e os spreads começam a refletir uma leve recessão através do crédito pan-europeu ou um baixo crescimento através do crédito norte-americano (que, até agora, foi menos afetado neste ciclo). A preocupação com o crescimento provocou uma desconexão nos mercados de obrigações corporativas e high yield que tiveram um comportamento inferior ao investment grade numa base de spreads.

Tudo isto resultou na queda mais dura do mercado de crédito em mais de 45 anos, ainda maior que a sofrida em 1980, quando o IPC norte-americano atingiu quase os 15% anuais. Os retornos negativos em termos absolutos do crédito não têm precedentes. “Vimos até uma correlação positiva entre as taxas e os spreads de crédito, o que não é habitual. Pelo menos nos últimos anos”, explica Daniel Loesche, diretor de Investimentos em Obrigações Europeias na Schroders.

Rentabilidades em 2022

Fonte: Eikon, a 31 de agosto de 2022.

Os fatores que afetaram negativamente os mercados de crédito continuam presentes. A guerra na Ucrânia continua e é difícil de prever quando vai terminar. As suas consequências para os preços da energia e dos alimentos ou para as cadeias de abastecimento mundiais são complexas.

Segundo o especialista, “a boa notícia é que os mercados de crédito já descontaram este facto e refletem um panorama económico sombrio”. Para defender a sua afirmação apoia-se no gráfico 2, que mostra que o movimento dos preços no mercado europeu de investment grade é já equivalente ao que vimos em recessões anteriores. O aumento das yields em relação ao início do ano tem sido brutal (gráfico 3).

Preços médios em investment grade em euro vs. PIB da zona euro

O gráfico seguinte ilustra a magnitude da variação das yields (com cobertura em dólares) desde o início do ano.

Aumento das yields

Fonte: Schroders, ICE/BofA, Bloomberg, agosto de 2022.

O que parece claro é que, em comparação com o início do ano, o crédito oferece agora um bom amortecedor contra a volatilidade adicional. O cupão protege face a correções ainda maiores do mercado. Este ponto de vista também pode ser observado nos gráficos seguintes apresentados pelo especialista da Schroders, que refletem o aumento adicional das yields que seria necessário para anular o rendimento atual e produzir rentabilidades negativas durante os próximos 12 meses.

“Por exemplo, as yields de high yield em euros teriam de aumentar mais 2,5%, até a um nível de 7,7% para produzir retornos negativos. Tendo em conta todos os fatores que contribuíram para os aumentos das rentabilidades, teríamos de assistir a acontecimentos extremos para alcançar estes níveis”, sublinha Loesche.

Yields há 12 meses, yields atuais no final de agosto e níveis de equilíbrio

Fonte: Schroders. Bloomberg. Agosto de 2022.

Além disso, o especialista fornece os seguintes gráficos que mostram que o mercado de crédito proporciona uma yield real positiva significativa tendo em conta os níveis de inflação previstos para os próximos cinco anos.

Fonte: Schroders. Bloomberg. Agosto de 2022.

Análise dos fundamentais

Outra grande questão para determinar se poderia ser um bom momento para entrar no crédito seria analisar os fundamentais das empresas. De acordo com o especialista, “atualmente parecem sólidos, com uma alavancagem moderada e rácios de cobertura de taxas elevados. Além disso, a vulnerabilidade dos setores bancários é significativamente menor em comparação com a crise financeira global, uma vez que os bancos têm rácios de empréstimos sobre depósitos menores e rácios de capital e níveis de liquidez maiores”, destaca Loesche.

Segundo o diretor de Investimentos em Obrigações Europeias na Schroders, se os incumprimentos implícitos forem comparados com os esperados nos gráficos seguintes, é possível observar que os mercados de high yield compensam os investidores por um novo aumento dos spreads, uma vez que existe um prémio de risco positivo mesmo num cenário pessimista.

Taxas de incumprimento implícitas em comparação com as atuais e as esperadas

Fonte: Schroders. Moody's. Agosto de 2022.

Por último, embora os mercados de crédito tenham sido abalados de forma significativa, a volatilidade permitiu melhorar a dispersão dos spreads e criou desajustes no mercado. Os gráficos seguintes apresentados pelo especialista ilustram, na sua opinião, que o conjunto de oportunidades para os bond pickers melhorou significativamente, apontando para melhores oportunidades de alfa.

A dispersão dos spreads oferece boas oportunidades de alfa

Fonte: Schroders.