Quatro razões para estar otimista em relação às obrigações em 2023

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Créditos: Liz Sanchez-Vegas (Unsplash)

Há razões para estar otimista em relação às obrigações? Segundo Paul Grainger, responsável de obrigações globais e de divisas da Schroders, e James Bilson, estratega de obrigações na empresa britânica, sim. Citam quatro em particular. “Em primeiro lugar, há indícios de que as pressões inflacionistas estão a diminuir, lideradas pela desinflação norte-americana. Segundo: o abrandamento do crescimento, sobretudo nos EUA. Em terceiro lugar, os bancos centrais estão mais próximos de terminar os seus ciclos de aumento de taxas, em particular nas economias mais sensíveis a estes movimentos. E, por último, as valorizações das obrigações são atrativas, com yields muito superiores às de há um ano”.

As pressões inflacionistas diminuem

O aumento da inflação complicou as perspetivas das obrigações em 2022, mas - segundo os especialistas - há sinais promissores para 2023. “A inflação dos bens tem sido o principal indicador do aumento da inflação nos últimos 18 meses e estamos a começar a ver provas mais claras de que isto se está a inverter - o chamado efeito chicote (bullwhip effect, em inglês) que temos estado à espera. Embora indicadores como os custos mundiais de transporte e os inquéritos ISM/PMI tenham vindo a apontar esta dinâmica há algum tempo (gráfico 1), estamos agora finalmente a começar a vê-la refletida nos dados oficiais de inflação (gráfico 2) e acreditamos que isto pode continuar em 2023”.

Embora acreditem que o caminho para o objetivo de inflação de 2% pode ser, em última instância, difícil devido à maior rigidez da inflação dos serviços, também consideram que as melhorias iniciais relativamente rápidas que esperam ver no primeiro trimestre de 2023 devem ser favoravelmente acolhidas pelos mercados. “Isto traduzir-se-á num contexto mais favorável para as obrigações mundiais, menor volatilidade das obrigações e oportunidades em ativos como a dívida de determinados mercados emergentes em divisa local e divisa de mercados emergentes”, afirmam.

Endurecimento das condições financeiras continua a contribuir para o abrandamento do crescimento

Grainger e Bilson continuam preocupados com o facto de o impacto do endurecimento das condições financeiras que temos observado ao longo de 2022 não ter sido plenamente refletido nos principais dados económicos. “Os indicadores mais atrasados, como a despesa dos consumidores e, em particular, o mercado de trabalho, continuam a mostrar resiliência, apesar do acentuado enfraquecimento dos indicadores avançados, como a habitação. A nossa previsão é que nos próximos meses veremos sinais mais claros de que o endurecimento das condições financeiras está a afetar o crescimento, especialmente nos EUA. Isto irá encorajar os bancos centrais a pausar o endurecimento da política monetária e a reavaliar a situação”.

Na sua opinião, será uma notícia positiva para as obrigações soberanas mundiais. “No entanto, deixa um panorama mais complicado para os ativos cíclicos como as obrigações corporativas, com o vento favorável de uma menor inflação e volatilidade, face ao desafio do impacto de uma economia mais fraca nos lucros das empresas, uma receita para um panorama agitado”.

Divergência económica oferece oportunidades em todos os mercados

No entanto, nem tudo é mau. Embora acreditem que o efeito atrasado do endurecimento das condições financeiras ainda não foi totalmente sentido, especialmente nos EUA, e que se tornará mais evidente em 2023, há cada vez mais indícios de que outros importantes obstáculos para a economia possam estar a reduzir a sua intensidade.

“Por exemplo, embora não acreditemos que a crise energética e do gás que a Europa atravessa tenha terminado, há motivos para sermos prudentemente otimistas e pensar que o pior da crise já passou. Esta calma, se se mantiver, implica um declínio da atividade mais moderado do que se temia. Para os mercados financeiros isto é essencial. Pode dar lugar a uma rentabilidade inferior dos bunds alemães em comparação com as obrigações do Tesouro norte-americano”.

Ciclos de aumentos de taxas diminuem nas economias mais sensíveis às taxas de juro

Por último, os especialistas da Schroders continuam preocupados com o facto de que a velocidade e a escala do endurecimento da política monetária a nível mundial possam ter consequências nas economias em que a dívida das famílias e a relação entre o preço da habitação e os seus rendimentos são elevadas. “Isto pode reduzir a capacidade dos bancos centrais destas economias para endurecerem a sua política antes que as vulnerabilidades dos setores de consumo e imobiliário os façam fracassar”.

Acreditam que isto oferece importantes oportunidades de valor relativo, para estarem longos numa base cruzada de mercado de obrigações dos países mais vulneráveis (Suécia, Canadá, Reino Unido) com os menos afetados (EUA e Europa), ou, alternativamente, estarem curtos nas divisas destas nações mais vulneráveis. “Em conjunto, 2022 foi um ano difícil para os mercados de capitais, mas o impacto da crise deu lugar a um aumento das yields e a um contexto muito atrativo para as obrigações do ponto de vista da valorização”, resumem.