O interesse dos investidores em relação à comercialização destes produtos foi imediato, registando captações em apenas um mês de 1.000 milhões.
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A transferência que está a acontecer de fundos de ações de gestão ativa para estratégias de gestão passiva está a dar lugar a fenómenos interessantes. Um deles é a importância cada vez maior que os ETFs e produtos indexados estão a ganhar em entidades que, historicamente, tinham baseado o seu negócio na comercialização de fundos de gestão ativa. O caso mais chamativo é o da Fidelity Investments. À semelhança do que outras empresas fizeram, como a J.P. Morgan AM, a Legg Mason Global AM ou a Goldman Sachs AM, a gestora americana tomou a decisão de, há uns anos, entrar no negócio da gestão passiva… e assim entrar em cheio na guerra das comissões que esta indústria vive.
Para compreender o que está a acontecer é importante estudar o contexto. Ao longo dos últimos anos, nos Estados Unidos, a transferência de dinheiro de fundos de gestão ativa para produtos de gestão passiva foi brutal. Esta tendência afetou com maior virulência os produtos de ações, sobretudo os que concentram o seu universo de investimento no mercado norte-americano. A razão jaz no custo. O investidor descobriu que o fracasso tende a estar positivamente ligado às comissões. Esta afirmação baseia-se em estudos realizados por empresas como a Morningstar, onde demonstravam de forma científica a veracidade deste facto.
Desde o ano 2000, os fluxos líquidos até 20% dos fundos incluídos no primeiro quintil por preço (os mais baratos) mostraram-se muito fortes. No ano passado, estes produtos registaram captações líquidas no valor de 949.000 milhões de dólares, o que representa o nível mais elevado registado até agora e um crescimento de 60% em relação a 2016. 70% dos produtos mais económicos eram estratégias de gestão passiva, enquanto 30% correspondiam a fundos ativos. Em relação aos fluxos de até 80% de produtos restantes, estes foram negativos. Sofrem saídas líquidas desde 2014. Em 2017 perderam 251.000 milhões, face aos 414.000 que se lhes esfumou um ano antes.
A Fidelity está a viver em primeira mão esta migração para os ETFs e fundos indexados (ver gráfico) e entrou em cheio na guerra de comissões que a indústria de gestão passiva vive, colocando à disposição dos investidores americanos produtos com comissões de 0%. Torna-se, assim, na primeira entidade em colocar à disposição dos investidores americanos produtos que, em teoria, não trarão nenhum custo associado. Indicam-no até no próprio nome dos produtos. Trata-se concretamente de um fundo de ações americanas, o Fidelity ZERO Total Market Index Fund, e outro de bolsa internacional, o Fidelity ZERO International Index Fund.
A reação dos investidores não se fez esperar e o dinheiro começou a entrar em força nestes produtos. Apenas no mês de agosto captaram 1.000 milhões de dólares. O que mais fluxos atraiu foi o Fidelity ZERO Total Market Index Fund, que recebeu captações no valor de 750 milhões de dólares, enquanto o segundo atraiu quase 250 milhões. Para colocar em perspetiva o sucesso conseguido pela entidade basta realçar que os fundos indexados da Fidelity sobre o S&P 500 tinham aproximadamente 4.000 milhões de dólares em ativos, enquanto os produtos indexados de bolsa internacional não alcançavam os 1.000 milhões.
Os investidores americanos estão fartos de pagar comissões altas por rentabilidades baixas e decidiram passar à ação. Isto está a obrigar as gestoras ativas a reagir em várias frentes. Em primeiro lugar, diminuindo taxas. As comissões tanto dos fundos de gestão ativa como de gestão passiva tinham vindo a reduzir ao longo dos últimos 20 anos, embora ainda exista um grande gap entre ambas as tipologias de produto, tanto em relação às estratégias de ações como de obrigações. E, em segundo, eliminando da sua gama aquelas estratégias que não ofereçam valor para o cliente, sobretudo os denominados closet trackers, fundos que se limitam a fazer uma gestão muito próxima do índice cobrando por isso comissões de gestão ativa.