Que gestoras estão a revolucionar os seus modelos de comissionamento?

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A pressão que está a ser exercida sobre os ETFs e fundos indexados nos Estados Unidos, onde já constituem 40% do total do património gerido pela indústria americana, está a obrigar as gestoras a redefinir os seus modelos de comissões, com o objetivo de atrair um investidor que nos últimos anos se cansou de pagar elevadas comissões por fundos que nem sequer foram capazes de bater os seus próprios índices. O caminho que está a ser seguido por muitas entidades é o mais simples: reduzir comissões. Segundo um estudo realizado pela Morningstar nos Estados Unidos, a percentagem de gastos totais (TER) médios ponderados por património viveu desde 2000 uma progressiva tendência de queda que deixou o custo médio à volta dos 0,6%, o nível mais baixo da história.

No entanto, existem outras vias, como por exemplo reformular os modelos de cobrança de comissões, um caminho que muitas entidades parecem receosas de seguir. Não há muitas que, por agora, estejam dispostas a recorrer ao mesmo. Uma sondagem realizada pela Funds People com os responsáveis de 50 gestoras internacionais revela que 80% das entidades não têm previsto alterar a sua política de preços, enquanto 12% prefere não fazer nenhum tipo de comentário sobre esta questão. Apenas 8% (quatro empresas) revelaram quais são os seus planos. A última a fazê-lo foi a Fidelity, que adotou um novo modelo de tarifas que passará a aplicar a 1 de março em várias estratégias de ações, o que denominaram de Comissão de Gestão Variável (CGV). Funciona como uma escala gradual e possibilita uma dupla forma de dividir o risco e a rentabilidade.

A gestora irá reduzir 0,10% a comissão anual de gestão nas classes de ações com CGV. A parte variável da comissão aumenta ou diminui se o fundo superar ou se for superado pelo indíce de referência acordado previamente, depois de comissões e gastos. Esta escala chega até a um máximo de +0,20% sobre a comissão anual de gestão (topo) e decresce até -0,20% abaixo da comissão anual de gestão (mínimo). Os níveis máximos e mínimos da comissão alcançam-se quando o fundo superar ou for superado pelo correspondente do índice de mercado em +2% ou -2% em taxa anual, calculado sobre o período contínuo de três anos. A comissão apenas começará a aumentar a partir do nível inicial quando o fundo já tiver superado o índice de mercado depois de comissões e gastos (ler mais sobre o modelo Fidelity).

O modelo Candriam

No entanto, a Fidelity não está sozinha nesta aventura. Há mais entidades que aplicam modelos semelhantes. De facto, algumas já o fizeram há muito tempo, como é o caso da Candriam, que há mais de cinco anos decidiu modificar a estrutura das comissões da gama de fundos tradicional (gama direcional com objetivo de bater um índice de referência) para alinhar o mais possível os interesses dos clientes com os da gestora e cobrar menos comissões no caso dos seus fundos de gestão ativa não serem capazes de bater os índices. Nas classes destinadas a investidores institucionais realizou um ajuste importante das comissões de gestão em obrigações e, em paralelo, acrescentou comissões de gestão em ações que têm a particularidade de que apenas são cobradas se baterem o índice de referência.

Para proteger os investidores de uma excessiva tomada de riscos, estas comissões de rentabilidade apenas são cobradas na íntegra em diferido, já que contam com um mecanismo de diluição de 1/3 por ano. De tal forma que, se em um ano se bater o índice, a comissão de rentabilidade apenas cobra a sua totalidade durante os três anos seguintes. Ou seja, é necessário manter uma consistência na rentabilidade adicional a respeito do índice. O resultado desta nova estratégia de cobrança de comissões foi muito importante para o incremento de ativos provenientes de investidores institucionais.

O modelo da Allianz Global Investors

Já outros acabam de o implementar, como é o caso da Allianz Global Investors ou da Old Mutual Global Investors. A empresa alemã colocou inicialmente em prática nos Estados Unidos e Reino Unido. Nos Estados Unidos, para cada fundo indicam uma comissão de gestão básica e um objetivo de rentabilidade face à taxa crítica de rentabilidade. O teste de rentabilidade baseia-se na rentabilidade líquida registada num período de 12 meses consecutivos, calculada a partir do valor líquido da classe de ações face à taxa crítica de rentabilidade. Depois de determinar a rentabilidade para o período de 12 meses, incrementa-se ou reduz-se a comissão de gestão conforme o rácio de rentabilidade do fundo, até um limite máximo ou mínimo definido. Uma vez ajustada, aplica-se esta comissão ao património líquido do fundo durante o período de 12 meses.

No Reino Unido, a gestora calcula a comissão de rentabilidade para a classe de ações e soma (inclui no valor líquido da carteira) com base na rentabilidade adicional líquida acumulada por essa classe (líquida de gastos e comissões e sempre que supere o índice de referência). A comissão de sucesso é paga apenas quando houver um retorno adicional líquido positivo no final do ano fiscal (ou quando se finalize o período de detenção do investidor, se for inferior). “Estes modelos de comissões não são os indicados para qualquer mercado ou qualquer cliente, e apresentam desafios para os gestores na planificação dos seus orçamentos, mas fazem com que o preço seja mais atrativo para aqueles que mudaram para a gestão passiva nos últimos anos”, afirma Andreas Utermann, CEO da Allianz Global Investors.

O modelo da Old Mutual Global Investors

No caso da Old Mutual Global Investors, a gestora lançou, em novembro de 2017, novas classes com comissões de gestão anuais e uma comissão de performance (performance fee) para alguns dos seus fundos, como o Old Mutual North American Equity. O fundo possuía já as classes habituais (A, I), mas estas novas foram denominadas de P1 e P2 (P de performance). O objetivo que pretendem alcançar através deste novo modelo é competir, em termos de comissão fixa, com os ETFs. Desta forma, a comissão é mais baixa, mas a vantagem é que continua a ser um produto de gestão ativa que bate o índice, como é o caso desta estratégia. A comissão de performance cobrada é de 20%, sempre que se ultrapasse o índice acima de um determinado nível (high water mark). A comissão fixa é de 15 pontos base para a classe limpa e de 80 pontos base para a classe com retrocessão. Por agora, aplicam este novo modelo apenas neste produto, ainda que, no futuro, a intenção da entidade seja implementá-lo também noutras estratégias.