Que impacto pode ter o referendo grego sobre algumas classes de ativos?

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Stéfan, Flickr, Creative Commons

Se na semana passada as bolsas experimentaram fortes subidas perante o otimismo dos investidores sobre um possível acordo entre a Grécia e os seus credores, os acontecimentos dos últimos dias mudaram claramente esse sentimento, para uma tendência de queda. Com isto sofreram tanto os mercados bolsistas como as obrigações. Há várias semanas que as gestoras internacionais têm vindo a insistir que depois da “contagiosa” crise da dívida soberana de 2012, as autoridades europeias têm trabalhado ativamente nos últimos três anos para instalar barreiras que impeçam o contágio. Agora, o que pode acontecer a curto prazo?

David Zahn, responsável da equipa de ações europeias da Franklin Templeton Investments, é dos que veem o copo meio cheio, já que afirma que “a crise grega abrirá oportunidades de compra de obrigações de Espanha e Itália”. Zahn  acredita que a instabilidade provocada pela ruptura das negociações terá um efeito controlável e passageiro: “A Europa está bem preparada para superar esta crise. A Grécia não tem um peso muito relevante, e espero que o BCE seja suficientemente energético para estabilizar os mercados com o apoio do Eurogrupo”.

Obrigações portuguesas mais afectadas?

O especialista prevê que o último capítulo do drama grego tenha um impacto a curto prazo sobre o euro; neste contexto, a previsível volatilidade nos periféricos pode oferecer uma boa oportunidade de compra. “Aparecerão oportunidades para os investidores nos próximos dias, especialmente para Espanha e Itália”, sublinha, embora alerte sobre a probabilidade de que as obrigações portuguesas possam ser mais afectadas pela crise grega. Da BlackRock, Russ Koesterich, chefe de estratégia global da entidade, refere que o cenário base da gestora aponta para que “as autoridades europeias vão fazer um esforço para minimizar o contágio, e também para diminuir o impacto nos outros mercados financeiros europeus. Para além disso, o sentimento de curto prazo conduzido pelas quedas de preços, é limitado”.

Quem também mantém uma postura construtiva é David Stubbs, estratega de mercado global da J.P. Morgan AM, que afirma que “já sabíamos que a situação provocaria volatilidade entre os ativos europeus este ano”. O principal cenário a partir do qual a empresa continua a trabalhar é o de uma recuperação económica acompanhada de políticas monetárias agressivas, que apoiarão o crescimento dos lucros empresariais. “Tanto as ações como a dívida das empresas europeias de qualidade deverão registar um bom comportamento num contexto deste tipo, recompensando os investidores que permaneçam investidos. E se os ativos de risco registarem fortes correções nos próximos dias, consideraremos essa situação como uma oportunidade de compra”, conclui Stubbs.

“Temos sublinhado muitas vezes que a fragilidade da Europa é resultado de uma união monetária marcada pela falta de integração política. As extenuantes negociações dos últimas dias têm sido um claro sintoma disso. No entanto, a possibilidade concreta de que um país saia da Zona Euro pode atuar como um maior estímulo para acelerar a integração”, observa Giordano Lombardo. O diretor de investimentos da Pioneer Investments entende que o que quer que aconteça durante os próximos dias “é um teste sobre o futuro da Zona Euro, e tem implicações muito mais vastas do que apenas para a República helénica per si”.

Neste contexto, Giordano Lombardo também chama a atenção acerca do aumento de volatilidade resultante da imposição de um referendo que pode ter consequências duplas. Como já lhe tínhamos referido, o CIO da gestora entende que não há razão para pânico. “A Zona Euro está muito melhor preparada do que há quatro anos atrás para um evento de crise desta magnitude, com uma exposição direta a ativos gregos relativamente baixa a nível internacional”. Para além disso, assinala que as instituições europeias, e especialmente o BCE, atuarão para combater um possível excesso de volatilidade: “O atual programa QE e todos os instrumentos que o BCE acrescentou à sua caixa de ferramentas, incluíndo o OMT, deveriam evitar um contágio”, declara.