Que impacto tiveram os estímulos fiscais na recuperação económica

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As ações que levaram a cabo os bancos centrais e os governos para travar a recessão económica que trouxe consigo o coronavírus foram extraordinárias. Os primeiros optaram por manter as suas políticas de taxas a 0% e acompanhá-las de novos estímulos monetários, e os segundos puseram em marcha políticas fiscais que superaram qualquer recorde visto em crises passadas.

Basta ver este gráfico que partilhou Adrien Pichoud, responsável pelas estratégias multiativos da Oyster (iM Global Partners) numa recente conferência de imprensa e que demonstra a importância dos planos de estímulos dos governos para evitar uma queda ainda maior da economia.

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Neste gráfico vê-se como essas medidas foram especialmente importantes nos mercados desenvolvidos. De facto, os planos de estímulos nessas economias contribuíram para 13% do PIB das mesmas, quando na anterior grande crise, a financeira de 2008, esse número nem sequer chegou a 6%. Números que crescem substancialmente quando se analisa o impacto no PIB por países, como publicou a consultora McKinsey.

Continuará a ser importante em 2021         

Resta saber se esta percentagem continuará ou não neste 2021, que ao contrário de 2020, apresenta a priori mais pilares nos quais se pode apoiar o crescimento económico. “Um dos principais fatores que impulsionam a recuperação foi o importante apoio fiscal que os governos proporcionaram no ano passado e vão continuar a proporcionar em 2021”, afirma Pichoud.

Em concreto, Libby Cantrill, responsável de Políticas Públicas e Tiffany Wilding, economista especializada nos EUA da PIMCO, acreditam que o último plano de estímulos aprovado nos EUA após a vitória de Joe Biden “poderá elevar o défice do governo federal em 2021 para mais de 3,5 biliões de dólares – um nível sem precedentes – e contribuir para um crescimento real do PIB em 2021 de mais de 7%”. Vale referir que isto é algo que só aconteceu três vezes nos últimos 70 anos.

Os outros pilares da recuperação

Além disso, é previsível que à medida que vá avançando o ano e se consiga uma maior percentagem da população mundial vacinada contra o coronavírus, se levantem as restrições que ainda dominam grande parte do mundo e se recupere a atividade económica que foi interrompida de uma maneira abrupta devido à COVID-19.

Atualmente, os primeiros dados que se conheceram neste 2021 são animadores ainda que a incerteza continue a ser alta. Por exemplo, na zona euro o dado adiantado do PMI de fevereiro foi de 48,1 pontos e ainda que seja superior ao visto em janeiro, continua a estar abaixo dos 50 pontos que marcam a linha entre uma recuperação e uma contração económica.

Nos EUA o dado do ISM industrial superou, contudo, os 60 pontos marcando um máximo de três anos. Não obstante, falta tempo ainda para falar de normalidade e uma amostra disso vê-se no índice de Regresso à Normalidade que elaborou a Columbia Threadneedle nos EUA. No relatório analisam o tempo que as pessoas dedicam a um vasto leque de atividades fora de casa (escola, viagens, lazer, trabalho ou compras) e conclui que ainda estão 40% abaixo dos níveis de atividade pré-coronavírus.

Haverá retirada de estímulos antes do tempo?

Perante esta incerteza que deixa a evolução da economia, parece claro que os estímulos que os bancos centrais e os Governos forneceram no ano passado continuam a ser ainda mais necessários para apoiar a recuperação económica. O problema é que no mercado está a começar a prever que talvez a retirada dos mesmos possa acontecer antes do previsto. E a causa disso é o aumento da inflação.

No entanto, embora o aumento da inflação seja um risco a ter em conta, sobretudo sabendo o que está por detrás das fortes quedas que se têm verificado nas últimas semanas no mercado obrigacionista, são mais os que acreditam que esta recuperação será temporária devido aos preços das commodities. Tradução: por enquanto, não deve representar uma ameaça às políticas acomodatícias. “Para levar a cabo uma retirada dos estímulos, os bancos centrais devem estar convencidos de que não atuará como um travão ao crescimento económico. Caso contrário, deverão mantê-lo”, afirma Pichoud.

Além disso, segundo recordam na Portocolom, a história do passado não basta de todo para fazer previsões nesta crise. “Acreditamos que, neste cenário, os modelos de previsão económica e sobre inflação têm uma validade relativa, já que as circunstâncias atuais não têm precedentes”, afirmam.