De acordo com o último relatório Expected Returns 2024-2028 da Robeco, os próximos cinco anos serão marcados pela fricção causada pelo investimento de capital em às custas da mão de obra; a batalha entre a política fiscal e monetária e a deterioração das relações EUA-China.
Que rentabilidades um investidor pode esperar das principais classes de ativos nos próximos cinco anos? A Robeco apresentou a última edição do seu relatório de Expected Returns, abrangendo o período 2024-2028. Nele, a gestora determina três importantes dinâmicas de poder que vão moldar o cenário económico nos próximos anos. Estes ocorrem devido à fricção causada pelo investimento de capital em detrimento da mão de obra; a batalha entre a política fiscal e monetária e a deterioração das relações entre os EUA e a China.
Se esses jogos de poder forem geridos, a principal hipótese de Robeco é a de estagnação económica, com uma leve recessão em 2024 e a estabilização da inflação em torno de 2,5% em média até 2029. Por um lado, o cenário positivo significaria a adoção precoce e generalizada da inteligência artificial, o que levaria a um grande progresso tecnológico que causaria alterações desinflacionárias da oferta na economia mundial. Por outro lado, um cenário negativo seria um clima de desconfiança entre as superpotências, o que levaria a um baixo crescimento e à estagflação.
“Embora a convergência de forças de poder aumente a probabilidade de resultados extremos, também abre a porta para estratégias de investimento diversificadas que podem prosperar numa variedade de cenários. Estamos a passar lentamente de uma época de baixas taxas de juro e prémios de risco de ações elevados para uma época com taxas de juro mais elevadas e prémios de risco mais baixos, uma vez que as ações dos EUA continuam caras. Por outro lado, as obrigações corporativas têm um valor justo e, com base no nosso cenário principal, as perdas por incumprimento são moderadas, levando a uma rentabilidade ajustada ao risco muito semelhante à média histórica”, explica Laurens Swinkels, responsável de Estratégia Quantitativa para soluções sustentáveis de multiativos da Robeco.
Rentabilidades num cenário bullish e bearish
No cenário bullish, em que a IA ganha asas, as empresas de tecnologia aparentemente caras continuam a ter um bom desempenho, e a produtividade aumenta noutros setores, o que se traduz numa previsão de rentabilidade de 11% para os acionistas.
No cenário bearish, em que o risco é reduzido, os bancos centrais devem combater a inflação incentivada pelos governos, que resulta em menor crescimento real e, portanto, menor rentabilidade sobre os ativos de risco, de 2,5% ao ano no caso das ações.
Triplo jogo de poder
“O aumento da multipolaridade e do trabalho e o fim da tolerância monetária são dinâmicas fundamentais que os distribuidores de ativos devem supervisionar. A promessa de IA generativa só aumentou as apostas. O auge das capacidades tecnológicas na economia atual aumentou as chances de disputas. Na nossa opinião, estamos a entrar numa economia de jogos de poder”, afirma Peter van der Welle, estratega de Multiativos da Robeco.
- Capital versus mão de obra: Nas últimas décadas, os lucros das empresas atingiram máximos históricos, enquanto a quota na economia dos salários diminuiu. Os lucros das empresas podem ser prejudicados devido à relocalização. A relocalização de empresas ou o regresso da produção ao país de origem poderá dar mais poder de negociação aos trabalhadores. Um interesse renovado no aumento das receitas do imposto sobre as sociedades pode fazer pender a balança a favor da mão de obra. O resultado da instável guerra entre o capital e a força laboral dependerá da evolução salarial no contexto de um mercado de trabalho ajustado e de uma inflação persistente. A relação entre desemprego e salários tende a ser menos proporcional quando aumenta a inflação tendencial.
- Autoridades orçamentais vs. bancos centrais: As políticas em resposta à pandemia passaram de abordagens monetárias para orçamentais. Os governos que implementarem medidas de estímulo orçamental podem aumentar a inflação, enquanto bancos centrais fortes mitigariam o impacto. Governos que priorizam a segurança e o clima em detrimento da prudência fiscal podem estimular a inflação. Os bancos centrais podem combater a prodigalidade do governo com políticas monetárias flexíveis quando a inflação estiver acima da meta.
- EUA vs. China: A multipolaridade é evidente, dada a competição entre a China e os EUA pelo domínio tecnológico. O dividendo da paz parece ter desaparecido e as tensões comerciais podem abrandar o crescimento do PIB mundial. Os esforços dos governos ocidentais para manter o status quo poderá envolver maior regulação, aumento dos gastos militares e aumento do intervencionismo económico.