Queda nos preços das obrigações tem carácter mais estrutural

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As declarações do presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed) na semana passada, sinalizando um abrandamento do programa de compras a partir de final do ano, provocaram quedas nos preços das obrigações, assim como nas acções, sendo esperado que os mercados mais especulativos possam sofrer quedas mais prolongadas.

“A reacção dos mercados financeiros foi genericamente de queda de preços a nível global e de apreciação do dólar”, afirmou Carlos Pinto Ferreira, da Millennium Gestão de Activos.

Distinguindo os tipos de impactos refere que a queda do preço das obrigações tem “um carácter mais estrutural, correspondendo a uma normalização do nível das taxas de juro de médio/longo prazo dos EUA relativamente aos mínimos históricos em que as mesmas se encontravam.”  Assim, acrescenta, as taxas a 10 anos “regressaram a níveis superiores a 2%, traduzindo um pequeno prémio face ao nível de inflação objectivo da Reserva Federal”. Carlos Pinto Ferreira considera que a subida “tenderá a ser moderada pelas implicações negativas que poderá ter sobre a própria recuperação económica e pela maior disponibilidade dos investidores institucionais, designadamente fundos de pensões, em investirem em activos com taxas mais compatíveis com a evolução expectável das suas responsabilidades”.

Já no caso das acções, a queda significativa verificada nos preços “terá porventura características mais conjunturais, uma vez que a melhoria de fundamentos económicos que justifica a acção da Reserva Federal e a subida das taxas de médio/longo prazo é igualmente favorável para as vendas e margens das empresas”.

Carlos Pinto Ferreira diz ainda que os mercados mais especulativos, “onde o suporte das valorizações assentou na abundância de liquidez, tenderão a sofrer quedas mais prolongadas, decorrentes, num primeiro momento, da inversão das estratégias de ‘trading’”. A dimensão destes ajustamento, acrescenta, “poderá ditar num segundo  momento, a saída de outras tipologias de investidores, até porque os princípios que determinaram a entrada nestes mercados pode ser posta em causa pelas implicações da reacção exacerbada dos preços”.

A Fed clarificou na semana o calendário de eliminação dos estímulos à economia, realizado através do programa de compra de activos, com o seu presidente, Ben Bernanke, a referir que, se a evolução económica acontecer em linha com as projecções, prevê abrandar o ritmo de compra de activos no final deste ano e deixar de as efectuar a partir de meio do próximo. Neste sentido, Carlos Pinto Ferreira acredita que as taxas directoras “devem permanecer estáveis” e adianta que “ainda não se está a considerar uma eventual venda dos títulos” adquiridos ao longo da vigência deste programa quantitativo.