Quem é que não está a vender ações?

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LendingMemo, Flickr, Creative Commons

Tão importante como saber quem está a vender ações por esta altura é ser consciente de que tipo de investidores decidiram permanecer no mercado apesar da tormenta que invadiu as bolsas desde o início do ano. Os fundos soberanos têm estado a desfazer-se de parte das suas carteiras para fazer face ao desafio que representa para as contas do seus países um barril de petróleo em torno dos níveis atuais. Isto teria obrigado outro tipo de investidores a vender para não ultrapassarem os seus limites de risco, como por exemplo os fundos VAR ou algumas empresas de seguros. Tratariam-se de vendas forçadas motivadas pelo efeito de arrasto num contexto em que a China, o crude, o medo de um erro de política monetária, a debilidade dos resultados empresariais correspondentes ao quatro trimestre de 2015 têm gerado muita incerteza.

No entanto, no meio deste momento de confusão sobre a direção dos mercados, existem investidores que permanecem investidos. Segundo explica Jaume Puig, diretor geral da GVC Gaesco Gestión “o investidor institucional de longo prazo, onde efetivamente se encontra a grande maioria do volume, não está a afectuar vendas. Pode observar-se este facto mediante o escasso volume negociado com o qual se estão a produzir estas descidas de princípio de ano. Os volumes negociados são muito moderados em comparação com os dos últimos anos. Por exemplo, no EuroStoxx 50, os volumes negociados atuais são aproximadamente metade relativamente aos que existiram nas descidas de agosto de 2011, de maio de 2012 ou de outubro de 2014”, sublinha Puig. Mas... Quem são na realidade estes grandes investidores institucionais? Tal como revela David Cienfuegos, diretor de investimentos da Towers Watson, pode falar-se de vários perfis.

Em primeiro lugar estão os fundos de pensões de benefício definido. “Tratam-se dos maiores fundos de pensões do mundo e dominam o mercado. São investidores estratégicos, a longo prazo, que não podem reduzir a sua exposição a ações considerando o seu compromisso de pagar as pensões acordadas. Ao terem que fazer frente a fluxos de pagamentos, o que procuram é capturar o prémio de risco intrínseco nos mercados de ações”. A sua estratégia consiste em realizar uma estimativa de qual poderá ser a rentabilidade extra das ações em comparação com os ativos sem risco. Em função disso, realizam a alocação dos ativos. Decidir quanto vão destinar a cada classe de ativo é o mais importante para eles. É o típico investidor que muito dificilmente sairá do mercado de ações”, explica Cienfuegos.

CalPERS é o maior fundo de benefício definido do mundo. Trata-se do fundo de pensões dos empregados públicos da Califórnia e dos primeiros que começaram a ver o valor de investir no longo prazo, considerando que o seu horizonte de investimento permite que sejam ignorados os eventos de curto prazo no mercado. “Na conjuntura atual, todo o investidor institucional que tenha um objetivo de rentabilidade acima dos 5%, muito dificilmente estará fora dos mercados de ações. Isto não significa que não procurem mitigar as ocasionais perdas com estratégias de cobertura, o que fazem através da aquisição de opções out-of-the-money que lhes permitem recuperar parte das perdas”, revela Cienfuegos. Há que ter em conta que movimentar a carteira, quando se gerem volumes tão elevados pode ser contraproducente, quando se tem um horizonte de investimento a muito longo prazo. 

Esta tendência de não mover a carteira em função do momento do mercado e de a proteger utilizando coberturas deste tipo está a começar a acontecer nos fundo com contribuição definida, por exemplo em Espanha, onde os órgãos governativos dos grandes fundos de pensões estão a trabalhar com a entidade gestora para que não se produzam volte-faces repentinos na alocação de ativos e a estratégia de investimento seja o mais longo prazo possível. Neste sentido, os grandes fundos de pensões da CaixaBank, Repsol, Endesa, Telefonica ou Sabadell já dispõem de algum tipo de cobertura para não ter de vender ações. Outra coisa muito diferente resulta do facto da sua exposição às ações se ter vindo a reduzir gradualmente ao longo dos últimos três anos. Calcula-se que, aproximadamente, passaram de 35% que tinham em média a 36 meses para 25% atualmente, um movimento que não foi motivado pelas atuais condições de mercado mas sim pelas estratégias de asset allocation.

Outro tipo de investidores institucionais que não estão a vender ações são os “endowment”, ou seja, os grande fundos universitários americanos. São pioneiros ao nível do investimento institucional. Nos EUA existem 812 fundos deste tipo que gerem, conjuntamente, 530.000 milhões de dólares. O fundo da Universidade de Harvard conta com um património de 36.400 milhões enquanto o de Yale soma 23.900 milhões. Harvard é uma empresa privada e financia-se através das taxas pagas pelos alunos, com os antigos alunos a doarem para o “endowment fund”. Este fundo é que permite pagar aos professores, fazer a manutenção das instalações, fornecer bolsas de estudo e recompensar as equipas de gestão. O gasto anual que têm de fazer ronda os 3 a 5% do património do fundo e não tem horizonte temporal de investimento. É este perpetuidade que lhes permite ter uma visão de longo prazo. Não movem a sua carteira pelas flutuações de curto prazo. A tendência que se viu nos últimos anos foi a de reduzir o peso das ações e incluir mais estratégias alternativas em carteira.