Quem não for ESG que atire a primeira pedra

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 Ser ESG ou não ser? Parece que esta opção começa a deixar de ser isso mesmo… uma opção. E o mercado financeiro alinha-se na opinião de que esta é já uma pergunta com “algum cheiro a mofo”. Num debate que reuniu virtualmente Tiago Gaspar do Banco Carregosa, Eduardo Monteiro da BPI Gestão de ActivosMarta Martins da GNB Gestão de Ativos e Mikko Ripatti da DNB Asset Management, falou-se precisamente do contexto que estes profissionais enfrentam ao nível do investimento sustentável.

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fotografia__3_Neste ambiente que vivemos, e quando confrontado com questões como “gostariam de ter algum fundo ESG em carteira?”, Tiago Gaspar é contundente. “Nós respondemos que gostaríamos que todos os fundos seguissem esses critérios. É-nos difícil conceber um investimento que possa ser rentável a longo prazo, menosprezando critérios tão importantes como os de ambiente, sociedade e governo corporativo”, introduziu. Contudo, e como relevado por outros profissionais durante a conversa, uma das questões que se coloca em cima da mesa passa por perceber “qual é o standard ESG”, já que “consoante as normas ou as instituições há certos produtos que são carimbados como sendo ESG e outros como não  sem um critério uniforme e objetivo”. Uma coisa é certa, na sua perspetiva: “Essa standardização é  necessária”. 

Marta_Martins_GNBNa mesma linha de pensamento, Marta Martins assiste no mercado a “várias formas de ser ESG” e, na sua opinião “seria importante o refinar do critério do que isso significa, também para que haja uma maior pureza das estratégias e do trabalho de seleção”. Quando analisa alguns fundos, e mesmo nas conversas que tem com algumas casas gestoras, a profissional sente que as definições do que é ser ESG mudam. “Seria importante uma uniformização”, exclama. Ainda assim, a profissional só vê vantagens da incorporação destes critérios, já que “darão melhores ferramentas na seleção de empresas”. Explica que os critérios ESG salientam, acima de tudo, “empresas com crescimentos mais sustentáveis e mais robustos”, sendo isso, contas feitas, aquilo que almeja nas suas funções do ponto de vista do investimento.

Como se comportou o ESG durante a crise?

_DPH1677A abordagem de Eduardo Monteiro ao tema começou com um ângulo mais reflexivo sobre os resultados das estratégias sustentáveis. “O comportamento do ESG nesta crise foi muito positivo. Analisando com detalhe, pode dizer-se que esse comportamento não se deveu exclusivamente ao facto de os produtos terem esse viés. Por natureza, “o investimento ESG é quality growth, pois tem pouca ponderação em empresas industriais e de energia, que são claramente setores value, que foram muito penalizados nesta crise já que são setores muito cíclicos que sofreram com esta que é a maior recessão de sempre”. Assim, na sua visão, “há, portanto, algumas particularidades que ajudaram ao facto de um fundo ESG ter tido uma outperformance durante a pandemia”. Apesar disso, realça, “já antes da pandemia se denotava que nos mínimos dos mínimos o investimento ESG tem uma grande vantagem clara: limitar o risco do portefólio”.

Olhando para o futuro do mundo financeiro, o profissional da BPI GA salienta que devido a esta crise “se irá imprimir muito dinheiro”, e que essa “impressão monetária vai concretizar-se em muitos investimentos”. Estando esta temática do ESG em “voga”, acredita que “o investimento passará a estar claramente direcionado para as melhores empresas ESG”. Na entidade em que trabalha, atesta que “analisam do ponto de vista fundamental e do ponto de vista técnico as empresas”, incorporando também os critérios ESG nessas análises. A decisão de entrada de uma determinada empresa em carteira, passa, portanto pela “consulta das informações ESG dos vários providers”, conjuntamente com as “restantes informações” que existam sobre a empresa. Mas há algo que não lhe deixa margem para dúvidas: “Daqui a uns anos não iremos falar de ESG e critérios ESG. Tudo será ESG. Tudo!”.

Mikko RapattiA experiência nórdica de Mikko acabou por acrescentar à conversa uma perspetiva histórica. “Os países nórdicos já consideram estas questões há bastante tempo. O nosso primeiro fundo ISR foi lançado em 1989, por isso este não é um tema recente”, puxou da memória. Agora, e sendo um tema de “moda”, também é da opinião de que ainda “não existem padrões universais do que é o ESG”, o que acaba por causar alguma confusão e até greenwashing”. No mercado vê algo interessante: “Não conheço ainda nenhuma entidade que venha assumir-se como ‘não ESG’. Toda a gente afirma que o é”, assinala. Assim, acredita que a integração dos critérios ESG “é um processo de melhoria, com a necessidade de padrões, mais unificação, etc.”