O responsável máximo da gestora na Península Ibérica defende voltar a procurar ativos que ofereçam verdadeiramente descorrelação para o que prevê ser um cenário mais volátil a médio prazo.
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Num momentum de mercado de incerteza latente e maior volatilidade, o que Ralph Elder pede à sua equipa de Vendas é olhar para além do ruído de curto prazo e ajudar os seus clientes a fazerem o mesmo. “Entre janeiro e dezembro de 2023, os retornos foram positivos, mas a volatilidade dos mercados fez com que o ano tenha parecido complicado”, explica o diretor-geral da BNY Mellon IM para a Península Ibérica e América Latina. “Temos de pensar muito mais na viagem que queremos proporcionar aos nossos clientes, em suavizar essa experiência, e não tanto no objetivo final”, insiste.
“Com esta ideia de oferecer um serviço adicional que apoie os nossos clientes de forma personalizada, colocámos à sua disposição a Pinpoint, uma ferramenta que nos permite analisar carteiras e sugerir cenários que ajudam a otimizá-las”, comenta. O ano de 2024 está a ser um ano chave para a entidade: celebra 240 anos de atividade e anunciou há alguns meses a extensão da sua associação com a CIFC, uma aliança que permitirá o acesso a empréstimos diretos nos EUA através de uma plataforma de distribuição global para clientes na região EMEA.
As novas obrigações vão ser mais voláteis
Voltando às oportunidades de investimento, Ralph considera que há bastante consenso na indústria de que nos encontramos perante uma mudança de regime, após mais de uma década de bancos centrais acomodatícios. Se isso se realizar, o diretor considera necessário um trabalho pedagógico para explicar aos clientes que enfrentam aproximadamente cinco anos de transformação nos mercados. Mais volatilidade, mais dispersão. “Nem todos os fundos indexados vão ter bons resultados no futuro. Tal como nem todos os fundos geridos ativamente, pelo que é preciso fazer uma boa seleção”, insiste.
Por isso, embora as obrigações continuem a ser uma das grandes propostas da BNY Mellon IM, será com nuances, porque o diretor continua a ver os investidores focados no destino do seu investimento, na rentabilidade que esperam obter, e pouco na viagem que os levará até lá. E, na sua opinião, neste novo regime, pensar no caminho será fundamental.
No anterior ciclo económico, com o apoio permanente dos estímulos monetários, a aposta acertada era beta barato, seguir a direção do mercado. Atualmente, na sua opinião, as regras do jogo mudaram: “As novas obrigações vão ser mais voláteis”. Por isso, embora a gestora encontre oportunidades interessantes em segmentos como as emissões de curta duração e qualidade em high yield, bem como no crédito global e nas obrigações municipais, também insiste na necessidade de estratégias que forneçam uma verdadeira descorrelação.
Pensar também nos tail risks
“Também não temos de reinventar a roda. Já temos fundos, como o BNY Mellon Absolute Return Bond Fund, que, embora não tenham funcionado tão bem no contexto passado, navegam bem nos cenários de maior volatilidade”, aponta, porque não perde de vista os tail risks.
“Embora esteja longe de ser o nosso cenário base, não podemos ignorar que continuamos num contexto macroeconómico com muitas incertezas. Também temos de fazer as perguntas difíceis”, defende. “Por exemplo, o que acontecerá se, num ano de eleições, os estímulos fiscais mantiverem a inflação em alta e a Fed não puder descer tanto as taxas como o mercado espera?”.
Por isso, ao ter obrigações em carteira, defende estratégias globais. “Num contexto mais volátil, em que não há um único ciclo económico global e as trajetórias dos bancos centrais podem divergir, é preciso ter uma visão ampla para se poder captar todas as oportunidades”, afirma.
High yield e obrigações municipais
Dentro das obrigações, uma das áreas interessantes que Ralph Elder identifica é a das obrigações municipais. Continuam a ser uma classe de ativos pouco conhecida na Europa, mas o diretor observa que já estão a conquistar um lugar nas carteiras, principalmente como alternativa para acrescentar um pouco de duração em substituição de crédito e Tesouro americano.
Ralph vê oportunidades em high yield, mas com gestão ativa e prazos curtos para mitigar o risco de incumprimento, que pode aumentar num contexto de recessão. É a área de expertise do gestor do BNY Mellon Global Short-Dated High Yield Bond Fund, fundo com Rating FundsPeople em 2024, Ulrich Gerhard, que investe profissionalmente no mercado de dívida high yield a curto prazo desde 1998, praticamente desde o nascimento desta classe de ativos. “A qualidade creditícia média do segmento melhorou bastante em comparação com recessões anteriores, como a de 2008, e o cupão atual é muito interessante”, argumenta Ralph Elder. De facto, já se nota o interesse dos clientes por este nicho, não para a parte de obrigações das suas carteiras, mas para substituir parte da sua alocação a ações.
Subponderados em ações, exceto nos dividendos
É um movimento que Elder acredita fazer sentido, visto que, em comparação com o início do ano, a gestora também está subponderada em ações, à exceção das estratégias de dividendos. “O mercado está a descontar demasiadas notícias positivas. Acreditamos que isso vai colocar mais pressão nos lucros empresariais do que se pensa”, argumenta o diretor. Na sua opinião, atualmente há mais risco de descida nas ações, enquanto as obrigações, a estes níveis, estão a oferecer uma almofada de segurança caso a situação agrave.
A exceção, como já referimos anteriormente, são os fundos de dividendos, pela descorrelação que oferecem. Em primeiro lugar, a descorrelação com as próprias ações. “Tomemos 2023 como exemplo. Os fundos de dividendos não puderam investir nas Sete Magníficas porque as empresas tecnológicas não costumam repartir os lucros pelos acionistas”, recorda. E em segundo lugar, a diversificação face ao cupão das obrigações. A isto soma-se o facto de, agora, serem encontradas valorizações atrativas, porque a maioria das subidas das bolsas no ano passado concentraram-se nas ações de tecnologia, nas temáticas de inteligência artificial e semelhantes.