No contexto do evento de abertura oficial do hub em Portugal, a Nordea Asset Management celebrou também a sua primeira cimeira ESG na Estufa Fria, em Lisboa. Neste evento, entre os diversos momentos de informação e discussão, a entidade gestora juntou quatro profissionais do mundo da gestão de ativos numa mesa redonda, para discutir e partilhar oportunidades e desafios que a indústria enfrenta atualmente. Os ratings de sustentabilidade, SFDR e MiFID foram alguns dos temas abordados.
Ratings de sustentabilidade, greenwishing, MiFID… o que se aborda quando se fala de ESG?

Para Eric Christian Pedersen, as diferenças entre as metodologias e classificações dos diferentes provedores de ratings ESG são um desafio, mas também têm um lado positivo. “Se assim não fosse, apenas precisaríamos de um rating. Os ratings de crédito, por exemplo, são muito criticados por serem tão uniformes entre as diferentes agências. Na sustentabilidade, o facto de serem diferentes resulta de medirem coisas diferentes e isso não é, necessariamente, um problema. O utilizador tem que, isso sim, prestar muita atenção ao que fazem”, comenta.
Como explica o profissional da Nordea AM, alguns provedores têm em consideração dados históricos, outros aplicam uma visão mais dinâmica e focada no grau de mudança e evolução que observam nas empresas. “A análise entra no campo ético, ou apenas na materialidade do risco financeiro”, questiona.
“Para um distribuidor de fundos fazer uma apreciação adequada, há que fazer uma due dilligence aos provedores e perceber o que efetivamente está a ser medido. E é cada vez mais importante ter alguém que se dedique a isso. É uma análise muito mais complexa do que olhar apenas para um score final”, expõe.
1/4“Estou otimista acerca de todo o envolvimento do investimento responsável e ESG. Acredito que a SFDR é uma regulação bem conseguida, ao contrário de muitas outras”. Quem o diz é Jorge Sousa Teixeira, que vê nesta regulação uma filosofia muito aspiracional e não uma receita one-size-fits-all que limita a flexibilidade das entidades gestoras. No entanto, mostra as suas preocupações. “Estou menos preocupado com greenwashing do que estou com o greenwishing”, diz. “Não acredito que baste dinheiro para que os problemas se dissipem. Agregar mais dinheiro em fundos ESG, de artigo 8º ou 9º da SFDR, não vai resolver os problemas só por si. Há que fazer o chamado walk-the-talk, formar os colaboradores e executar uma política de investimento ativa na relação com as empresas, para as obrigar a moverem-se. De outra forma, dinheiro a fluir de fundos de artigo 6º para 8º pode não fazer a diferença só por si”, questiona.
“Acredito que vamos testemunhar uma série de eventos, escândalos, greenwashing, tal como observamos de tempos a tempos com controvérsias financeiras. Há que aprender com os erros e há que agir. É o novo normal.”, exclama.
Para o CEO da BPI GA, um ponto crítico em todo o processo está ao nível das lideranças. “Ter um CEO a ser o primeiro a introduzir o tema do ESG é crítico. Se o CEO não fala, ninguém escuta. Envolver as administrações dará peso e importância a esta temática nas instituições”, diz.
2/4Um dos grandes desafios que o mercado enfrenta ainda este ano é a necessidade de introduzir questões de avaliação de sustentabilidade, a par com a avaliação de adequação nos questionários a clientes. Quão preparados estão os clientes para isso? Cecília Siegbahn responde. “Não temos as soluções postas em prática. Não sabemos quais as soluções de investimento que estão a ter um maior impacto social e no ambiente. E isso é um desafio para a distribuição por dois aspetos relacionados com MiFID”, diz.
Primeiro, o foco na seleção de produtos. “Há que ser feita uma due dilligence sobre os critérios que um provedor aplica nos seus produtos, mas também confrontar esses critérios com a própria metodologia do distribuidor. Necessitamos de requisitos adicionais? Queremos que o provedor seja signatário dos PRI das Nações Unidas? Necessitamos mais áreas de exclusão?”, elenca a profissional. E sobre as exclusões, vai mais além nas dificuldades. “As exclusões podem ser frequentemente políticas. A energia nuclear é vista de uma forma em França que não o é na Alemanha, o que faz com que um produto de investimento pan-europeu tenha que ter múltiplos fatores em consideração”, afirma.
Em segundo lugar, Cecilia aponta como desafio a identificação da preferência de sustentabilidade nos inquéritos aos clientes. “Não existe um standard comum de questões a aplicar, mas mesmo que o houvesse, teríamos que interpretar e perceber o que representam”, indica. Dá um exemplo específico: “Se a pergunta estiver focada no alinhamento do produto com a taxonomia, um cliente que indique querer uma percentagem muito elevada de alinhamento não vai encontrar soluções que encaixem na sua preferência. Seria menos de 1% do universo”.
3/4No que se refere à sustentabilidade no aconselhamento financeiro, João Pratas, teme que a União Europeia esteja a dar sinais contraditórios sobre como pretende avançar. Por um lado, pretende que os gestores adotem cada vez mais critérios ESG na seleção dos seus investimentos, mas, por outro lado, parece estar a condicionar a forma como os produtos são apresentados aos clientes, aparentemente limitando a sua própria venda.
Para João Pratas, as classificações da SFDR devem ser encaradas como o reflexo da informação disponibilizada pelos gestores sobre como integram, ou não, os fatores ESG, na sua oferta de produtos. Isto, à exceção dos produtos artigo 9º, produtos cujo racional económico está diretamente ligado a fatores de sustentabilidade. “Pensemos, por exemplo, nas eólicas: o seu racional assenta na própria rendibilidade desse negócio”, exemplifica.
Assim, para os produtos que não são artigo 9º e numa perspetiva de MiFID, que procura adequar a distribuição ao perfil ESG de cada investidor, deverá, para João Pratas, haver uma dupla preocupação: “nos gestores/distribuidores não devemos ser obrigados a complicar o processo perguntando e explicando coisas demasiado técnicas e complexas aos clientes porque eles não vão querer, nem vão conseguir assimilar tanto pormenor e devemos fazer o disclosure daquilo que estamos a implementar em sede de ESG. Este disclosure deverá determinar, de forma gradual, que os clientes comecem a exigir produtos mais empenhados em ir ao encontro de objetivos ESG”.
“Em cinco anos, espero que já não seja necessário explicar a um cliente que estamos a agir com preocupações ESG, tal como não é preciso expor todos os procedimentos adotados para se prevenir o branqueamento de capitais. Para todos, trata-se de um pressuposto evidente. É isso que se deve esperar de nós. A diferença será a profundidade com que esse empenho é aplicado”, diz.
Para João Pratas, há que reorientar a forma como olhamos para o tema. “A classificação de SFDR veio para ficar, e em alguns anos espero que todos os fundos sejam, pelo menos, artigo 8º. Apenas desta forma podemos fazer a diferença e mudar o mundo. Só assim as empresas terão os incentivos adequados a integrarem os factores ESG na sua actividade, sendo elegíveis para as carteiras dos fundos de investimento”, diz.
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