Reino Unido elege novo primeiro-ministro: as reações das gestoras internacionais

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Créditos: Eva Dang (Unsplash)

Boris Johnson já tem um sucessor. A ex-ministra das Relações Exteriores Liz Truss impôs-se ao ex-chanceler do Tesouro Rishi Sunak como o novo líder tory (dos Conservadores). Assim, Truss será a primeira-ministra do Reino Unido.

Como aponta Georgina Cooper, gestora da Newton (BNY Mellon IM), Truss assumirá um país rodeado de incertezas com a crise sobre o custo de vida e os preços da energia. “A confiança dos consumidores está em mínimos históricos. A população enfrenta a probabilidade de novos aumentos no custo de vida durante o inverno, onde o atual subsídio de 400 a 650 libras na fatura da energia parece insignificante”, sublinha Cooper.

Prioridade: o poder de compra

Assim, a gestora considera que deve ser uma prioridade para a nova primeira-ministra abordar estes problemas em primeiro lugar, seja através de mais subsídios, benefícios fiscais ou da introdução de um novo limite no preço da energia. “Isto também pode ajudar na estabilidade salarial, onde as atuais greves também estão a afetar a produtividade e o sentimento do país”, afirma.

A inflação e o seu impacto nas famílias é uma das principais preocupações que também destacam da State Street. A recessão estagnada de 2022-2023 atingirá fortemente as finanças das famílias: até ao final de 2023, o verdadeiro poder de compra das famílias deverá ser inferior ao de 2007, antes da crise financeira. “Não é difícil avaliar os danos que tudo isto vai causar ao eleitorado”, afirma Elliot Hentov, responsável pela Análise de Política Macroeconómica.

E as gestoras são sinceras com o cenário que veem para a nova mandatária. “A combinação da recessão económica, do aumento do desemprego e da queda dos salários reais não antevê nada de bom para a sobrevivência política de qualquer governo”, diz. Na verdade, diria que Truss nem vai gostar do típico período de lua-de-mel no momento da tomada de posse. Provavelmente acabará por ter o mandato mais curto do que qualquer outro primeiro-ministro do último meio século, antes das eleições de 2024, que conduzam a uma mudança de governo.

Propostas de Truss

No entanto, a nova primeira-ministra apresentou as suas principais propostas para o país. Truss, como liberal económica, quer reduzir impostos e regulações. Mas com a dívida pública perto de 100% do PIB e o aumento dos custos dos juros, David Riley, diretor de Investimentos da BlueBay Asset Management, vê pouca margem de manobra fiscal. No seu discurso de aceitação, Truss reiterou o seu compromisso de reduzir impostos, mas também disse que a sua administração abordará o aumento das faturas energéticas e melhorará o serviço nacional de saúde.

Truss também propôs uma redução de impostos de mais de 300.000 milhões de libras. “Uma tentativa de estimular a economia e evitar uma possível recessão”, analisa Jean Roche, gestora de fundos da equipa pan-europeia de Pequena e Média Capitalização da Schroders. Outro apoio político poderá vir pela mão da reversão da subida de contribuições da Segurança Social introduzida pelo atual governo para impulsionar o financiamento da assistência social aos adultos. Outros 30.000 milhões de libras poderão obter-se através do Crédito Universal (pagamentos da segurança social), elevando os limites do imposto sobre o rendimento (o nível em que as pessoas começam a pagar impostos) ou mediante reduções no nível de IVA.

Outra das grandes questões que Roche acredita que a nova primeira-ministra deverá abordar é que medidas -  se é que as há - se podem tomar para ajudar as empresas. Os seus aumentos de preços têm refletido as subidas do custo do gás de forma imediata, sem o efeito retardado de um teto de preços, como é o caso dos consumidores domésticos. “As pequenas empresas têm visto quadriplicados os seus custos energéticos nos últimos 18 meses”, recorda a gestora.

Impacto nos ativos

Riley considera pouco provável que o mercado dos gilt britânicos e a libra recebam com bom grado um forte aumento da dívida pública num período de elevada inflação e aumento das taxas de juro, a menos que estejam suportados por um plano credível de desalavancagem e de dívida pública a médio prazo.

Claro que há sempre um lado positivo. Na opinião de Roche, as empresas energéticas continuarão a beneficiar da subida dos preços do gás e petróleo, como demonstra o aumento dos lucros anunciado por algumas das principais empresas energéticas. Uma série de setores também deverão oferecer refúgio aos investidores. Entre eles a banca, (com os bancos a beneficiarem da subida das taxas de juro), o setor farmacêutico e aero-espacial.