Na manhã de dia 6 de novembro de 2023, os resultados das eleições americanas já eram claros — Donald Trump era eleito o 47º presidente dos Estados Unidos da América, com controlo do senado e, possivelmente, da câmara dos representantes. Nessa mesma manhã, a FundsPeople teve a oportunidade de, em conjunto com a DNB Asset Management, conversar com profissionais da indústria sobre os possíveis desenvolvimentos do mercado global das energias renováveis.
Representará Donald Trump o fim das energias renováveis?
Jorge Silveira Botelho, responsável pela BBVA Asset Management Portugal, está confiante que “a roda das energias renováveis não vai parar de rolar e já ganhou momentum, e a eleição de Trump não a vai interromper esta dinâmica”, explica, reforçando que o movimento não é só americano, é também global. “A penetração deste tipo de energia, já se estende a muitas geografias e indústrias. Destaco em especial o vigor da transição energética na indústria automóvel, onde no mercado chinês é uma realidade indiscutível na produção de baterias e de veículos elétricos, bem como em alguns países na Europa. A própria indústria automóvel americana tem atualmente este foco, e não vejo esta nova administração querer inverter esta tendência, tanto mais que, uma atitude contrária poderá ter um impacto considerável a ponto de afetar este desenvolvimento.”
“O investimento na tecnologia das energias renováveis, no armazenamento de energia, na mobilidade elétrica, entre outros, é já demasiado forte para ser parado. Mas também acredito que Donald Trump irá aproveitar incrementar o investimento nas energias fósseis, para aproveitar os preços elevados do petróleo, uma vez que o pico de procura desta commodity está a chegar e ele irá ver, esta situação como uma oportunidade”, completa Jorge Silveira Botelho.
1/4Mikko Ripatti, responsável pela sucursal do Luxemburgo da DNB AM, começa por esclarecer que não acredita que esta seja uma questão binária: “Não é por Donald Trump ser eleito que vai ser tudo negativo”. “A realidade é que o grande inovador dos carros elétricos, Elon Musk, é quase o melhor amigo de Trump”. “As empresas, especialmente a indústria automóvel, se quiserem vender na Europa terão de produzir conforme as regras de cá, ou seja, o incentivo não precisa de vir necessariamente do governo americano. Diria até que pode ser uma boa oportunidade para investir neste setor (das energias renováveis), já que as valorizações foram ajustadas, no período pré-eleição, com a expectativa de vitória do Trump”, confessa o profissional.
Mikko Ripatti relembra também que o fundo de energias renováveis da DNB AM, o DNB Fund Renewable Energy, teve uma rentabilidade acumulada de quase 110% durante os quatro anos de presidência de Trump, no seu primeiro termo, mas deixa claro que “se foi por causa de Trump, ou apesar de Trump, é para cada um refletir”.
2/4André Almeida, especialista em Soluções de Investimentos da Santander AM, explora um lado diferente do tópico da sustentabilidade, o onshoring. “Há uns tempos deram-me um exemplo, que me marcou — o que é mais sustentável, um Toyota Prius ou um BMW M3?” À primeira vista a resposta parece simples, mas o profissional relembra que “o veículo mais eficiente é construído nos quatro cantos do mundo, enquanto o BMW tem grande parte das peças fabricadas num raio próximo à fábrica”. “Donald Trump quer impor tarifas para obrigar ao onshoring, numa tentativa de crescer a economia americana. Isto tem um efeito secundário, que é a redução das emissões pelo transporte”, conclui.
“Nas energias renováveis, mais concretamente no volume de investimento, acredito que uma descida de impostos pode acabar por compensar o possível fim do Green New Deal, reduzindo o impacto de acabar com o Green New Deal. Ao mesmo tempo, uma redução na burocracia e desregulamentação generalizada poderá permitir que novos investimentos, talvez mais ambiciosos, avancem”, explica o especialista em Soluções de Investimento da Santander AM.
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“O processo de expansão das energias renováveis não vai retroceder, isso para mim é garantido”, afirma Pedro Barata, diretor de Investimentos na ASK Gestão de Patrimónios. “No entanto, sou mais pessimista, porque acho que o pico da procura do petróleo e outras energias sujas ainda está longe. É verdade que nos mercados desenvolvidos se irá reduzir, mas a procura está a aumentar na Ásia, tirando a China, e em África, os dois focos principais de crescimento populacional. Globalmente, a indústria da aviação continua a crescer, esta que é uma indústria que representa uma parte significativa do consumo de petróleo”, acrescenta o profissional.
No tópico Donald Trump, Pedro Barata confessa que não vai na conversa do presidente. “Trump é uma fonte de volatilidade para qualquer indústria, mas nesta, em concreto, pode ter um efeito, já que irá incentivar a produção de petróleo e cortar subsídios e incentivos às energias renováveis. Não obstante, se as circunstâncias o permitirem, e os cifrões aparecerem, ele pode rapidamente mudar o seu discurso”, esclarece.
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