Ressurgimento da inflação: um risco a ter em conta com o regresso das Trumponomics

donald trump
Créditos: Vince Fleming (Unspkash)

A economia global, liderada principalmente pelos EUA e pelo seu setor de serviços, mostra uma resistência notável e 2025 está a configurar-se como um período de desafios moderados, mas significativos para a economia global em termos de inflação. Apesar de uma redução notável dos níveis inflacionistas desde os picos de 2023, a possível reativação das políticas económicas de Trump, coloquialmente conhecidas como Trumponomics, introduz tanto oportunidades como riscos inflacionistas, avisa Luca Paolini, estratega chefe da Pictet AM

Embora a desregulação e as reduções de impostos possam reforçar a confiança empresarial e o crescimento, as políticas mais disruptivas em matéria de comércio e imigração podem ter consequências na inflação. Em particular, um aumento do défice fiscal ou uma guerra comercial mundial podem sobreaquecer a economia norte-americana, reduzindo o seu PIB em 1,9% em 2025 e aumentando a inflação em 1,4%, segundo cálculos do profissional.

Não obstante, a Reserva Federal mantém-se alerta e prevê uma flexibilização da sua política monetária. O estratega espera que as taxas de juro continuem a ser gradualmente reduzidas até ao final de 2025, atingindo os 4,25%, o que poderá proporcionar algum alívio das pressões inflacionistas.

Principais riscos e sinais de otimismo 

Embora as perspetivas da Pictet AM sejam, em geral, positivas, existem dois grandes riscos que continuam a ser motivo de preocupação para 2025.

Por um lado, Luca Paolini antecipa a possibilidade de um regresso da inflação, um dos pontos mais prováveis para o próximo ano. Embora a inflação tenha diminuído consideravelmente desde 2023, o risco de um regresso mantém-se, especialmente se as políticas expansivas, ou os choques externos, afetarem as cadeias de abastecimento ou os preços das matérias-primas. 

Por outro lado, a combinação de reduções de impostos que Trump promete, o aumento da despesa pública e uma abordagem protecionista do comércio internacional poderá exacerbar os défices fiscais e aumentar as pressões inflacionistas tanto a nível nacional como global. 

No entanto, apesar destes potenciais riscos, as condições monetárias globais são mais favoráveis para os ativos de risco em comparação com anos anteriores. Segundo explica Luca Paolini, o crescimento da oferta monetária real tornou-se positiva nas principais economias pela primeira vez desde 2022, e as normas bancárias estão a flexibilizar-se, permitindo uma maior procura de crédito. Isto sugere que os bancos centrais, embora menos agressivos na sua flexibilização, poderão ser apoiados pela expansão do crédito privado e pela estabilização da economia. 

Europa: estagnação trava a inflação

Entretanto, a Europa continua atrasada na sua recuperação económica. A zona euro continua estagnada, embora as eleições na Alemanha no início de 2025 possa flexibilizar as restritivas políticas fiscais da região, abrindo caminho a um maior impulso económico na segunda metade do ano. Embora a inflação na Europa tenha recuado mais rapidamente do que o esperado, ainda enfrenta desafios para cumprir os objetivos do Banco Central Europeu (BCE). Desta forma, o BCE poderá adotar uma postura mais agressiva na redução das taxas de juro, com estimativas de cortes para níveis próximos dos 2%. 

Luca Paolini acredita que esta combinação de estímulo monetário e de um crescimento global mais equilibrado poderá contribuir para manter a inflação sob controlo, mesmo que as debilidades estruturais da região continuem a ser um obstáculo. 

Tendo em conta estas previsões, os bancos centrais enfrentam um delicado equilíbrio entre apoiar o crescimento económico e controlar a inflação. Esta situação representa um contexto complexo, mas cheio de oportunidades para os investidores. As lições dos anos anteriores são claras para Luca Paolini: manter uma visão estratégica baseada em fundamentais sólidos será crucial para lidar com sucesso este contexto incerto.