Num contexto marcado pela incerteza, pelo abrandamento da economia e pela perspetiva de manutenção das taxas de juro elevadas por mais tempo do que o previsto, a CMVM analisou os riscos mais significativos para os mercados financeiros para o novo ano.
No Risk Outlook 2024 da CMVM, recentemente divulgado, são analisados os riscos mais significativos que se perspetivam para os mercados financeiros, num contexto marcado pela incerteza, devido ao aumento das tensões geopolíticas, pelo abrandamento da atividade económica e pela perspetiva de manutenção das taxas de juro em níveis elevados por mais tempo do que o previsto.
No documento são consideradas cinco dimensões de risco: risco de mercado, risco de liquidez, risco de crédito, risco de conduta e riscos operacionais. Neste artigo iremos focar-nos nos riscos de liquidez. A entidade reguladora começa por revelar que os valores negociados no mercado acionista português, nos primeiros dez meses de 2023, “encontravam-se 14,2% abaixo dos verificados em igual período de 2022”. Contudo, a redução de liquidez no acumulado do ano não compara desfavoravelmente com a ocorrida na maioria dos índices acionistas europeus.
Os fundos de investimento mobiliário e os fundos de investimento imobiliário
No domínio da gestão de ativos, e dos fundos de investimento mobiliário (FIM) em particular, o ano de 2023 foi marcado por “alguma resiliência na entrada de novos fluxos de capital”. Como podemos ver pelo gráfico abaixo, as subscrições líquidas acumuladas em FIM, entre o final de 2022 e 31 de outubro de 2023, foram positivas, tendo ascendido a cerca de 421,5 milhões de euros.
Por sua vez, nos fundos de investimento imobiliário (FII), apesar de se terem verificado subscrições líquidas negativas no acumulado do ano até outubro, a resiliência foi, ainda assim, relevante. Segundo a CMVM, “a manutenção das taxas de juro em níveis mais elevados poderá levar a correções de preços no mercado imobiliário residencial e comercial” e colocar, desta forma, pressão na liquidez dos FII.
No entanto, é importante referir que as famílias detêm 49% do valor gerido por FII e 92,5% do valor gerido pelos FIM, pelo que estes últimos estarão menos sujeitos a pressões de liquidez por investidores de retalho. “Note-se, porém, que nos FII a representatividade dos fundos fechados é muito significativa e que estes são essencialmente detidos por investidores institucionais”, acrescenta a entidade reguladora.
“Num possível contexto de movimentos de resgate nos FIM nacionais em 2024”, continua a CMVM no relatório, “o choque adverso para o mercado de capitais nacional, por via da alienação de ativos a que os FIM possam vir a ter de incorrer, seria relativamente limitado”, visto que os instrumentos financeiros nacionais representavam, no final de outubro de 2023, apenas 4%. Já nos FII, possíveis choques de liquidez, por via de resgates em volume anormalmente elevado, teriam “efeitos bastante diferenciados”, uma vez que a grande maioria dos imóveis das respetivas carteiras se encontra no nosso país.
Nível de risco de liquidez para 2024
Deste modo, o risco de liquidez é considerado como médio para 2024, mas com perspetiva ascendente. “O abrandamento na procura de ativos financeiros e/ou o possível aumento do resgate de produtos financeiros, são os principais fatores de risco, caso exista necessidade de obtenção de liquidez por parte dos investidores, designadamente para fazer face a necessidades de consumo, investimento ou de amortização de dívida”, concluem.