Portugal, Espanha e Grécia continuam no radar de preocupação das gestoras internacionais. Entre maio e julho há eventos a monitorizar.
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O risco político no mundo desenvolvido está a começar a abrir um espaço para riscos relevantes na mente dos investidores. A AXA IM, por exemplo, avisa sobre a necessidade dos investidores estarem preparados para o volume de eventos na agenda política programados entre maio e julho.
Segundo Maxim Alimi, analista e estratega da gestora, essa série de acontecimentos políticos “provavelmente impulsionarão a volatilidade em 2016, especialmente no mês de junho”. No entanto, prossegue o especialista, “o risco real encontra-se no longo prazo, devido à constatação de que “pela primeira vez desde a década de 1950, o eurocepticismo está a ameaçar o projeto europeu”.
Pode consultar na tabela abaixo com o calendário com todas as datas que o analista considera relevantes para os próximos meses.
Quem |
Evento |
Data |
Portugal e Espanha |
Negociações com a Comissão Europeia para estabelecer o orçamento de 2016 |
Maio |
Espanha |
Data limite para formar governo |
2 de maio |
BCE |
Início do programa de aquisição de obrigações corporativas |
Junho |
BCE |
Reunião do Comité do Governo |
2 de junho |
Reserva Federal |
Reunião do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) |
Junho |
Reino Unido |
Referendo sobre a permanência do Reino Unido na Europa |
23 de junho |
Espanha |
Data possível para as novas eleições gerais |
26 de junho |
BCE |
Primeira ronda dos novos TLTROs (TLTRO 2) |
28 de junho |
Grécia |
Vencimento de 2.300 milhões de dívida do BCE |
20 de Julho |
Espanha: espere novas eleições
Embora o risco do Brexit ocupe um lugar importante na lista de perigos que a UE armazena, o analista constata que “uma série de outros problemas por resolver também poderão surgir em junho”. No seu ponto de vista o primeiro deles é a situação política em Espanha. “Tal como esperávamos, é provável que as negociações atuais acabem em novas eleições. As tentativas de construir uma coligação de esquerdas entre o PSOE, Podemos e Cidadãos progrediram ligeiramente”, acrescenta o especialista. Alimi acredita que “ainda continua a ser possível um acordo de última hora, especialmente num contexto em que o Pedro Sánchez possa perder a liderança do partido”.
No entanto, o cenário central com o qual a AXA IM está a trabalhar, prevê que não se alcance nenhum tipo de acordo. Como a data limite para formar governo é o próximo 2 de maio, preveem que se tenham que anunciar eleições outra vez em junho. Cumprindo-se estas projeções, o analista alerta que “o perigo está em que as novas eleições possam acabar com um resultado similar”, referindo de novo o seu comentário de que os riscos políticos vão ser determinantes no longo prazo. “Uma paralisia prolongada pode converter-se em risco, já que os mercados começam a duvidar em demasia”.
Dito isto, o estratega afirma que “a ausência de governo não é necessariamente sinónimo de más notícias, o movimento de preços nos mercados tem sido indefinido desde fevereiro”. Na verdade, Alimi não descarta a hipótese de que “o governo interino de Mariano Rajoy possa implementar alguma austeridade fiscal este ano, embora sob o cuidadoso escrutínio do Parlamento”.
Grécia outra vez?
O acordo in extremis de Grécia com o FMI no verão do ano passado deu tréguas aos mercados por uns meses. No entanto, depois das recentes reuniões em Washington entre representates gregos, da Troika e do FMI, a polémica pode reacender-se. “Em primeiro lugar, os recentes comentários mordazes demonstram o quão azeda é a relação entre o FMI e o governo grego. Como habitual, Alexis Tsipras está a jogar em dois níveis: gerir as negociações com credores internacionais enquanto que assegura o apoio da sua coligação interna”, explica o estratega. Em segundo lugar, fixa-se no facto das divergências entre o FMI e os europeus se aprofundarem em relação ao tema da sustentabilidade fiscal. O FMI necessita assegurar-se de que a Grécia continua a ser solvente e procura uma reestruturação contundente da dívida, um impossível político no caso da Alemanha”. Neste caso,Alimi acredita que o risco está em que os mercados revivam a situação de 2015, porque o governo grego volta a enfrentar outro vencimento de dívida de 2.300 milhões que deve devolver ao BCE em julho.
“Estamos relativamente confiantes que um acordo será alcançado, embora seja, provavelmente, à última da hora. Temos menos certezas sobre a habilidade de Tsipras em manter a coesão da coligação, caso lhe sejam pedidas mais medidas de austeridade (em particular sobre a reforma das pensões)”, comenta o analista.
Portugal terá que apertar (mais) o cinto
O terceiro perigo na lista de Alimi é Portugal. “Depois da surpreendente formação de uma coligação de esquerda em novembro de 2015, o presidente Costa devolveu aos mercados alguma segurança ao mostrar boa vontade com a sua política económica No entanto, um resgate bancário inesperado no ano passado (o do Novo Banco) levou o défice orçamental para 4,4%, muito abaixo do objetivo dos 3%”, explica o analista. A partir destas ideias, da AXA IM preveem que a Comissão Europeia espere de Portugal uma maior consolidação: “Uma revisão em maio da implementação atual do orçamento pode resultar numa petição de esforços adicionais, com o risco de que aumente a instabilidade de uma forma similar à do episódio vivido em fevereiro”, conclui o especialista.