Rose Ouahba e David Older (Carmignac): “A estratégia barbell representa a melhor solução na geração de retornos ajustados ao risco nesta conjuntura”

Rose Ouahba e David Older
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Sem limitações. Este poderia ser um bom epíteto para o Carmignac Portfolio Patrimoine, um fundo que ostenta o selo Blockbuster Funds People. É essa a ideia primordial que Rose Ouahba e David Older, co-fund managers do produto, tentam passar à Funds People, numa entrevista onde fazem um update àquele que é um dos fundos mais emblemáticos do espectro de produtos disponíveis em Portugal.

A perspetiva de fundo sem constrangimentos, já referida anteriormente, é uma das nuances que os dois profissionais vincam. “O fundo é gerido de forma arbitrária, não estando sujeito a um padrão de referência. O Carmignac Portfolio Patrimoine tem uma abordagem de investimento orientada por convicções que nos permitem criar uma carteira que não está limitada por sector, ativos ou limites geográficos”, introduzem nesse sentido, resumindo-o como um “fundo de alocação de ativos”. Em termos genéricos, a análise executada é top-down, tendo “as respetivas ponderações e orientações de investimento relativas às componentes de ações, obrigações e divisas” este enfoque. Nas ações, por sua vez, a análise privilegia um enfoque “bottom-up fundamental”, que acaba por ser “a base do processo de investimento”, sendo “a seleção de ações o principal fator de desempenho”. Na parte de rendimento fixo é a conjugação da parte top-down e da bottom-up que têm lugar. Uma escolha que Rose Ouahba justifica pelo benefício “das competências complementares de toda a equipa de investimentos, combinando uma análise macroeconómica pertinente com as competências de seleção de obrigações específicas em cada segmento de mercado de rendimento fixo (taxas de juro, ME, crédito empresarial e estruturado)”.

Estabilidade na parte de rendimento fixo

Precisamente na parte de rendimento fixo da carteira, a abordagem ao investimento tem primado pela estabilidade. Os profissionais falam da manutenção da utilização de “posições longas e curtas em derivados de taxas de juro a fim de ajustar a duração modificada global da carteira aos mercados de rendimento fixo (ainda dentro do amplo intervalo de duração modificada entre -4 e +10) e a sua alocação entre os vários segmentos, países e regiões, e curva de rendimentos, dependendo principalmente das  perspetivas top-down” da casa. Optam neste espectro por uma estratégia "Barbell", que se carateriza por “por posições longas em taxas periféricas europeias, uma seleção de obrigações de empresas que favorecem alguns nomes idiossincráticos e uma exposição limitada à dívida de mercados emergentes, compensada pelos instrumentos de caixa e do mercado monetário”. Num ambiente em que as taxas de juro continuam (e continuarão) baixas, os dois gestores são contundentes:  “a estratégia "Barbell", na nossa opinião, representa a melhor solução na geração de retornos ajustados ao risco nesta conjuntura de taxas de juro baixas”.

Ainda no espectro das obrigações, os últimos 12 meses reservaram movimentos de “realização de mais valias nas estratégias direcionais, tanto nos EUA como na Europa, na sequência da redução significativa das taxas de rendibilidade, que atingiram mínimos históricos em vários países da OCDE desde o início do ano”. O risco direcional das taxas de juro norte-americanas, contam Rose Ouahba e David Older, foi reduzido e apostaram, nesse período, “numa estratégia de aumento da inclinação da curva de rendimentos”. Na Europa, a este nível, os gestores destacam que reduziram “a duração modificada para taxas core e semi-core” mas aumentaram nas taxas periféricas, favorecendo principalmente a Grécia e a Itália, sendo a última mais tática. É neste contexto que destacam ainda a opção de se manterem fora do mundo emergente, por causa das “tensões comerciais persistentes entre a China e os EUA”, e devido “a um abrandamento das principais economias emergentes”. Por fim, e no mercado de crédito, a estratégia passou “por tirar partido das avaliações mais baixas no início do ano, na sequência do sell-off acentuado no quarto trimestre de 2018”. O objetivo, comentam os gestores, foi reforçar as posições em nomes idiossincráticos nos quais são “fundamentalmente construtivos, mantendo simultaneamente um beta baixo para a classe de ativos”.

Aumento das ações de elevada qualidade

Nos últimos 12 meses, a perspetiva relativamente às ações foi “construtiva”, muito embora se tenham mantido altamente seletivos no que toca à “alocação sectorial e geográfica”. Como resultado de um acompanhamento próximo “das fontes de vulnerabilidade do mercado, tais como a estabilização do crescimento mundial, o nível elevado de confiança dos investidores, a fragilidade técnica e as avaliações”, os co-gestores explicam que procederam “a um aumento de exposição a ações de elevada qualidade, nomeadamente nos sectores tecnológico e consumo discricionário, evitando simultaneamente os sectores altamente vulneráveis a esta conjuntura”. Esta flexibilidade, apontam, foi importante para sustentar o desempenho do fundo no período.

Próximos 12 meses

Explicados os últimos 12 meses, a gestora foca baterias, nos próximos 12 meses, em três pontos muito específicos que sustentam a carteira. Falam, em primeiro lugar, “numa carteira de ações principal centrada em valores de crescimento cuidadosamente selecionados, uma vez que estes títulos constituem atualmente um segmento de mercado competitivo”. A segunda componente trata uma exposição que apelidam de mais “tática” a retardatários “em vários segmentos cíclicos, tais como a banca europeia e industriais dos EUA, assim como  empresas de mercados emergentes à medida que o dólar deixar gradualmente de apreciar e aparecerem notícias mais animadoras relativamente à guerra comercial”. Por último, a terceira componente refere-se ao “rendimento fixo”, e tem que ver com a estratégia dos gestores de quererem “beneficiar do aumento da inclinação da curva de rendimentos dos EUA, do estreitamento do spread da dívida soberana europeia não core, das posições curtas em taxas core europeias através de derivados, conjuntamente com uma seleção de obrigações de empresas que favorecem emissores específicos, tais como a Altice, a Teva e a Eurofins”.