Desde a sua criação, há mais de dez anos, a Amundi tomou a decisão estratégica de investir no desenvolvimento das suas próprias ferramentas tecnológicas. Com a aquisição em 2017 da Pioneer Investments, tiveram a oportunidade perfeita para provar a sua resistência e eficácia. “Quando estávamos a trabalhar na integração com a Pioneer Investments, tivemos que migrar todo o seu ecossistema para o nosso. Foi um sucesso. E sentimos que o nosso sistema podia acrescentar valor a instituições financeiras externas, pelo que decidimos começar a vender a nossa tecnologia a terceiros”, conta Guillaume Lesage, diretor de Operações da Amundi. Atualmente, a gestora tem mais de 1.000 profissionais dedicados ao seu negócio de tecnologia, divididos entre 19 países e com dois centros de desenvolvimento em Paris e Dublin.
No início de 2021, começou oficialmente a sua incursão no mundo SaaS (Software as a Service, na sua sigla em inglês). A Amundi consolidou a sua oferta numa linha de negócio nova. A Amundi Technology, ALTO, a sua plataforma de soluções tecnológicas para terceiros, procura prestar serviço a todos os pontos da cadeia de valor da gestão de ativos. Do front ao back office, do gestor de carteiras ao trader, da gestão de investimentos ao wealth, da distribuição às pensões.
Em três anos, este negócio passou de gerar 35 milhões de euros em receitas para 60 milhões no final do último ano. Ainda é um número pequeno em comparação com o resto da conta de resultados total da Amundi, reconhece Guillaume Lesage, mas é uma das suas principais iniciativas de desenvolvimento. A gestora prevê investir mais 40 milhões nos próximos anos para continuar a expandir este serviço. “Temos um duplo objetivo. A tecnologia tem benefícios internos, gera valor para os nossos clientes tradicionais, mas também tem benefícios externos, visto que observamos uma procura na indústria financeira por serviços deste tipo”, conta o diretor.
Procura por inovação
É algo que Guillaume Lesage observa no mercado: “Há procura por inovação”. E é uma tendência global, insiste. No caso dos países desenvolvidos, identifica mais interesse em atualizar os seus sistemas atuais. No dos países emergentes, o salto é maior, pois os clientes querem entrar diretamente com um player que lhes ofereça o melhor serviço. “Por isso, é fundamental pensarmos como uma empresa tecnológica, garantir que o nosso software responde a todas as necessidades do ecossistema e que está disponível de forma imediata para o cliente”, aponta o diretor.
Um detalhe tão simples como o cliente não precisar de que a sua equipa de informática esteja familiarizada com a ferramenta é um valor acrescentado. “O nosso produto estar na nuvem alivia o custo e a carga de desenvolvimento para a gestora. Qualquer novidade na ferramenta fica disponível no momento, como quando descarregamos uma atualização no nosso telemóvel pessoal”, conta.
Uma dessas atualizações recentes está relacionada com a inteligência artificial generativa, uma área em que a gestora está a trabalhar há mais de dois anos. “O nosso software, integrado numa infraestrutura segura chamada Alto Studio, é capaz, por exemplo, de ler um documento de marketing e compará-lo com o que diz o folheto do produto e as diretrizes do departamento de compliance para identificar possíveis discrepâncias. E leva apenas poucos minutos para uma tarefa que um humano demoraria horas a fazer”, conta.
Alinhados com as necessidades da indústria
Um dos pontos-chave do sucesso da plataforma da Amundi que Guillaume Lesage identifica é falarem a mesma língua. “Os nossos utilizadores, que são outros membros da indústria, sabem que estamos alinhados com o que o regulador e outros agentes importantes da indústria vão pedir”, explica. Também gostam do facto de se tratar de uma empresa sólida. “Gostam de saber que vamos estar cá daqui a dez anos, que não vão fazer um investimento para integrar um sistema que pode desaparecer ou sofrer uma falta de investimento no curto prazo”, acrescenta.
Oferecer às gestoras o poder de trabalharem lado a lado com um player de grande dimensão como a Amundi no seu investimento tecnológico abriu-lhes portas em países como a China ou a Índia, onde, segundo conta Guillaume Lesage, a plataforma tem de estar adaptada aos requisitos do regulador local de cada país.