Seguradoras e fundos de pensões mostram interesse crescente na dívida pública nacional

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Sergio Calleja, Flickr

Desde o início deste ano o Tesouro português executou já duas emissões sindicadas de obrigações num total de 7 mil milhões de euros o que configura cerca de dois terços das necessidades de financiamento previstas para todo o ano de 2018. Um das emissões foi efetuada em janeiro deste ano, no montante de 4.000 milhões de euros e a um prazo de 10 anos, enquanto que no passado dia 11 de abril foram colocados 3.000 milhões a um prazo cinco anos mais longo.

A emissão anterior de caráter sindicado tinha sido executada no início de 2017, numa emissão com um prazo de 10 anos e um montante emitido de 10 anos também. Na altura a taxa a que Portugal se financiou para esse prazo superava os 4,22%. Filipe Silva, diretor da Gestão de Ativos do Banco Carregosa comentava após a emissão que a subida de taxas (face aos 2,875% da emissão anterior a 10 anos) era “caso, não para alarmes, mas para cautela”.

E de facto, o que se verificou desde então foi uma melhoria da percepção de risco de Portugal e uma descida das yields em toda a curva. Um ano depois o Estado português emitia 4 mil milhões de euros a uma taxa de juro de 2,05%, numa emissão com maturidade em outubro de 2028. Nesta emissão Filipe Silva destacava a procura bastante forte e a taxa registada, que considerava ser baixa para um prazo longo. “Há poucos anos Portugal só conseguia emitir com taxas nos 4 ou 5%. Atualmente, se olharmos para todas as  últimas emissões já se veem muitas emissões com taxas abaixo dos 3% ou mesmo 2%”, comentava.

nesta quarta-feira foram emitidos 3 mil milhões de euros em dívida com um prazo de 15 anos. A emissão, de caráter sindicado, foi efetuada a uma taxa de 2,325% e a procura, á semelhança das emissões referidas anteriormente, superou as 4/5 vezes a oferta.

Caráter e nacionalidade do investidor

Se geograficamente são os investidores do Reino Unido que dominam o investimento em dívida portuguesa, seguido pelo agregado de França, Itália e Espanha, em termos da tipologia de investidor as três emissões foram colocadas entre instituições muito distintas.

Na emissão executada em janeiro de 2017, segundo os dados divulgados pelo IGCP (Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública), foram as entidades gestoras de fundos de investimento que dominaram, arrecadando mais de metade do montante emitido. Seguia-se o sector da banca, com cerca de um quarto, e o sector dos seguros e fundos de pensões que representavam apenas 10,85% da emissão.

Distribuição final da emissão de 11 de janeiro de 2017 (IGCP)

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Um ano depois, perante taxas mais baixas e um cenário económico mais amigável, o que observamos é um maior peso da banca e bancas privadas no montante total colocado, ao mesmo tempo que se observa um crescimento de perto de sete pontos percentuais do peso das seguradoras e fundos de pensões.

Distribuição final da emissão de 10 de janeiro de 2017 (IGCP)

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Embora se posicione num diferente segmento da curva de dívida soberana nacional, na emissão a 15 anos de passado dia 11 de abril, a dispersão por tipo de investidor foi bastante maior. Por um lado, o sector segurador e de fundos de pensões, dado o seu caráter de investidor de longo prazo, arrecadou quase mais de 22% da emissão. Por outro lado, vemos também um interesse acrescido por parte de hedge funds, que nas emissões anteriormente referidas não ultrapassavam os 10%. Nesta mais recente, absorveram 14,6% da emissão. O peso do Banco Central e/ou instituições oficiais foi de apenas 3,6%.

Distribuição final da emissão de 11 de abril de 2018 (IGCP)

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