Vamos analisar a selecção nacional de futebol como se fosse uma empresa. Para começar, a performance de uma empresa depende da qualidade do management e dos activos (humanos e materiais) que possui. É necessário um estilo de gestão em que os objectivos estejam claramente definidos e um plano de implementação rigoroso para a sua concretização. […]
Vamos analisar a selecção nacional de futebol como se fosse uma empresa. Para começar, a performance de uma empresa depende da qualidade do management e dos activos (humanos e materiais) que possui. É necessário um estilo de gestão em que os objectivos estejam claramente definidos e um plano de implementação rigoroso para a sua concretização. No caso da selecção, os objectivos foram definidos (passar a fase de grupos) mas o planeamento dos meios e a escolha dos activos não permitiu a concretização dos mesmos. 11 jogadores lesionados é caso único numa selecção.
Os objectivos foram definidos mas as expectativas dos analistas (neste caso desportivos) foram elevadas. A selecção, face a anteriores ciclos (2000 a 2008 principalmente) não tem a mesma qualidade. Não existem tantas soluções, o que provoca desequilíbrios e dificuldades na procura da eficiência. O maior vedetismo acabou por ser negativo.
Uma equipa tem que estar sempre motivada, com fome de êxitos e tem que conciliar a experiência com o chamado “sangue na guelra”. Penso que não foi o que aconteceu. A renovação gradual devia ter-se iniciado em 2012, uma vez que alguns activos já estão num ciclo de longa maturidade / declíneo. Aqui o management falhou devido à inércia.
Outro aspecto determinante numa empresa é a localização do(s) seu(s) centro(s) produtivo(s) ou de operações. Sabe-se que hoje em dia os custos de transporte são uma variável determinante. A localização do centro de operações da selecção ficou longe dos mercados-alvo, isto é, os estádios onde competiu. Os activos da selecção encontraram condições climáticas bastante diferentes entre o local de ensaio e os locais de acção. A distância, apenas boa para os cartões de milhas aéreas, acarretou cansaço, ainda por cima no final de um exercício económico (final da época futebolística).
Mesmo que Campinas tenha sido barato, um processo de corte de custos tem limites. Uma empresa, mais que um centro de custos, deve ser gerida como um centro de resultados. Os custos têm que ser controlados de forma a que não se prejudique a formação dos proveitos. No caso da selecção o processo de cutting costs não contribuiu para a performance. A viagem aos EUA também não ajudou: apenas mais milhas!...
Finalmente, quando uma empresa falha completamente os objectivos, existem mudanças no management e na estratégia que implicam uma reestruturação, uma aposta em novos mercados e produtos, investimentos de modernização, entre outros aspectos. A selecção já deveria ter começado a renovação com tranquilidade (onde é que já ouvi isto?!). Por exemplo, da equipa nacional sub-19 que foi vice-campeã mundial há poucos anos, tendo perdido na final com o Brasil, quantos jogadores portugueses jogam regularmente em clubes e quantos estão na selecção? Ao contrário, dessa selecção do Brasil, muitos jogadores jogam em clubes de primeira e alguns até estão na actual selecção principal.
Uma rotação de activos com peso e medida ajuda ao sucesso. Na selecção, enquanto existirem lugares cativos será complicado! Parece que quem manda não é quem devia mandar! Sem vedetas, a Grécia está nos oitavos e nós... continuamos a ver-nos”gregos”!
Carlos Bastardo
(Crédito da foto: jabmilsonluis, Flickr, Creative Commons)