No âmbito da Semana Mundial do Investidor, analisamos como tem evoluído o investimento em produtos financeiros em Portugal. Dados da CMVM mostram que, entre outros fatores, a conjuntura económica e financeira que caracterizou a última década influenciou a evolução.
Recentemente a CMVM divulgou o seu segundo Relatório do Investidor 2023 que, de acordo com a entidade reguladora, pretende “apoiar os investidores na sua participação no mercado de capitais e na tomada de decisões de investimento informadas”.
Uma das conclusões da entidade reguladora é que a evolução do tipo de investimento reflete, entre outros fatores, a conjuntura económica e financeira que caracterizou a última década. Mais recentemente, com a crise pandémica, “os níveis de incerteza voltaram a aumentar de forma significativa”. Neste contexto observou-se um “aumento dos níveis de poupança e uma subida dos mercados acionistas”. Esta evolução foi interrompida por uma correção em 2022, “fruto da instabilidade geopolítica associada ao início da guerra na Ucrânia e ao aumento da inflação”, obrigando os bancos centrais a subirem as taxas de juro de referência.
Depósitos a prazo: a forma de poupança mais popular
Assim, os depósitos a prazo são a forma de poupança mais popular entre os investidores não profissionais em Portugal, “chegando a absorver mais de 50% das aplicações financeiras efetuadas”, afirma a CMVM. A redução das taxas de juro observada a partir de 2014 teve, porém, impacto a este nível. Segundo a entidade reguladora, “a proporção alocada em depósitos a prazo pelos particulares caiu de 52%, em 2012, para 47% em 2017, tendo, no final de 2022, retornado, aproximadamente, ao ponto de partida”.
Durante estes anos de taxas de juro quase nulas, assistiu-se a “episódios de search-for-yield”, com os investidores a alocarem, segundo a CMVM, “uma fatia maior da sua poupança em ativos de maior risco, procurando um retorno esperado mais elevado”.
Evolução dos certificados de aforro em destaque
De 2019 a 2021 verificaram-se crescimentos anuais de dois dígitos nos montantes geridos por fundos de investimento em valores mobiliários. “O peso destes ativos no total do investimento atingiu o seu pico em 2021: 5,8% (fundos nacionais) e 2,2% (fundos estrangeiros)”, acrescentam. No entanto, em 2022, a CMVM a taxa de crescimento anual do valor sob gestão dos fundos de investimento mobiliário registou valores negativos.
Por outro lado, o peso dos fundos de investimento imobiliários diminuiu de um máximo de 5%, em 2013, para um mínimo de 3,2%, em 2021. “As variações anuais foram irregulares, sendo afetadas não só pelo desempenho (e expetativas) de evolução do mercado imobiliário nacional, como pela atratividade das alternativas de investimento disponíveis”, esclarece a CMVM.
Num contexto de aumento das taxas de juro e de instabilidade nos mercados financeiros, destaca-se o aumento significativo do investimento em certificados de aforro. “O valor investido cresceu rapidamente na sequência da crise da dívida soberana, caiu em 2017 e 2018 e aumentou de forma muito significativa (+57%) em 2022, atingindo um máximo de 5,6% do total do valor investido nesse ano”.
Também o peso da gestão individual se viu reduzido continuamente desde 2017, e especialmente a partir de 2020, atingindo valores inferiores a 10% em 2022. “Mais do que o desempenho dos ativos, essa evolução reflete que os investidores (em particular os investidores profissionais que representam a maioria do investimento nesta tipologia) preferiram outras aplicações para os seus investimentos”, conclui a CMVM.