Embora persistam certos desafios e ceticismos, as políticas recentes e os sinais de recuperação em vários setores sugerem um panorama mais positivo, segundo Ronald W. Chan da Chartwell Capital.
Nos últimos anos, os investidores têm mostrado um interesse crescente na Ásia e, mais recentemente, na China, embora persistam certas dúvidas devido aos desafios económicos que o dragão asiático tem enfrentado. Ronald W. Chan, fundador e diretor de Investimentos da Chartwell Capital Limited, com sede em Hong Kong, comenta numa entrevista com a FundsPeople: “O negativismo é elevado entre a maioria dos investidores na Europa porque o que leem tem um tom negativo. Mas leram todas estas notícias a tal ponto que se estão a tornar demasiado pessimistas”.
Apesar disso, o gestor assinala que a China continua a ser a segunda maior economia do mundo, com uma população de 1,4 biliões de pessoas e com uma economia que cresce mais do que outras desenvolvidas.
A desconexão entre a retórica e a realidade
Existe uma grande diferença entre a retórica política ocidental e a realidade subterrânea na China. Muitos investidores baseiam as suas opiniões na cobertura mediática ocidental, que tende a ser negativa. No entanto, a realidade no terreno é vibrante, embora mais lenta do que antes.
“Digo sempre: voltemos ao PIB. Qual é a sua composição? Quatro fatores: despesa governamental, comércio, despesa empresarial, consumo doméstico”, explica Ronald W. Chan. Apesar das represálias comerciais ocidentais e as tarifas, o comércio na China continua a ser uma parte fundamental da sua economia. “Ao contrário dos EUA, onde o consumo interno representa 70% do PIB, na China este é muito menor, cerca de 30%, para colocá-lo em perspetiva”, aponta o gestor.
Indicadores económicos e desempenho
O PIB da China continua a crescer, embora a um ritmo mais lento de 4,9% este ano. Em comparação, os EUA crescem a 2,4% e o Japão a 0,5%. A despesa governamental diminuiu após anos de intenso investimento em infraestrutura, e o consumo doméstico continua a ser uma área-chave para o crescimento económico. “O consumo doméstico é a única coisa que falta para fazer crescer o PIB”, assinalou o gestor.
Noutra linha, o mercado imobiliário chinês registou altos e baixos significativos. Há cinco ou seis anos, o mercado estava sobreaquecido, o que levou o governo a implementar políticas para abrandar a especulação. Durante a pandemia da COVID, o mercado colapsou, mas nos últimos meses, o governo flexibilizou algumas restrições para estimular a compra de casas e melhorar o acesso a hipotecas.
Implicações para os investidores
O governo chinês implementou várias políticas para estimular a economia e o consumo doméstico. Por exemplo, introduziu programas de troca de produtos eletrónicos e automóveis velhos por novos, o que ajudou a revitalizar o consumo local. Além disso, flexibilizou as políticas de propriedade de casas, permitindo os indivíduos comprar mais propriedades sem serem penalizados.
Apesar de uma volatilidade significativa no mercado de títulos chineses nos últimos anos, o gestor assinala que desde a segunda metade de janeiro que alguns índices mostraram um desempenho positivo, embora persistam desafios.
A incerteza política e as represálias comerciais afetaram a confiança dos investidores, “mas as recentes políticas de estímulo e os sinais de recuperação em vários setores começaram a melhorar o panorama”, destaca Ronald W. Chan, autor do livro The Value Investors: Lessons from the World’s Top Fund Managers.
Além disso, as valorizações em mínimos da década e os sinais de recuperação sugerem um potencial de crescimento a longo prazo. “Os investidores devem estar atentos às políticas governamentais e às tendências económicas subjacentes para tomarem decisões informadas”, conclui.