Será que vamos mesmo melhorar rapidamente?

Nos 25 anos que trabalhei em mercados fui sempre um optimista com uma boa dose de realismo. Agora que não estou profissionalmente ligado aos mesmos, continuo realista mas ainda sem optimismo.

Recentemente, meio mundo ficou excitado por uma agência de rating nos ter passado de lixo negativo para lixo estável. É caso para tanto alarido? Penso que não.

Em 2012 registou o PIB caiu 3,2% e trimestre após trimestre, a situação foi piorando: quedas de 2,3% no primeiro, 3,1% no segundo, 3,5% no terceiro e 3,8% no quarto. O PIB foi caindo mais à medida que as exportações foram crescendo menos: evolução positiva de 8,2% no primeiro trimestre em termos homólogos, 3,7% no segundo, 1,9% no terceiro e uma queda de 0,5% no quarto.

Reside aqui a minha primeira preocupação. Num país em que o consumo das famílias e residentes pesou 62,6% do PIB em 2012, as exportações apenas pesaram 38,7% (o desejável seria pesarem no mínimo 50%), é de esperar para 2013 um cenário diferente do ocorrido em 2012? Tendo em conta as expectativas de queda do rendimento disponível este ano e a trajectória descendente do crescimento das exportações, é difícil para já estimar uma melhoria da situação.

70% das exportações são para países da UE, algum dos quais com graves problemas como Espanha, o maior comprador de produtos nacionais. A diversificação de mercados destino é reduzida. Exportamos pouco para países emergentes que evidenciam uma dinâmica económica e uma propensão ao consumo assinaláveis (Médio Oriente, Rússia, América Latina, tigres asiáticos e até a própria China). 

Portugal está numa espiral recessiva, que os políticos evitam falar (caímos há 12 trimestres). Citando um research recente da empresa independente Capital Economics: “The detailed Portuguese GDP release for Q4 confirmed that the economy is in a worryingly deep and broad-based recession.”    

Eis que surge a minha segunda preocupação: uma economia como a nossa, com uma dívida pública de 122,5% do PIB em 2012 e que  tem crescido rapidamente, conseguirá pagar a dívida? Acho difícil. Não é de descartar, portanto, um cenário de reestruturação (outra conceito evitado por alguns).

Houve um bom dado em 2012. A capacidade líquida de financiamento da economia portuguesa foi positiva em 0,4% (não acontecia há 18 anos). Em 2011 este indicador foi de -5,6%.

Para o FMI, o equilíbrio das contas externas é o que conta. Infelizmente para os outros dois membros da Troika, um défice público face ao PIB abaixo de 3% é o factor determinante do ajustamento..

Finalmente, a minha terceira grande preocupação é consequência das duas primeiras: o agravamento do desemprego e especialmente nos jovens. De facto, uma taxa de desemprego acima de 17% e de 40% nos jovens é alarmante para o presente mas principalmente para o futuro do País.

Alguns dos nossos jovens têm sido “obrigados” a emigrar e aqueles que ficam, têm grandes dificuldades em se autonomizarem, isto é, saiem de casa dos pais cada vez mais tarde para constituir família. As repercussões negativas sobre a economia e a segurança social são significativas.

Os pais e o Estado investiram neles e muitos deixam o país. Os que ficam por cá, adiam decisões de consumo / investimento e decidem ter menos filhos e cada vez mais tarde (ou até não os ter), contribuindo para a baixa taxa de natalidade. Portugal é o 6º país do mundo com a população mais envelhecida.

Como um amigo me dizia há uns tempos: “eu estou a pagar a reforma dos meus pais mas duvido que os meus filhos paguem a minha”.

Tenho muitas dificuldades em acreditar que vamos melhorar rapidamente. As dificuldades económicas estruturais do país, a entropia que a Europa vive neste momento e o querer ajustar em pouco tempo os devaneios de mais de 20 anos são factores complicados de gerir com sucesso.

Mas a solução é continuarmos o esforço na correcção dos erros do passado mas sem esquecer que o grande problema estrutural de Portugal é o crescimento. Mesmo antes da crise financeira, Portugal crescia abaixo dos 2% ao ano quando a Zona Euro crescia 3%.

Nos últimos 4 anos, o investimento caiu mais de 40% e o mais grave é que nos anos anteriores em que cresceu, as escolhas foram desajustadas e hoje pagamos por isso. O investimento tem que ser direccionado para sectores de bens transaccionáveis.

O PIB de Portugal não pode depender em mais de 60% do consumo privado. O mercado doméstico é estreito e sensível a contracções económicas internas e externas. Idealmente, esse peso deveria estar abaixo de 50%. As exportações têm que ser o motor do nosso desenvolvimento mas para que isso seja possível, é necessário que as nossas empresas arrisquem em novos mercados-alvo, pois muitos dos actuais já estão em fase de maturidade ou declíneo. São estes desequilíbrios actuais que levam anos a mudar mas que têm de ser feitos.

 

Imagem da autoria de Sébastien Bertrand, Flickr, Creative Commons.