Serge Weyland (ALFI): “Na Europa, implementámos muitas melhorias a nível de produto, mas o que fizemos para fomentar a sua adoção?”

Serge Weyland. ALFI
Serge Weyland. Créditos: cedida (ALFI)

Os últimos anos têm sido um turbilhão de regulamentação para a indústria da gestão de ativos. Todos os avanços são positivos, reconhece Serge Weyland, mas o diretor-geral da ALFI sente que a prioridade deve ser estimular a poupança das famílias europeias. “Enquanto indústria, tem-se trabalhado muito para melhorar a transparência, estabelecer um quadro ESG e priorizar a eficiência em custos. Todos são melhorias a nível de produto, mas o que temos feito para fomentar a sua adoção?”, questiona.

Para o diretor, a lacuna da riqueza que se tem aberto na Europa é preocupante. “São muitos os cidadãos europeus que não poupam ou que têm o seu dinheiro em depósitos ou contas que oferecem uma escassa rentabilidade a longo prazo”, sublinha. É uma questão que lhe causa frustração, principalmente porque o problema não é o produto, mas sim a acessibilidade. “A maioria da riqueza dos últimos anos tem sido gerada através do investimento em mercados de capitais, e o cidadão comum pode perfeitamente aceder aos mesmos, mas provavelmente não está consciente disso”, lamenta.

Propostas

Neste ano em que o regulador europeu está tão centrado no estabelecimento da união dos mercados de capitais (CMU), Serge Weyland questiona por que não são também incluídas as boas práticas de outros países europeus em termos de poupança. “E temos as alavancas necessárias. Em alguns países, o dinheiro em fundos de pensões é nulo, enquanto noutros, este ultrapassa os 50%. Em vez de nos focarmos no que realmente importa, o debate está centrado apenas em temas secundários, quando o primeiro devia ser a prioridade na agenda da Comissão Europeia, porque está a tornar-se um problema social”, insiste.

Na sua opinião, a Europa deve destacar as melhores práticas e dar foco à criação de um quadro comum para os veículos de investimento. “Devíamos tentar abordar os vieses nacionais na indústria da gestão de ativos. De que serve uma diretiva europeia se, depois, existem produtos que não podem ser comercializados na prática porque o quadro fiscal de um país reduz a sua atratividade?”, questiona. Um claro exemplo disso são os fundos de pensões pan-europeus, que não chegaram a descolar.

Um dos debates que Serge Weyland colocaria em cima da mesa são as medidas obrigatórias. “Os incentivos fiscais ajudam, mas, na prática, não incentivam propriamente a poupança. Menciona inclusive o Luxemburgo, onde a indústria financeira é uma parte importante da força laboral. Temos uma taxa impositiva única para os planos de pensões pilar II (opcionais e suplementares à pensão estatal ou pilar I), mas estes estão subutilizados”, conta.

Pontos-chave do crescimento futuro do Luxemburgo

No início de 2024, Serge Weyland sucedeu a Camille Thommes na direção da Associação da Indústria de Fundos do Luxemburgo (ALFI). Desde que Camille Thommes assumiu o cargo em 2007, o Luxemburgo floresceu como o domicílio de referência para o setor. E, na opinião de Serge Weyland, ainda lhe faltam muitos motores para crescer.

Grande parte do crescimento recente deriva do florescimento dos ativos privados e dos novos veículos através dos quais estes são canalizados. É um avanço que o diretor valoriza com um equilíbrio entre cautela e otimismo. “Partindo do princípio de que a maioria dos aforradores de retalho não deve investir em produtos ilíquidos, há um segmento do mercado com maior património ao qual não se deve fechar a porta se as consequências da liquidez forem explicadas”, afirma. Além disso, como bem relembra, a Europa vai precisar de estimular o investimento para financiar a transição energética, e o capital já não pode depender apenas da banca tradicional. “Os investidores, institucionais e de retalho, terão um papel a desempenhar”, afirma.

Outro dos focos da indústria nos próximos anos será a evolução impulsionada pelas novas tecnologias. Por exemplo, embora ainda não tenha havido muito alarido com isto, a tokenização de fundos já é uma realidade. “Será um grande desafio para a indústria, a forma como dar esse passo para a digitalização”, reconhece Serge Weyland. “Vai implicar inevitavelmente uma mudança para algumas partes da cadeia, como o backoffice, mas também será um impulso para melhorar e continuar a crescer”.