Stephen Yiu (Blue Whale): “O nosso trabalho tem que ver com o research fundamental que fazemos dentro de portas”

Stephen Yiu Blue Whale Alexandre
Stephen Yiu. Créditos: Cedida

Stephen Yiu, conhecido pela sua filosofia de elevada convicção a investir em empresas globais, e no papel de diretor da Blue Whale’s Irish UCITS ICAV, está atualmente a trabalhar com o profissional nacional Alexandre Castro Nunes. Este que é conhecido por vários anos de experiência no mercado nacional, será o responsável por apresentar a Stephen alguns investidores profissionais domésticos.

Numa visita recente a Portugal, Stephen Yiu, sócio gerente e responsável de investimentos da entidade, contou à FundsPeople o posicionamento da gestora, que nasceu em 2016. Nesse ano, a entidade lançou a sua primeira estratégia, de domicílio inglês, que acabaria por não ficar acessível a investidores europeus devido ao Brexit. Um ano mais tarde, a entidade lançava a versão irlandesa da mesma, como revela Stephen Yiu. “A estratégia de domicílio inglês tem cerca de 900 milhões de dólares de ativos geridos, e a europeia é relativamente mais pequena, com 90 milhões”, iniciou.

A verdade é que o percurso de Stephen Yiu sempre esteve ligado à gestão de fundos, exclusivamente. Passou pela Artemis e pelo hedge fund Nevsky Capital, mas foi o convite de um ex-chefe - o fundador da Hargreaves Lansdown - que o fez ter uma mudança de mentalidade e aventurar-se no lançamento da Blue Whale. Em 2016 Stephen Yiu e Peter Hargreaves foram os co-fundadores da entidade, ao leme de uma estratégia de ações globais de elevada convicção, suportada por uma equipa robusta, mas pequena. “Quando começámos a gerir a estratégia estavam já quatro de nós na equipa. Agora somos cinco e estamos a contratar um sexto elemento”, diz. Um esquema em que desde que geriam 25 milhões de libras de ativos, a visão e o número de pessoas envolvidos são os mesmos. “Existia uma visão de longo prazo, e era preciso que a própria equipa começasse a investir na estratégia, para que depois os outros também acreditassem e investissem nela”, enfatiza.

A elevada convicção que têm nas posições que colocam em carteira é basilar. Investem num conjunto de ações que se movimenta entre os 25 e os 35 títulos. Não mais que isso. Em termos próximos, lembra estratégias como o Fundsmith ou o Lindsell Train Global, produtos com os quais diz partilhar “filosofias de investimento” idênticas. Mas o curioso para Stephen Yiu, é que analisando as três carteiras que apresentam uma elevada convicção em 25 empresas, não existe praticamente sobreposição de títulos entre elas. “O overlap com o fundo Fundsmith pode ser de cinco posições e com o Lindsell Train Global de duas posições”, indica.  Embora a convicção de gestão até possa ser a mesma, o gestor acredita que a interpretação e a execução feita pelas equipas é bastante diferente.

Equipa focada nas empresas

Precisamente o número de elementos da equipa é algo que suporta a convicção já referida.  “Querendo gerir uma carteira de elevada convicção com 25 ações, sendo apenas eu a fazê-lo estaria a incorporar muito risco. Um portefólio com este número de títulos precisa de pessoas. Cinco pessoas podem passar muito mais tempo a olhar para essas 25 empresas”, explica. E é isso que fazem: passam tempo com as empresas - quando isso é possível -, olham para os seus concorrentes e, acima de tudo, fazem uma análise muito aprofundada dos relatórios e dados. “O nosso trabalho tem que ver com o research fundamental que fazemos dentro de portas. Enquanto noutras estratégias similares poderá haver alguma lentidão na tomada de certas decisões, no nosso caso conseguimos ser um pouco mais rápidos a tomá-las”, diz.

O processo de investimento é puramente bottom-up. Atualmente, conta o gestor, a exposição que apresentam a empresas norte-americanas é muito maior, com cerca de 60% alocado a esta geografia, perfazendo-se o restante com empresas europeias e asiáticas. Neste ponto fez questão de sublinhar que existe uma diferença entre onde as empresas estão sedeadas e onde fazem efetivamente dinheiro, e isso foi algo que mudou nos últimos cinco anos. “Vemos que historicamente tínhamos menos exposição a EUA ou América do Norte. Quando investimos em Amazon ou Google, tratam-se de empresas globais. Contudo, nos últimos 18 meses, temos feito algumas mudanças, decidindo aumentar a exposição aos Estados Unidos e às economias norte-americanas. Começámos, por exemplo, a investir na Charles Schwab, uma plataforma de investimento nos EUA, que acreditamos que irá beneficiar do aumento de taxas de juro”, exemplificou.

Historicamente, outro dos movimentos que a estratégia da casa executava era o investimento em transformação digital. Tinham grandes posições, conta-nos, em  Amazon, PayPal, Facebook e Google, que acabaram por desfazer ao longo do tempo, mas antes do grande choque nas ações ocorrido no final de janeiro de 2022. Apesar de interrogações como “Vocês são uns génios, saíram mesmo antes do colapso?”, serem normais para Stephen Yiu, este retira misticismo ao movimento. “Visto de fora parece magia, mas foi uma decisão que resultou de semanas de discussão”, confessa.

Atualmente, as 10 maiores posições da estratégia representam 50% da estratégia, e são empresas de grande capitalização nas quais têm uma grande convicção. “Esse posicionamento tem sido muito consistente, e alguns dos nomes já estão em carteira há quatro ou cinco anos”, revela. Nas restantes 15 posições há espaço para o que apelida de “novas ideias”, nas quais vão trabalhando ao longo do tempo. O setor da energia é um dos que tem surgido neste enquadramento, devido às recentes dinâmicas iniciadas pelo conflito entre a Rússia e Ucrânia, e também devido ao cenário geopolítico asiático.