Após os últimos dados divulgados sobre a inflação e o mercado laboral nos EUA, fatores que poderão influenciar a decisão de uma flexibilização na política monetária da Reserva Federal, alguns investidores estão a mudar a sua perspetiva em relação ao próximo movimento da política monetária de Powell.
Um prolongamento de taxas altas terá implicações, como comentam os investidores e os especialistas, no elevado custo de financiamento para os consumidores e para as empresas, inclusive nas hipotecas e no crédito ao consumo, embora também possa ter um impacto significativo na dívida pública devido ao serviço de dívida existente e dar lugar a maiores défices orçamentais.
O que os gestores destacam
A visão sobre os próximos movimentos por parte da Fed variam de casa para casa e de gestor para gestor. Há quem até já comente que há probabilidade, embora baixa, de um aumento de taxas, outros consideram que vai haver cortes em junho e outros preveem não haver cortes em 2024.
“Existe um ditado popular em Wall Street que diz que um dado surpreendentemente anómalo é um erro, dois são uma casualidade, mas três seguidos marcam uma nova tendência”, assinala Phillip Orlando, estratega-chefe de Ações da Federated Hermes. Acrescenta que os trabalhadores da Reserva Federal, “que no mês passado nos asseguraram de que este ano ocorreriam três cortes de taxas, agora estão a voltar atrás agressivamente, e alguns alertam que a sua próxima decisão poderá ser aumentar as taxas”, conclui.
No caso de Chris Iggo, CIO da gestora AXA IM e presidente do AXA IM Investment Institute, aponta que os mercados baixaram as expetativas sobre o que os bancos centrais vão fazer em 2024. Nos EUA, o mercado passou de descontar seis cortes para calcular menos de dois, e no caso do BCE, passou de prever sete movimentos para três. “Não é de estranhar que as yields das obrigações estejam negativas neste momento”, destaca.
Para George Brown, economista sénior dos EUA na Schroders, “é pouco provável que a Reserva Federal reduza as taxas em junho como se esperava, e agora corre o sério risco de não o fazer em 2024. O aumento dos riscos no Médio Oriente acrescenta outro elemento de incerteza”.
Por outro lado, Vicent Chaigneau, responsável de Análise na Generali Investments, faz referência ao facto de os receios de uma aterragem dura terem desaparecido, e o aumento da confiança nas perspetivas económicas futuras está a ajudar os ativos de risco mundiais a avançar. No entanto, “a inflação persistente pode continuar a ser o risco mais significativo. Significaria menos cortes de taxas de juro oficiais, e isso se houver cortes…”.
“Abrandar a inflação ainda é possível, e as taxas não têm necessariamente de baixar a curto prazo”, segundo Jeffrey Cleveland, chefe de Economia da Payden & Rygel. Além disso, considera que a economia americana ainda pode ter margem de manobra, pelo qual “o cenário mais provável é que a Reserva Federal mantenha a sua postura atual durante a maior parte do ano, mas acreditamos que há 15% de probabilidade de não ocorrer uma aterragem dura e de os responsáveis políticos aumentarem mais as taxas se os dados macroeconómicos continuarem a mostrar resistência”.