Pedro Costa Félix da Capital Strategies fala sobre o mercado brasileiro referindo que existe um “claro apetite por soluções de investimento” alternativas às oferecidas no mercado doméstico e refere que a estratégia desta agência de valores “é sempre de longo prazo”.
Como avaliaria o interesse dos investidores brasileiros em activos estrangeiros?
Numa palavra: Crescente.
O mercado brasileiro de investimentos tem um enviesamento histórico muito grande para activos de renda fixa, em particular para instrumentos indexados à taxa de juro (CDIs). O facto de o Brasil ser ao nível mundial uma das economias, ainda, com a taxa de juro mais elevada, tendo até recentemente registado valores de dois dígitos, acaba por distorcer o funcionamento do mercado de capitais doméstico. Se por um lado o aforrador/investidor não tem incentivo para alocar a activos de maior risco, por outro, quem procura financiamento tende a pagar em demasia. Como consequência há uma grande oferta de soluções de investimento mas (quase) todas giram à volta do mesmo indicador, o CDI.
Com a tendência generalizada de descida da Selic últimos tempos, temos assistido ao crescimento da demanda por soluções alternativas de investimento por parte dos vários tipos de investidores, desde fundações, até à pessoa física, passando naturalmente pela banca privada. Por conseguinte, sentimos um claro apetite por soluções de investimento complementares ao que é oferecido actualmente pelo mercado doméstico de investimento.
Qual é a sua estratégia no curto prazo no Brasil? E no longo prazo?
A estratégia da Capital Strategies é sempre de longo prazo. Este é claramente um dos fatores diferenciadores da nossa abordagem. Procuramos conhecer intimamente cada um dos mercados em que estamos presentes, sendo fulcral para o nosso sucesso o planeamento estratégico de longo prazo. Como tal, e de uma forma resumida, acreditamos que o mercado brasileiro tem pela sua frente, e apesar da sua presente dimensão, uma grande caminhada para se tornar numa das maiores pools de activos ao nível mundial, disputando a liderança com os Estados Unidos ou a Europa.
Estamos a trabalhar em parceria com os players locais para em conjunto conseguirmos encontrar as soluções de investimento mais adequadas para os diversos tipos de investidores brasileiros. Temos a convicção que, à semelhança de uma Europa ou Estados Unidos, o perfil de alocação de activos no futuro próximo será muito mais internacional.
Estão considerando a criação dum fundo local?
Sim. A criação de um fundo local, em parceria com players brasileiros, é um dos vectores chave na nossa estratégia de atuação no mercado.
Depois de uma análise detalhada do mercado brasileiro, identificamos que há uma clara demanda por estratégias de investimento que consigam complementar os objectivos de retorno locais. Dentro um de leque relativamente alargado de opções, estamos actualmente a finalizar o projecto de criação de um fundo multimercado que permita ao investidor brasileiro aceder ao mercado de debentures americano. A nossa opção por esta estratégia deve-se essencialmente a dois factores: a excelente relação do binómio risco/retorno da classe nos estados unidos e, por outro lado, a escassez da oferta deste tipo de instrumentos no mercado nacional. Estamos muito otimistas!
Como é que recebem os investidores brasileiros o modelo de Capital Strategies?
Sinto que somos muito bem recebidos!
Com um histórico de 12 anos, mais de USD2.5bn de recursos e trabalhando atualmente em catorze mercados entre a Europa e a América Latina, a Capital Strategies traz consigo uma enorme bagagem de conhecimento e uma experiencia invejável no relacionamento com os nossos clientes. Isso é uma aportação de valor amplamente reconhecida no mercado.
Por outro lado, e de uma forma pragmática, a Capital Strategies tem à sua disposição todo o espectro de classes de activos, desde money market até private equity. Assente num modelo multi-boutique multi-activo, procuramos ter as soluções de investimento mais adequadas para todas as fases do ciclo económico, identificando os melhores especialistas ao nível mundial para cada uma das estratégias de investimento com que trabalhamos. A nossa abordagem de complementaridade procura agregar valor aquilo que de melhor se faz nos mercados em que estamos presentes. No Brasil, isso significa trabalhar com os nossos parceiros locais com o objectivo de encontrar novas alternativas de diversificação e retorno face aos instrumentos do mercado doméstico. Este é o segredo por detrás do sucesso sentido até agora no nosso negócio!
Quais são as principais barreiras do mercado brasileiro?
Se o mercado brasileiro é já hoje o sexto maior mercado de fundos de investimento ao nível mundial, acreditamos que tem pela sua frente um grande futuro. E, conforme mencionei anteriormente, o mercado brasileiro tem o potencial para disputar a liderança com mercados como o da Europa ou o dos Estados Unidos. No entanto, se atendermos às características destes dois mercados rapidamente percebemos as diferenças face ao mercado brasileiro. O mercado europeu e o americano têm na sua composição um leque de produtos e de classes de activos amplamente diversificados quer por geografia quer por tipo de risco, o que contrasta grandemente com o enviesamento para instrumentos de renda fixa e um enfoque excessivo em produtos domésticos do mercado brasileiro. No meu entender, estas diferenças são precisamente as principais barreiras ao potencial de desenvolvimento do mercado brasileiro.
Como afecta ao seu negócio a estratégia do Governo de baixar a taxa Selic? Porquê?
A Selic atingiu agora o seu patamar mais baixo de sempre. E a previsão da maioria dos economistas aponta para que haja uma continuidade desta política de abaixamento da Selic por parte do banco central. São várias as razões que suportam esta política, nomeadamente o claro abrandamento do ritmo de crescimento da economia brasileira e uma indicação do governo implantar uma política monetária com base numa taxa de juro estruturalmente mais reduzida. Olhando para a frente, este é um cenário positivo para o mercado brasileiro pois irá reduzir a dependência do investidor por produtos indexados ao CDI. Com esta alteração o investidor vai se sentir obrigado a sair da sua zona de conforto e procurar alternativas de investimento que lhe permitam atingir níveis de retorno apropriados aos seus objectivos.
Este aumento da demanda por activos de maior risco resulta por conseguinte numa maior necessidade de diversificação da composição da carteira de investimentos de qualquer investidor. E é precisamente aqui que soluções de investimentos como as que a Capital Strategies representa desempenham um papel preponderante na busca por politicas de investimento diversificadoras do risco. Acreditamos que este é um primeiro passo na internacionalização do mercado brasileiro de investimentos e no respectivo desenvolvimento (e crescimento) dos seus interveniente.