Thorsten Winkelmann (Allianz GI): “O ciclo está morto”

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Thorsten Winkelmann é o gestor do Allianz Europe Equity Growth, um produto de ações. Economista de profissão, Winkelmann reconhece que na sua carreira pouco lhe serviu o seu trabalho como gestor. “A lição mais importante que daí extraiu foi que prever a evolução da economia é impossível. É algo que nem se pode, nem se deve fazer. Simplesmente serve para explicar o passado, não para prever o futuro”, afirma.

Isto não significa que tenha a sua própria visão. A seu ver, “o ciclo está morto. Não há ciclo. Está muito condicionado pelos bancos centrais. É uma loucura”, lamenta. Mas isso não é algo que afete o seu processo já que, tal como sublinha, “a macro não desempenha nenhum papel em como construímos ou gerimos a carteira. O nosso processo baseia-se no stock picking”.

Winkelmann não é um gestor que goste de rótulos. Não acredita na diferenciação entre growth e value. “Quer se chame de uma forma ou de outra, o importante é o processo que seguimos no momento de investir. Isso é o que marcará a rentabilidade do teu fundo. Um gestor necessita aderir a um estilo que lhe permita ter bons resultados em qualquer contexto de mercado e muitas vezes as etiquetas não expressam a sua filosofa. Quando procuramos no Google o que é value investing, aparece o Warren Buffett, mas ele não é um investidor value. Presta atenção ao preço, mas procura crescimento. De igual forma, quando se pensa em growth, imediatamente se associa a valorizações elevadas, mas isso não é o eu faço”, explica.

O que o gestor procura para a carteira do Allianz Europe Equity Growth, um fundo com Selo Funds People em 2020, com as classificações de Favorito dos Analistas e Blockbuster, são empresas de qualidade onde encontra visibilidade suficiente para poder augurar um crescimento sustentado dos lucros a longo prazo, entendendo como longo prazo períodos compreendidos entre os cinco e os 10 anos. “Se perguntarmos a um investidor o que é a qualidade ele vai falar de barreiras à entrada, marcas reconhecidas... eu traduzo qualidade como visibilidade”.

Winkelmann explica que, nos mercados, ninguém pode caminhar sobre água. “O futuro é incerto, mas podemos dar ênfase a como operam as empresas, como estão posicionadas, entender como geram os seus lucros, em que áreas de negócios estão a investir, falar com a terceira linha da sua equipa diretiva... Isso traz-nos muita informação e detalhes sobre o futuro da empresa, o que unido ao efeito do juro composto, permite-nos criar uma carteira de valores com um grande potencial de subida. Isto só se consegue sendo paciente, já que o compounding a longo prazo só funciona quando se mantém a empresa durante muito tempo”.

A este respeito, a rotação da carteira é muito baixa, situando-se em torno de 15%. Alguns dos valores que temos em carteira estão cá há mais de uma década. “Não vender um valor também é uma decisão de gestão ativa”.

Para cada posição em carteira, gera implicitamente um preço objetivo, mas esta também não é uma regra que goste de seguir especialmente à risca. “Não se trata de discutir na equipa se o preço objetivo de uma ação deve ser 5,90 ou 6,10 euros. Esta não é a questão. Também não é se devemos sob ou subponderar um valor em carteira. O verdadeiramente relevante é determinar, por um lado, qual é o teu nível de convicção e, por outro, analisar o seu potencial. Se fizermos isso vai tornar-se muito fácil fazer um ranking em função do peso que deve ter cada valor em carteira. Quando perguntamos a um gestor qual será a carteira que construiria se lhe déssemos agora mesmo um milhão de euros, a resposta correta a essa pergunta deveria ser uma carteira como a que tem atualmente”.

Esta estratégia baseada na convicção e o percurso ascendente que pressupõem um valor, também lhe permite tomar decisões de investimento mais rapidamente e de forma muito mais eficaz, sabendo exatamente em que holdings deverão aumentar posições quando acontecem correções de mercados severas. Essa foi a chave para o sucesso da boa rentabilidade gerada pelo fundo em 2019, ano em que ganhou 34,4% (classe CT em euros).

Para explicar melhor a sua estratégia dá um exemplo. “Imaginemos uma empresa cujas ações sobem 20% na bolsa, mas que não viu os seus fundamentais variar, nem as suas perspetivas. Simplesmente, o seu preço no mercado aumentou. Quando isto acontece, o melhor que se pode fazer é reduzir a exposição ao valor, recolher esse dinheiro e investi-lo noutra empresa na qual tenhamos convicção e vejas potencial de crescimento”.

O mercado de ações no qual negoceiam empresas é um aspeto que não tem relevância no seu processo. “O lugar onde a empresa tem o seu domicílio não me diz nada de como opera, de onde o faz, de onde vêm os seus lucros... As empresas europeus geram entre 38% e o 39% das suas receitas na Europa, 32% na América do Norte e o resto na Ásia e nos mercados emergentes. A exposição da nossa carteira neste sentido é muito semelhante, com uma ligeira subponderação de 1% na Europa e sobreposição de 1% nos Estados Unidos e Canadá. Este dado é mais relevantes que o domicílio fiscal”.

As razões pelas quais vende uma empresa podem ser diversas. Pode ser porque a convicção no valor já não é a mesma ou porque a avaliação mudou. “Ainda que como gestor do fundo tenha a última palavra, o importante é que os movimentos da carteira se baseiem nas decisões da equipa, resultado de amplos consensos. Neste sentido, conto com profissionais muito capacitados para gerar ideias, com plena liberdade para procurar onde quiserem e para dizer o que pensam. Asseguro que crio um contexto propício no qual podemos partilhar essa informação. Fujo das reuniões formais. Prefiro debater ideias em torno de um pequeno-almoço ou almoço. As ideias fluem de forma muito mais distendida. É algo que comecei a fazer ultimamente”.

É a receita do gestor do Allianz Europe Equity Growth, um fundo que nos últimos 10 anos gerou uma rentabilidade anualizada líquida de 9,8%, ultrapassando em 1,03 pontos a média da sua categoria e em 0,92 o índice de referência.